Prólogo

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Não era como se eu não me cansasse daqueles olhos amendoados que ficavam ainda mais fechadinhos quando ele sorria de verdade, daqueles sorrisos que rasgam o rosto de fora a fora e parece que o rosto não será capaz de sustentá-lo, eu o amo e isso é verdade, mas naquele momento eu precisava ser egoísta. Temos 18 anos, namoramos por cinco, nos conhecemos desde os 7 e planejávamos nos casar aos 28. Isso daria 12 anos de namoro, parecia tempo o suficiente para se conhecer as manias de alguém, saber os costumes do dia a dia, saber quando a pessoa quer uma pizza doce ao invés de uma salgada, ou quando quer as duas, na verdade, já sabíamos tudo isso, sabíamos de tudo um sobre o outro, mas só não sabíamos que eu passaria no teste, que me aceitariam na Universidade de Música e Dança do Sul e que isso iria nos separar.

Respirei fundo, o mais fundo que eu conseguia, esgotando a capacidade de armazenamento dos meus pulmões. Me preparei para falar...

- Precisamos terminar – eu parei, calma, o quê? Eu já tinha informado o que queria dizer? Não, aquela não era a minha voz, calma.

- O quê?

- Eu... – ele me olhou, ele não sorria, dessa vez ele não sorria – Lembra a Faculdade para a qual encaminhei meu vídeo? – confirmei, fazia tanto tempo, achei que era impossível...

- Eles deram resposta? – por que era difícil de acreditar nisso? Ele era bom. – ChanChan, eles te aceitaram? – coloquei mais empolgação em minha voz, até me esqueci da razão de eu estar ali.

Ele confirmou meio tímido, eu o abracei e enchi de beijos.

- Isso é fantástico! – eu pulava alegre por ele – Vamos pedir pizza, salgada e doce – falei enumerando – E eu vou fazer brigadeiro para cobertura de tudo. ChanChan, isso é ótimo! Vai poder realizar seu sonho – ele sorriu para mim, mas era um sorriso contido.

- Eu não queria ter de me afastar de você – eu parei de pular e me aproximei dele, o fiz me olhar.

- Siga seu sonho e não deixe que nada, nada mesmo, te pare. Eu quero ver pôster seu por todos os lados e poder dizer que eu fui a mulher que te pediu em namoro e a quem você prometeu que casaria – ele riu, estava mais solto agora – Mostre para o mundo quem você é.

Ele confirmou e me abraçou.


˜2 meses depois˜

Levantei com a batida da porta, eu encarei, minha colega voltou e se desculpou. Escondi a cabeça debaixo do cobertor antes de levantar num pulo e me trocar o mais rápido que eu conseguia. Peguei o case do meu saxofone e corri para a cerimônia de boas-vindas.

Meu cronograma de aulas estava em minhas mãos junto ao mapa da universidade, eu já tinha lido e relido e decorado as salas, mas precisava ter certeza de que tudo daria certo.

O auditório onde ocorreria a cerimônia ficava ao centro, era onde ocorriam as apresentações de música, era como um teatro e um estádio de futebol. Um palco ao centro cercado por poltronas em 180 graus. Meu coração estava acelerado. Sentei no lugar do meu número no convite e esperei, esperei e esperei.

A cerimônia começou na hora exata. De um lado uma menina balançava a perna ansiosa, roía as unhas e parecia batucar alguma música. Do outro lado, ninguém, quem quer que fosse o dono daquele lugar, estava atrasado.

O diretor começou a falar, contou a história da universidade. Contou a sua história de luta, contou sobre alguns professores de renome conhecidos internacionalmente. Contou sobre os "segredos" que todos conheciam. E sobre como aquela Universidade era prestigiada e reconhecida pelo mundo. Eles valorizavam a integração cultural.

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