Lua🌙
Dois dias.
Sem água e sem comida.
Eu ainda chorava, gritava, pedia pra ir embora. Mas nada mudava, e eu sabia que não ia mudar.
Minha cabeça doía muito, meu corpo estava todo dolorido.
O que eles chamam de cama, e dizem que da pra dormir, é um colchão de solteiro, velho e muito fedido.
Que eu tenho que dividir com o Guilherme, que não diz nada desde que chegou aqui.
É como se ele estivesse paralisado, não sei explicar.
Muitas vezes ele prefere dormir no chão puro, pra não ter que se apertar pra dormir junto comigo.
Eu não sei o que eles querem, talvez dinheiro.
Porque se fosse pra matar, eles já tinham matado.
Eu tava sentada de cabeça baixa até a porta ser aberta brutalmente.
- Comida ae.- jogou uma sacola em cima de mim.- hoje tu come e ele fica sem.
Lua: Porque ele não pode comer? - perguntei indignada.- vocês vão deixar ele morrer de fome?
- Se tu não calar a boca, quem vai ficar sem comida é você! - apontou o dedo na minha cara, e saiu batendo a porta de novo.
Abri a marmita que até tinha um cheiro bom, e vi que tinha arroz, feijão, macarrão e carne.
Lua: Quer? - ele continuou calado.- Guilherme eu tô falando contigo, me responde.
Menor: Quero não...- foi o mais seco possível.
Lua: Você precisa comer, não é justo o que eles estão fazendo com a gente. Você não conversa nada comigo, vive me ignorando.
Menor: Tu quer que eu faça o que porra? - alterou a voz.- eu te meti nisso Lua, por minha culpa talvez a gente só saia em um saco daqui. Eu não consigo olhar na tua cara, e não pensar que eu causei tudo isso.
Lua: Se você não estivesse lá comigo, eles teriam me pegado sozinha. Você prefere estar aqui comigo sabendo como eu tô, ou passando por tudo que os meus pais estão passando agora?
Menor: Nenhum pedido de desculpa vai mudar isso, eu sou um merda Lua, você sempre mereceu coisa melhor.
Lua: Eu tenho fé Guilherme, eu sei que eu vou conseguir sair daqui. Assim como você também vai, com certeza eles vão pedir dinheiro em troca da gente, com a troca nós vamos embora.- tentei convencer ele, e também me convencer.
Menor: Tu acha mermo? - sorriu debochando.- tu pode até sair, mas eu não saio não. Daqui eu só vou sair morto.
Lua: Não diz isso..- senti as lágrimas escorrerem.
Menor: Eu sei que isso não vai mudar porra nenhuma, mas me desculpa, papo reto.
Era tão horrível ver a forma que ele falava.
Eu acreditava que eles fossem pedir dinheiro.
Porra, meu pai é dono de um morro. Ele tem dinheiro, por isso eu acredito que eles vão pedir.
A minha liberdade pode até ser que eu consiga, mas eu não digo o mesmo do Guilherme.
Caralho, eu não vou aguentar viver sem ele.
Ele tá se culpando muito, e isso me deixa cada vez mais triste.
Eu só conseguia pensar na minha casa, no meu pai, minha mãe, meu irmão.
Queria muito voltar, encontrar uma saída pra fugir. Coisa que era totalmente impossível.
Peguei a marmita indo sentar do lado do Guilherme e ele me olhou.
Lua: Não gosto de dividir minha comida com ninguém, mas por você eu faço um esforço.
Menor: Pode comer, eu aguento até amanhã.
Lua: Aguenta nada!
Menor: Me da um abraço? - me olhou com os olhos cheios de lágrimas, e eu soltei o garfo abraçando ele com força.
No fundo era isso que eu e ele estávamos precisando.
Comecei a comer a comida, e sempre ia dando na boca dele também.
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Herdeiros do Vidigal
Teen FictionMe perder, me encontrar, a cada vento que soprar. SEGUNDA TEMPORADA DE "AMOR BANDIDO"