Azul é cor de céu

01 - Jae

Abri os olhos naquela manhã. Eu deveria estar na sede da empresa numa reunião importante com acionistas mas acabei por adiar a comparecer em eventos como esse mais uma vez. Deixei tudo por conta do meu tio, vice-presidente.

" Que horas são?

Ah, não importa.

O tempo deixou de significar algo pra mim desde que eles se foram."

Pensei enquanto procurava um motivo para sair da cama.

EunJin diz que Deus não deixa que sejamos provados além das nossas forças.

Não sei em que livro de auto-ajuda ela encontrou isso mas está completamente fora da minha realidade.

Observei os raios de sol lutando para entrar pela fresta da cortina, se esgueirando como se batessem à porta para entrar.

imaginei se deveria abrir a janela.

Talvez a claridade instantânea machuque minhas vistas.

Não sei como reagir se o dia estiver alegre lá fora sendo que para mim a vida se tornou um grande enfado.

Eu deveria abrir?

A fresta de luz continuava tentando.

Batendo?

Eu me sentei na cama e os pés tocaram o chão.

A luz permanecia lutando.

Me levantei.

Um passo.

Outro passo.

Cada centímetro até a janela me pareceu uma eternidade e absolutamente exaustivo.

Eu queria voltar para a cama...

Mas já estou tão perto...

Afinal o que estou fazendo?  

Por quê estou indo abrir essa maldita janela se tudo o que eu queria era ficar deitado no escuro para sempre?

O que estou fazendo parado aqui?

Por quê eu levantei da cama?

Isso é ridículo.

Ok, eu já estou aqui mesmo. Não vou morrer se eu tomar um pouco de ar fresco no rosto.

Que irônico,

Tudo o que eu queria era morrer ontem.

Um grande debate dentro de mim silenciou quando eu abri a janela e deixei as cortinas se afastarem.

Demorou um pouco para eu me acostumar com a luz mas logo eu pude abrir os olhos.

O jardim.

A primeira coisa que eu vi foi o jardim.

Minha mãe costumava fazer pique-nique com a família depois da igreja no domingo.

Era como se eu visse lembranças da minha infância.

Heeyeon com os cabelos longos e pretos. Minha mãe trançava os cabelos dela e meu pai levava outra bronca por me carregar nas costas. Primeiro que ele se sujava todo, segundo que lhe dava dor nas costas mas ele nunca negava.

"Meus filhos são bênçãos de Deus. Eles não serão crianças para sempre, vai chegar um dia que não vou suportar Hyungjae nas costas." 

Ele ria, ela meneava a cabeça e ria também.

A lembrança foi embora e só sobrou o jardim vazio e descuidado num dia nublado em Seul.