Capítulo 2

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1828, Londres.

Caroline corria por entre as casas do cortiço que morava com sua mãe na periferia de Londres. Precisava chegar em casa antes que ela sentisse  sua falta. Trombou sem querer em uma senhora que carregava uma cesta e apenas gritou um pedido de desculpas, se sua mãe visse, com toda certeza diria que não foi digno de uma dama, mas quem se importava com isso naquele lugar. Ali só queria  tentar dar uma vida mais digna a sua mãe, os anos não foram nada gentis com ela.

Infelizmente precisava fazer coisas escondidas dela, pois simplesmente não entenderia. Amélia Willians, sua mãe amada, lavava e passava roupas para fora, e apesar de ter tido uma boa educação e ensinado tudo a ela, bom pelo menos tentado, pensou Carol, como tocar piano, falar latim e francês, cantar, bordar e todas as coisas que aquelas ladys da sociedade, porém, mesmo com tantas qualidades, não conseguira um emprego descente ou por ser bonita demais ou por ter uma filha pequena para criar. 

Ela ficou viúva jovem demais, e sempre que questionada sobre a origem das suas habilidades mudava de assunto e dizia ter sorte em saber tais coisas, assim como quando tentava saber mais sobre seu pai, que segundo ela morrera num incêndio quando Carol ainda era um bebê.

Se aproximou de casa muito ofegante, por isso respirou fundo antes de entrar. Abriu a porta levemente para que as velhas dobradiças não fizessem muito barulho. Nas pontas dos pés, chegou ao seu quarto e se deitou rapidamente embaixo das cobertas, tirando os travesseiros que disfarçavam sua presença na cama.

Respirou profundamente de alivio e sorriu ao pegar o dinheiro que ganhara naquela noite. Seria o suficiente para passar a semana sem apertos, já que a mãe  adoecera dos pulmões e não podia continuar com seu trabalho de lavadeira e Carol estava fazendo todo o trabalho sozinha.

Lembrou-se de seu novo trabalho e suspirou ao pensar no quanto sua mãe reprovaria tal atividade.

Madame Benett era dona do bordel mais requintado de Londres. Quando ela e sua mãe chegaram na cidade a cerca de 10 anos atrás, passaram por muitas dificuldades. Dormiram em becos, rezando para que conseguissem sobreviver mais uma noite fria. Em uma noite de desespero, quando a filha chorava de fome em seus braços, Amélia foi procurar trabalho no bordel Sun and Moon, precisa fazer algo, pois já havia tentado de todas as formas conseguir um trabalho honesto e fracassado.

Porém Madame Benett se afeiçoou por aquela jovem que tentava cuidar da filha a todo custo.

- Serei uma tola por desperdiçar esse rostinho bonito querida, mas no momento preciso mais é de uma lavadeira. Você sabe fazer isso? Minha lavadeira partiu de Londres para cuidar da irmã doente.

Amélia começou a chorar e a concordar com a cabeça freneticamente. Combinaram os detalhes e Madame Benett lhe adiantou o pagamento da semana para que pudesse se acomodar e providenciar os materiais necessários, e pela primeira vez em anos, Amélia sentiu a vida lhe dando um sorriso.

As vezes Carol acompanhava a mãe quando a vizinha Jane não podia ficar com ela. Gostava bastante de todas as garotas que trabalhavam por lá, pois sempre lhe davam algum doce ou enfeites de cabelo.

Nas últimas vezes Carol, a contra gosto de Amélia, assumira seu lugar, já que a mesma estava doente.

Naquela tarde, ao se despedir da Senhora Talbot, que cuidava da organização do bordel, impecavelmente por sinal, com se fosse uma casa da aristocracia, foi abordada por Madame Benett, que como de costume, usava apenas um robe de seda vermelho, com os cabelos brancos soltos caindo até na cintura fina e segurando um cigarro entre os dedos. Ela parecia bastante preocupada, mas isso não era novidade.

- Carol querida, como está sua mãe?

- Está melhor madame, logo logo estara nova em folha.

- Que bom, que bom, fico feliz em ouvir isso. Mas preciso de sua ajuda criança, disse Madame a puxando pelo braço e a levando pelos corredores elegantes das alas dos quartos. Estou com um problema enorme, uma das minhas camareiras se demitiu. Vai se casar e o noivo não aceita o emprego e daqui a três noites teremos uma recepção importante, com vários lordes, por isso preciso que substitua minha funcionária nesta semana.

- Madame, não sei se minha mãe concordaria.

- Pago muito bem minha querida, você trabalharia por uma semana e ganharia a mesma quantia que sua mãe ganha em três meses.

Carol ficou chocada, esse dinheiro ajudaria muito em sua casa e principalmente, poderia dar um pouco de conforto a sua mãe.

- Mas se você não quiser... Disse Madame lhe dando as costas.

- Não, disse Carol a tocando no braço, eu aceito senhora.

- Maravilha, preciso de pessoas que confio. Venha, vou lhe explicar toda a rotina e como tudo deve ser feito.

Uma Lady e nada mais - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora