Capítulo 7

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“Betsy. Já não te via há algum tempo.” Eu assinto e ela examina-me todo o corpo, até eu soltar um gemido por causa da perna. “Dói?” Eu digo que sim e ela continua a ver. “Então e que aconteceu para estares aqui novamente?” Ela pergunta e eu engulo em seco. Oh, o meu pai bateu-me outra vez, sabe?

“Hum, caí das escadas.” Digo e ela eleva a cabeça ao nível dos meus olhos.

“Sabes que eu não acredito nisso desde o primeiro dia que te conheci, não sabes?” Eu baixo a cabeça, envergonhada. “Foi o teu pai, não foi Betsy?”

“Foi.” Digo num fio de voz e ela suspira alto.

“Isto não pode continuar. A primeira foi uma costela partida, depois um pulso, a terceira foi na zona do ombro, e agora tens uma perna partida.” Ela diz olhando para um relatório com umas dez folhas. Isto é tudo meu?

“Eu parti uma perna?” Ela concorda e eu bufo.

“Por isso quero repouso absoluto. E cá para nós, eu não conto nada do que sei se prometeres que vais pensar em tomar alguma decisão acerca de tudo isto.” Claro que eu vou dizer que sim, mas eu não vou pensar em nada porque simplesmente não há nada para pensar.

“Quanto tempo é que tenho de estar em repouso?” Pergunto.

“Bem, um mês inteiro sem sair de casa e a partir do segundo começar a sair, dar algumas voltas, mas nada de muitos esforços. E eu tenho que ir que já me estão a chamar. Vou chamar o teu amigo. Adeus.

“Obrigada, adeus.” Eu digo sem olhar para ela. Os meus pensamentos estavam muito longe. Eu ia ficar em casa um mês, e nos dois seguintes não podia fazer esforços. Se é na perna, eu não me vou mexer. Ou seja, eu vou ser livre durante pelo menos dois meses. Isto era o melhor que me podia ter acontecido. O melhor!

“Então, o que tens?” Louis diz assim que fecha a porta.

“Uma perna partida. Louis, eu tenho uma perna partida!” Eu digo e a minha felicidade transborda no meu sorriso.

“E estás feliz?” Ele pergunta olhando para uma louca, eu.

“Mais que feliz! Isto é o melhor que me podia ter acontecido!”

“Betsy! Serás mesmo normal?” Ele manda vir comigo.

“Louis, tu não entendes, mas isto é mesmo bom.”

“As pessoas normais estariam a queixar-se das dores, não a rir ou a chorar de felicidade por ter uma perna partida.” Ele carranca. As dores são enormes, sim, mas só de saber que poderei ser livre durante poucos dias, melhora tudo.

“Tu não entendes.”

“Tu é que és complicada de perceber.” Ele diz e suspira, sentando-se no cadeirão.

“Betsy!” Johannah exclama ao aparecer à porta e corre para me abraçar, amachucando-me.

“Uh.” Solto e ela afasta-se rapidamente.

“Oh, desculpa, querida. Como estás? Estás bem? Dói-te alguma coisa?” Ela diz visivelmente preocupada. Afasta-me alguns cabelos da testa e dá-me um beijo ternurento.

“Escusas de estar muito preocupada. Ela está felicíssima porque partiu uma perna e não vai poder sair de casa durante dois meses.” Louis diz com desprezo, encostado ao cadeirão. Johannah olha-me admirada, mas recompõe-se.

“Ela deve ter as suas razões, Louis.”

“Claro.” Ele diz e levanta-se, abrindo a porta.

“Louis.” Eu chamo baixinho. Eu até não quero que ele vá.

Salvation (L.T.)Where stories live. Discover now