Contraste. (Moonsun)

O meu nome é Moon Byul-yi.

                Posso dizer-vos com certeza que hoje será um belíssimo dia! Vou contar-vos porque. Primeiro, ao acordar, senti logo o quentinho do sol nas minhas pálpebras como a dar-me bom dia e com todo o entusiasmo a preencher o meu corpo, abri os olhos e corri para a janela. Estava sol, é outono, mas está um sol tão lindo. É cedo, demasiado cedo, mas as ruas lá em baixo já estão preenchidas. Aí está o meu segundo motivo de hoje ser um dia ótimo. Cá de cima, do quinto andar, consigo observar a felicidade das pessoas a absorver as boas energias que o sol transmite. Sem mais demoras corro para ao lado as cortinas e levanto a tela da janela abrindo esta de seguida. O ar puro e gelado atinge-me como uma enorme bofetada, os cheiros das padarias da rua entranham-se pelas minhas narinas a dentro, o som dos comerciantes a montar as suas pequenas bancas são a melodia que aprecio ouvir todos os santos dias e nada me deixa mais feliz que ver as mães, os pais e até os irmãos a mandarem os seus pequenos rebentos para a escola. A vida realmente é maravilhosa. Agora, por favor não se assuntem com o que vou fazer!

Penduro-me no parapeito da janela e encho os meus pulmões com todo o ar que estes me permitem guardar e como se nada fosse, grito.

- BOOOOOOOOOOOOOOOOOM DIIIIIIIIIIIAAAAAAAAAAAAAA! – A rua lá em baixo para, completamente. Por segundos toda a gente tenta assimilar o que se passa, mas como já é habitual, ao fim, todos gritam de volta.

- Bom dia Moonbyul!!

- Estou a ver que hoje também acordaste bem-disposta!

- Ola Moonbyul! A PROFESSORA HOJE DISSE QUE IA APRENDER UMA LETRA NOVA!

- AI SIM? ENTÃO DEPOIS TENS DE ME MOSTRAR! – E é assim meus amigos que se torna o dia de toda a gente um pouco melhor. Provavelmente vocês tão a achar-me um bocadinho estranha, mas fazer alguém sorrir, é ganhar o dia.

Deixo a janela aberta para o ar entrar e refrescar o meu quarto e com um passo apressado, vou preparar-me para sair. Ah! Cabeça a minha, esqueci-me de me apresentar. O meu nome é Moon Byulyi mas o meu nome acabou por sofrer algumas alterações tornando-se então em Moonbyul. Não é que eu o tenho mudado legalmente ou qualquer coisa do género, mas toda a gente acha engraçado chamar-me assim, eu só aceitei o meu destino. Sou fotografa, de que género? Não tenho, sou bastante versátil para ser sincera. Tudo o que gosto, eu capturo através da minha lente. Tenho 25 anos e vivo neste pequeno prédio. Adoro animais e infelizmente não tenho nenhum porque a minha colega de casa é um pouco medrosa em relação a este assunto. Quem é ela? Hwasaaaaaaaa! Ou melhor Ahn Hye-jin, Hwasa é o seu nome artístico. Vocês não estão a entender não é verdade? Eu simplifico. Eu, Moonbyul, sou fotografa. Hwasa, minha amiga, é uma designer de moda acabadinha de sair da universidade e vive aqui comigo, neste quinto andar de um prédio nada moderno. Não é que eu goste de falar muito do assunto, mas a Hwasa sempre gosta que eu conte a nossa pequena história. Então é assim, nos conhecemos num parque de diversões, ainda crianças. Eu transportava nas minhas mãos a minha bela máquina fotográfica, de brincar claro, e vi Hwasa, sozinha, a desenhar na areia. Quando cheguei ao pé dela não resisti e com toda a minha vontade, tirei-lhe uma fotografia. Como a máquina era de brincar não existe nada físico, mas aquela imagem sempre ficou gravada na minha mente. Ela desenhava roupas na areia através de um pequeno pau que havia apanhado e estava tão feliz a fazê-lo que quis registar o momento. Como esperado das crianças, ficamos amigas após uns segundos.

- Quando for grande quero que as pessoas usem as roupas que eu irei fazer!

- Quando for grande, quero fotografar as pessoas que usarem as tuas roupas! – E através deste diálogo de miúdas, tornamo-nos no que somos hoje.

Hwasa é mais nova que eu três anos e acabamos sempre seguindo as mesmas escolas sem nunca esquecer o que tínhamos falado. No secundário ela começou realmente a fazer as roupas que desenhava e para ganharmos algum dinheiro, pedíamos aos adolescentes famosos da escola que as vestissem e que aceitassem tirar algumas fotografias. Eu fotografava e editava as fotos. Criamos uma rede social para nosso pequeno projeto e então as pessoas começaram a querer experimentar cada vez mais as peças da minha querida amiga ou então, pagavam para realizarem uma pequena sessão de fotos comigo. O dinheiro que fomos angariando, fomos guardando. Eu tirei o curso de fotografia na universidade, não que não soubesse realizar o meu trabalho, mas queria profissionalizar-me. Hwasa seguiu o mesmo caminho e acabou aprendendo ainda mais. Durante os anos universitários fomos aumentando o nível de publicidade e quando reparamos, já estávamos a vender peças até mesmo aos professores! Como a minha amiga mais nova é realmente talentosa, foi contactada por diversas marcas para entrar em projetos. Claro que nunca me falhou e disse a todas que só aceitava se eu fizesse parte da equipa de imagem. A meio do meu segundo ano propus criarmos uma pequena empresa. Hwasa e a parte da moda e design, onde ela possui, inclusive, uma marca própria de roupa. Eu limitava-me às sessões fotográficas e edição de imagem. Trabalhamos com toda a gente. Com as maiores marcas internacionais, porque acreditem ou não conseguimos crescer bastante, com as maiores marcas nacionais que nos procuram para fazerem os seus produtos venderem, e trabalhamos também com organizações não governamentais para assim apelarmos às boas causas que tanto necessitam de ajuda.