Capítulo 1 - Fuga

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Não tinha para onde ir. Precisava ir embora, precisava correr para o mais longe possível de sua vida e se livrar de toda a humilhação que insistia em corroer seu estômago. Precisava dar um jeito.

Precisava fugir.

Suas pernas doíam, o salto 15cm que escolhera para o dia especial tinha se mostrado uma péssima ideia. Tirou-os com frustração e atirou dentro da primeira lata de lixo que encontrou. Nunca mais iria querer olhar para aqueles sapatos novamente. Foram 750 dólares jogados fora, um desperdício impensado e ridículo. Se não tivesse sido tão idiota em insistir em comprar na droga daquela boutique chiquérrima da 5th Avenue, poderia ter usado esse dinheiro em algo muito mais útil do que em uma sandália para usar em um casamento que nem tinha tido a chance de começar, e já havia sucumbido ao fracasso. A vida era injusta e irônica. Essa sandália tinha sido, de longe, um dos piores investimentos de sua vida.

Jen olhou ao redor, e seu cabelo voou ao vento. Diabos, já estava no aeroporto internacional de Atlanta. Piscou os olhos e virou o rosto para ver os táxis que chegavam a todo instante, parecendo uma fila de formigas em trabalho, desembarcando executivos de malas pequenas, e famílias pequenas com malas grandes.

Olhou para as próprias mãos quase vazias. Carregava somente uma bolsa pequena e um Kit Kat. Tinha saído com tanta pressa que acabou pegando somente o que parecia ser mais urgente, que desastre. Respirou fundo. Como diabos tinha chegado até ali? Os últimos minutos de sua vida tinham sido tão caóticos que sentiu uma dor de cabeça fortíssima, precisava reunir seus pensamentos e tomar uma aspirina urgentemente.

A voz de uma criança perguntando à mãe por que uma mulher estava no aeroporto com um vestido de noiva a fez despertar de seus devaneios e olhar para baixo, encarando sua própria roupa. Sua cabeça ficara tão cheia que, trocar de roupa, parecia ser a última coisa importante de sua lista de prioridades. Mas, olhando melhor agora, isso fora uma péssima escolha.

Outra escolha ruim no placar de fracassos do dia, que maravilha.

Prestando uma atenção melhor ao seu redor, percebeu que todas as pessoas que passavam não conseguiam disfarçar a curiosidade de olhá-la ali plantada no meio na calçada com um vestido brilhoso de noiva.

Suas bochechas queimaram. Precisava se livrar daquele vestido o mais rápido possível, antes que começassem a tirar fotos e ela virasse um meme por aí.

-Com licença. Deram 55 dólares, minha jovem- o taxista, que por alguma razão ela tinha se esquecido totalmente que estava ali, a chamou de dentro do carro

-Desculpe - ela pigarreou, abrindo a bolsinha e se inclinou na janela para lhe entregar o dinheiro - Aqui está, pode ficar com o troco.

Ele segurou o dinheiro, e olhou fundo em seus olhos, amigável.

- Se me permite dizer, o cara que fez isso com você é um completo imbecil, nenhum homem com honra deveria abandonar uma garota bela como você em um vestido de noiva- abriu um sorriso compassivo - Ele não a merece.

O taxista, ela acabara de reparar, tinha os olhos envoltos em pequenas ruguinhas de cansaço, traços naturais da idade. O olhar terno dele a fez lembrar-se vagamente de seu avô. Quando ela era apenas uma adolescente emotiva e imatura, várias vezes voltara para casa aos prantos por alguma maldade de um garoto igualmente imaturo. Seu avô, com muita paciência e carinho, costumava dizer, enquanto afagava seus cabelos, que eles não a mereciam, e um dia apareceria alguém bom o suficiente que a faria feliz de verdade. Aqueles momentos, ela dizia para si mesma, eram seu abrigo seguro nas piores tempestades da vida.

Quase sentiu os olhos lacrimejarem com a lembrança. Abriu um largo sorriso para o velho taxista.

-Obrigada. Isso significa muito para mim - respondeu, sincera.

Ela está de voltaOnde histórias criam vida. Descubra agora