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- Kile.
  Ele ri por trás da porta e continua.
- Isso mesmo princesa.
  Bufo. Saiu da banheira decepcionada por meu momento de relaxamento ter sido interrompido.
- O que você quer aqui? - Pergunto enquanto vestia meu roupão.
- O mesmo de sempre, conversar.
  Abro a porta, ele me olha devagar, parecia estar gravando em sua mente cada parte desta visão para poder se lembrar depois. Ele para seu olhar em meu rosto, ficamos uns segundos apenas nos encarando, até que ele abriu o seu sorriso de canto.
  Bufei. Passei por ele e parei em minha cama para pegar minha camisola.
- Eu acho que a esta altura você já deveria saber que conversar com você não é um dos meus passatempos prediletos - Eu digo.
- A esta altura você já deve ter percebido que você é um dos meus passatempos prediletos - Ele diz.
  Ingulo em seco. Depois de todos esses anos ainda não havia me acostumado com o seu jeito de galã convencido.
  Volto ao banheiro para vestir minha camisola, fecho a porta atrás de mim deixando apenas uma parte aberta para que possamos conversar.
- Sobre o que você quer conversar dessa vez?.
- Seus país.
- Meus país? - Pergunto confusa.
  Visto a última peça de minha camisola e volto ao quarto.
- Reparei em como você fica chateada quando eles tocam no assunto "casamento" - Ele diz, fazendo aspas com os dedos.
- Se for para governar, quero governar sozinha - Digo.
  Ele sorri e olha para o chão.
- Admiro isso em você.
  Levanto uma das sobrancelhas, era muitos elogios para Kile, talvez ele tivesse bebido demais.
- É sério, Eady.
  Reviro os olhos e me deito na cama.
- Quem me deu esse apelido foi Aspen, não sei porquê as pessoas se acham no direito de me chamar assim também - Digo calmamente, porém sempre com o intuito de provocar.
  Ele assente, como de tivesse se ofendido mas ainda assim não queria começar uma briga.
  Kile observa meu quarto, como ele fazia toda vez que vinha aqui, ele olhava a mesmas coisas, sempre ria de uma foto minha com nove anos com um sorriso enorme para a câmera do meu pai, em uma mão eu segurava o dente que havia caído e em outra mão eu fazia um "jóia".
  Eu sempre ficava feliz quando um dente caia, quando eu era criança a Tia May me contava várias histórias de como as fadas dos dentes entravam em nosso quarto de fininho para pegar nosso dentes de baixo do travesseiro. Eu sempre ficava acordada o máximo possível para tentar ver a tal fada, nunca conseguia, sempre pegava no sono e acordava com um punhado de doces no lugar do dente de leite.
  Sorri ao lembrar do passado.
- Você um dia vai me contar as histórias por trás dessas fotos? - Ele perguntou enquanto observava outras fotos que estavam grudadas em um mural ao lado da porta.
  Levantei da cama e fui até ele.
- Não pretendo, mas não mude de assunto - Eu disse, cotuquei seu ombro para que ele continuasse a conversa inicial, sem sucesso, ele me ignorou - Ande, o que tem meus país?  
  Sem olhar para mim ele respondeu.
- Eles não acreditam que você possa governar illéa sozinha.
  Fiz uma careta.
- Não acho que isso seja verdade, acho que eles apenas querem seguir a lei, ao menos essa.
   Ele suspira e se vira para mim.
- Por favor Eadlyn, eles baniram as castas e quando você nasceu o rei também baniu a lei em que proibia que a herdeira ao trono fosse mulher - Ele disse um pouco rápido demais - Eles passaram por cima de todas essas leis, qual o sentido de banir umas e outras não?.
- Meus país baniram a lei dos herdeiros só para que eu pudesse assumir, qual o sentido de depois de tudo isso eles não me acharem capaz?
   Ele segurou os meus ombros.
- Eu caso com você - Ele disse simplesmente.
- O que?
- Eu caso com você Eadlyn, se você quiser.
   Fiquei o encarando atônita. Não esperava isso dele, quer dizer, claro que não esperava, ele sempre foi confuso demais para o meu gosto, sempre me jogava cantadas e sorrisos maliciosos mas sempre aparecia nas revista agarrado com alguma celebridade local, sempre pensei que ele só queria um caso comigo, mas aquilo?.
- Pense - Ele me disse.
   Tentei me livrar do braço dele mas não consegui.
- Não tenho no que pensar Kile, você está louco?
  Ele desceu suas mãos para minha cintura e me puxou mais mais perto.
- Não estou louco, estou raciocinando.
- Não vou me casar com você Kile, o que tem nessa sua cabeça?.
  Ele me puxa para mais perto fazendo com que fiquemos poucos centímetros de distância. Consigo sentir sua respiração perfeitamente, nunca pensei que não odiaria aquilo.
- Nós dois sairíamos ganhando - Ele disse baixinho, como se tentasse soar provocante - Nossos país adorariam a idéia e iria apoiar a nossa união, você não precisaria de casar com um príncipe qualquer apenas para formar alianças, e eu, bom eu seria seu rostinho bonito.
  Não consegui responder nada, não estava acostumada com tamanha proximidade da parte dele.
- Você governaria sozinha, odeio tudo que tenha haver com governo, apenas vou aproveitar ao máximo os mimos de ser um rei, e pretendo passar mais tempo fazendo perguntas que te deixam irritada - Ele disse e sorriu.
  Nunca tinha reparado em como o sorriso dele é encantador, com certeza puxou de sua mãe, seus lábios eram carnudos mas não muito, no ponto certo, eram de um rosa escuro, um rosa perfeito, que combinava com sua pele clara. Parece que fiquei tempo demais olhando para os lábios dele, pois ele abriu ainda mais o sorriso.
- Você quer me beijar? - Ele perguntou ao pé de meu ouvido fazendo com que meus pelos arrepiasse por inteiro.
  Não respondi, estava durmindo acordada, e ele aproveitou, puxou minha nuca com cuidado até que nossas bocas se tocassem.
  Passei a mão por entre seus cabelos loiros e seus ombros, nunca pensei que Kile Woodwork beijaria tão bem.
  Foi então que caiu a ficha, sorri aí meio do beijo, mas não um sorriso qualquer, era um sorriso de desgosto, me afastei o bastante para podermos conversar.
- Você achou que iria dar certo? - Perguntei.
- Não entendi, Eady.
  Ri irônica.
- Você quer ser uma celebridade apenas.
  Ele olhou para o teto, parecia pensar.
- Não exatamente, estou entusiasmado com os lucros de ser um rei - Ele disse - As comidas todos os dias e a hora que eu quiser, as roupas, viagens, tudo ao meu dispor.
  Me separei dele por completo e comecei a andar em círculos pelo quarto.
- Uma vez você ficou com Tina Thurber apenas para aparecer na primeira página da revista de Illéa.
  Kile deu de ombros.
- Isso não é totalmente verdade, gosto de aparecer nas revistar sim, mas gostei de ter ficado com Tina, adoro mulheres mais velhas - Ele exibiu um sorriso malicioso e piscou para mim.
  Fechei o punho de raiva e olhei bem para ele.
- Você quer se casar comigo apenas para ser uma celebridade local, rico e outras coisas - Eu acusei - Tentou me convencer de que meu plano de governar sem um marido não iria dar certo ainda por cima.
  Ele fez uma careta.
- Não é nada disso Eady, eu só...
- E ainda tenta me jogar contra os meus país, você é um completo babaca - Eu disse.
  Ele me olhou com cara de tédio.
- Saia do meu quarto, agora.
  Ele abriu a boca para falar alguma coisa, mas eu fui mais rápida, gritei:
- Agora.
  Ele me encarou por um tempo e depois saiu, me deixando sozinha com o vazio de meu quarto.

  O dia seguinte estava monótono demais, tomamos café da manhã e  passei o resto do dia no salão das mulheres com a minha mãe, não que eu tivesse notado muito a presença dela, ela sempre quebrava a cabeça com os documentos que tinha que assinar e festa para planejar. Enquanto eu, sempre ficava jogada no sofá lendo uma revista ou vendo TV.
  Ouvi minha mãe rir de longe, virei o rosto para ver o que era. Ela me olhava com o rosto apoiado sobre as mãos.
- Você me lembra uma antiga amiga minha - Ela me disse sorrindo.
  Sorri.
- Quem?
- O nome dela era Celeste.
- Não são mais amigas?.
  Minha mãe sorriu e voltou a olhar prós documentos.
- Prefiro pensar que ainda somos, apesar de tudo.
  Levantei uma das sobrancelhas confusa, minha mãe nunca contava a história completa, se você quisesse saber teria que ficar perguntando, eu não estava com paciência para aquilo, então só voltei os olhos pra TV.
  Não que eu estivesse assistindo, minha mente estava em Kile, por mais que eu tentasse não pensar nele, era inevitável, por um momento cogitei em aceitar sua proposta, mas ela era muito louca para ser real.
  Voltei a olhar para minha mãe, queria tanto que ela se abrisse mais comigo, que ela me contasse mais sobre seus amores antigos e a caminhada dela com meu pai até que chegassem ao casamento. Com certeza isso iria me ajudar em alguma coisa.
  Suspirei e fechei os olhos, estava cogitando a ideia de ir mais cedo para a cama hoje.
  E assim foi o resto da tarde. Monótona e sem graça, como sempre.

A Herdeira (adaptação)Onde histórias criam vida. Descubra agora