Estava escondida em meu quarto havia dois dias, não queria correr o risco de encontar Kile em uma das saletas do palácio, e também tinha medo de conversar com meus pais e perceber que Kile tinha razão esse tempo todo.
Consegui convencer a Sra. Lillit a me dar as aulas de francês no meu quarto ao envez da biblioteca.
Meu plano de exclusão estava dando certo até que meu pai bate a porta.
- Venha, temos uma reunião do concelho - ele diz.
- Porquê eu iria a uma reunião do concelho?
- Você é a futura rainha, tem que aprender.
E lá estava eu, Eadlyn Schreave na minha primeira reunião com o concelho.[...]
Meus ombros pesavam depois de horas de reunião com os concelheiros reais, tanto esforço, tanto empenho e empolgação para no final nenhum dos velhos ranzinzas ao menos olharem para mim.
A reunião era para decidir cortes de custos para que não entrassem em dívida com os fornecedores denovo, ano passado o país passou por um aperto no inverno e meu pai não queria passar por isso novamente.
Em toda a minha vida de princesa, encontros comerciais e aulas e mais aulas de como se portar, eu nunca havia me sentido tão deslocada e entediada como hoje.
Era oficial, eu odiava tudo o que a vida de rainha iria me proporcionar no futuro. Assim que eu completasse 18 anos essa seria minha vida, reuniões tediosas as quais eu deveria dar o devido valor, até porquê isso não era sobre mim e como eu odeio tudo isso, era sobre um país e milhares de pessoas que iriam sofrer caso eu cometesse um mísero erro.
Eu sei bem como meu pai ficou mal no inverno passado quando metade do país passava fome, não queria ter que passar por isso, não aguentaria.
- Eu prometo pra você que apesar dessas pequenas partes burocráticas, tem outras coisas que vão te fazer perceber que ser rainha não é tão ruim - meu pai disse enquanto saíamos da sala de reuniões.
Ele apertou meu ombro como sempre fazia quando tentava me convencer a aceitar meu destino.
- Bom, até agora nada me fez ver o lado bom - digo - pensava que eu não gostava de falar em público e de ter que puxar o saco de todo mundo nas inúmeras festas.
Faço uma pausa e olho para meu pai. O mesmo escutava atentamente porém não me encarava, as vezes sentia que meu pai me entendia só que estava em conflito com o que achava que fosse melhor para mim e o que seria melhor para o povo.
- Eu então passei a pensar que me daria melhor em reuniões e decisões políticas, ensaiei debates e possíveis respostas cortantes porém sem faltar com respeito para usar com algum conselheiro que não me levasse a sério - respiro fundo e paro no meio do corredor - mas o que aconteceu hoje acabou por quebrar todas as minha expectativas, nada me atrai, não sirvo para isso pai, e isso não é capricho meu!
Ele não me olhava nos olhos, encarava o fim do corredor como se quisessem fingir que nada daquilo estava realmente saindo da minha boca.
- Olha pra mim, pai - implorei.
Ele tinha que começar a enxergar a realidade, eu não era a melhor opção para esse país, eu seria a ruína dele.
Meu pai, fechou os olhos e por alguns minutos pareceu ensaiar mentalmente o que dizer. Por fim, disse:
- Entendo você, querida.
Sorri. Na realidade todos pensam que por ser da realeza nossa palavra não é contestada, tudo é dito como verdade assim que sai da nossa boca. Só que na verdade tudo o que dizemos e fazemos será contestado, e a prova disso era a satisfação que senti quando meu pai disse "te entendo", era doce e reconfortante. Eu nem sabia que ansiava por essas palavras até elas serem realmente ditas.
- Se você diz que não é capaz de governar, vou levar em consideração, isso é uma coisa séria Eady - ele diz, e eu afirmo com a cabeça com empolgação - vou conversar com os concelheiros sobre isso, mas acho que a solução mais óbvia e eficaz seria você se casar com alguém que assuma as obrigações no seu lugar.
Aquilo me doeu como um soco doeria. Ouvir aquilo tinha tirado qualquer esperança que eu tinha de um dia eu ter o controle da minha vida.
Afinal de contas Kile estava certo, o problema aqui não era o que eu pensava.
- Ele estava certo - pensei alto.
- Não entendi.
- Esse tempo todo vocês nunca botaram fé em mim, por isso ficam insistindo em casamento.
- Desculpa, querida - ele diz - mas você mesma disse que não era capaz, esses anos todos você vinha tentando nos convencer de que não merecia a coroa, não era isso que queria?
Nem percebi quando comecei a chorar, só me dei conta quando tentei falar e minha voz falhou e minha garganta ardeu.
Visto que eu não conseguiria falar e muito menos teria capacidade de formular alguma frase que expressasse o quanto aquilo era errado, decidi sair correndo pro meu quarto.
Ficaria lá até realmente precisar sair.
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A Herdeira (adaptação)
FanfictionE se Eadlyn Schreave tivesse uma outra história? E se sua seleção não fosse tão sua assim? Vamos dar uma nova história, uma versão melhor da história.