Capítulo 4

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Ele finalmente larga o meu corpo e deixa-me cair na cama, ao meu lado, mas rapidamente se levanta e volta a vestir as suas roupas.

“Muito bem, Betsy. Estou impressionado. Consegues fazer as coisas bem mesmo quando não te mexes.” Se estivesse aqui uma arma pegava nela e não pensava duas vezes. Não consigo olhar sequer para ele. Sinto o sangue escorrer pelas minhas pernas e os lençóis estão todos manchados. “Deixo-te aqui o dinheiro. Adeus, Betsy, gostei muito deste momento.” Ele acaba de apertar o cinto e dirige-se a mim com um pequeno aceno, saindo do quarto.

Uma vez sozinha, eu viro-me e começo a chorar desalmadamente. Estou fraca e não sinto o meu corpo. A minha respiração mal é sentida e tenho o coração a bater muito depressa.

A porta do quarto abre-se e eu encolho-me com medo de que ele volte.

“Oh meu Deus!” Mas as vozes são femininas, o que significa que ele não está por perto. A pessoa chega-se junto a mim e passa-me a mão na cara, limpando-me o suor. “O que te aconteceu, querida?” Eu abro lentamente os olhos e encontro uma senhora ainda jovem, com uns belos olhos azuis e cabelos castanhos a olhar-me, escandalizada.

“T-Tire-me daqui.” Eu falo num fio de voz e ela continua a afagar-me os cabelos.

“Julie. Julie! Vem cá rápido!” Julie, a empregada… o que vinha ela aqui fazer?

“Sim, de que precisa?” Ela diz e solta um “o”, levando a mão à boca.

“Julie, traz-me toalhas limpas e roupa lavada, por favor. Rápido.” Ela diz e Julie sai rapidamente do quarto. “Não te preocupes, querida. Vai ficar tudo bem.” Eu engulo em seco vezes sem conta e quero falar, mas não consigo. “Diz-me só quem te fez isto.” Eu nego e lágrimas formam-se nos meus olhos. “Por favor, eu prometo que não conto a ninguém.”

“Foi Frederic.” Ela assente como se já soubesse que tinha sido ele.

“Ele não te vai voltar a tocar.”

“Eu já estou habituada.” Digo baixo e a minha voz mistura-se com a minha respiração. Ela ia dizer algo, mas Julie chega e entrega as toalhas.

“Como estás, minha querida?” Eu encolho os ombros e ela olha com pena para mim.

“Pronto, toma estas toalhas. Nós vamos deixar-te à vontade, mas estamos mesmo à porta do quarto. Tens aqui roupa lavada. Limpa-te e veste-te rápido, que vens comigo.”

“Mas…”

“Não é mas. Eu vou falar com o teu pai e vens comigo até minha casa. Estás num estado lastimável!” Ela diz e ambas saem. Muito a custo levanto-me e vou-lhes agradecendo mentalmente por me terem ajudado. Nunca tive ninguém, tirando a minha mãe, que se preocupasse tanto comigo, e por isso sabe bem.

Visto as calças de ganga simples e a camisola que me deixaram encima da cama e penteio o meu cabelo. Lavo a cara uma dúzia de vezes para estas pinturas saírem todas e calço as sapatilhas. Saio do quarto e lá estão elas à minha espera.

“Não sei como lhes agradecer. Mas eu fico bem.” Digo cabisbaixa e a senhora de olhos azuis pega-me logo na mão.

“Nem penses! Tu vens comigo. Já falei com o teu pai.” Ela convenceu o meu pai? Isso é impossível. Descemos as escadas e lá estava o meu pai a conversar animadamente com Frederic. Eu encolhi-me junto da senhora cujo nome ainda não sei e ela acaricia-me a mão.

“Eu vou levar a sua filha comigo. Ela depois regressa a casa à hora combinada, não se preocupe.” Ela fala severa e o meu pai revira os olhos, assentindo.

“Anda cá um segundo, Betsy.” Eu largo a mão da senhora e caminho até ao meu pai, ficando a dois metros dele. Tiro o dinheiro discretamente do bolso e entrego-lho. Se alguém deu conta, pouco me importa. Frederic mostra um sorriso perverso mas eu ignoro, e assim que entrego o dinheiro, caminho para a saída.

Salvation (L.T.)Where stories live. Discover now