Retaliação.

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Solar.

Olhei-a, chocada, completamente chocada. Aquele grito repentino apanhou-me de surpresa e o meu corpo assustou-se. Esta mulher é maluca, foi o que pensei. Dei uns meros passos e saí porta fora de elevador. Não vá ele subir de novo. Sentia a seguir-me com o seu olhar desnaturado e por alguma razão, desesperado. Ela saiu também e ficamos paradas no átrio de entrada.

- Alface! Tem de ser alface. – Novamente, um olhar desesperado. Não me digam, ela lembrou-se de mim?

- Desculpe, não estou a entender nada do que está para aí a falar.

- Já sei quem és! Kim Youngsun!

- Isso claro que sabes, eu apresentei-me quando chegaste, caso não te lembres. E toda a gente me chamou pelo devido nome. Não estou a entender a ligação disto tudo.

- Não, não! – Ela afirmou enquanto abanava a sua mão magricela no ar. – Eu já te reconheço! Passei a manha toda a tentar descortinar de onde conhecia as tuas feições.

- Bem, se olhares à volta, estou em todos os ecrãs deste edifício. Finalmente trouxeste a cabeça para a terra e viste quem realmente sou.

A verdade é que desde que esta mulher chegou atrasada e entrou porta dentro como se nada fosse, uma irritação enorme tem se apoderado de mim. Por vezes mais calma, por vezes de forma mais intensa. Senti-me corar vez e outra devido à raiva existente em mim. Quando disse que não fazia ideia de quem eu era, apetecia-me saltar-lhe em cima. Contudo, fiquei igualmente satisfeita. Ao menos não se ia lembrar que eu tinha de alimentar os malditos patos. Ou melhor, pensei eu que não.

- Ai Youngsun! Oh Youngsun! – Comecei realmente a ficar assustada. A fotografa estava a sorrir de uma forma demasiado estranha e quando notei, pegou na minha mão com as suas. Mas que confianças são estas? – Eras tu! Eu sabia! Eras tu no parque ontem, não eras?

Eu podia mentir, é uma verdade, mas que de adiantaria? Além do mais, nada de mentiras. Suspirei fundo, vi a minha escapatória fugir, senti a minha mão suar e admiti.

- Sim, era eu.

- PORQUE NÃO DISSESTE NADA? – Esta mulher grita muito. Acho que é maluca.

- Não tinha nada que dizer. Eu apresentei-me, não é culpa minha que não te lembres de mim.

- Estava muito escuro ontem e não me disseste o teu nome. De qualquer das maneiras, alface. Deves-lhes uma alface. Descobri que o pão lhes faz mal. Pobres amigos, tenho tratado tão mal deles! Estava a matá-los aos bocados! – A Moonbyul começou a dramatizar a situação com o seu próprio corpo e como reação, comecei a procurar por camaras. Tenho a certeza que isto é alguma espécie de apanhados.

- Tudo bem. – Disse simplesmente. Ela olhou-me nos olhos. Atentamente, demasiado atentamente. Tão atentamente que eu julguei que ela me estivesse a observar a alma. Senti o meu couro cabeludo a arrepiar. De um segundo para o outro, largou a minha mão, virou costas e pôs-se a andar.

Esta mulher é demasiado estranha, mas eu tratei de a seguir. Se tivesse que vos dizer, diria que nunca vi ninguém assim. Primeiro, não mede o que diz, segundo, tem a cabeça constantemente no ar e terceiro, tem reações tão imprevisíveis que eu nunca sei o que esperar. Depois do nosso encontro de ontem à noite, tudo o que eu queria era nunca mais vê-la na vida. Foi demasiado vergonhoso. Hoje, quando chego aqui, deparo-me com ela. Chega atrasada, vem vestida tão mal que mais parece um palhaço e está constantemente a agir como se fosse uma criança. Como caminho atrás, consigo observá-la. Observo os seus movimentos, reparo em como todo o seu corpo é demasiado fino. Como é que ela se aguenta de pé? Ela é tão branca que se o sol bater nos meus olhos, ela confunde-se na luz deste. O seu cabelo é comprido, talvez um pouco maior que o meu? Platinado, distinto dos restantes e por sorte ou não, fica-lhe demasiado bem. A maldita camara que ontem me apanhou em choque está pendurada ao pescoço. Será que ela não a larga? Volto, mais uma vez, a reparar na sua roupa. Apesar de estar toda às cores, estas combinam. Ela criou um padrão. Nunca vi ninguém assim. O seu andar é tão calmo, como se não estivesse interessada em viver num mundo destes. É relaxada, está constantemente relaxada. Até quando lhe respondi rispidamente devido ao seu atraso, ainda conseguiu manter a calma para me responder à altura. Ela irrita-me e sinto isso quando os meus punhos se fecham inconscientemente. Estou irritada, deveras irritada. Eu já vos tinha dito que odeio pessoas que vivem demasiado relaxadas, mal nos conhecemos, avisei-vos disso e agora, agora o destino espeta-me com uma mulher destas. Eu nunca vi ninguém assim e apesar de já ter dito isto mil vezes, vou continuar a dizer até toda a gente perceber que eu realmente nunca vi tal!

Contraste. (Moonsun)Onde histórias criam vida. Descubra agora