A melhor parte das férias é, sem dúvida, acordar sem despertador. Quando eu abri os olhos no quarto diferente, demorei alguns segundos pra me lembrar de onde estava. Escutei passarinhos cantando e um carro anunciando venda de ovos na rua. Peguei o celular e gemi quando vi que ainda não eram nem nove horas.
Até tentei voltar a dormir, mas não rolou. Então levantei, me troquei e me juntei à Diana e ao tio Ozório que ainda tomavam café da manhã.
Já comentei como comida do interior é maravilhosa? Já, eu sei. Mas vou repetir ainda muitas vezes. Pão, bolo, geleia caseira...tudo mil vezes melhor do que os produtos da padaria chique que eu e meus pais comíamos de vez em quando, perto da Avenida Paulista.
Eles tinham saído para caminhar, como era costume deles nos domingos e feriados e provavelmente pelos próximos oito dias em Viradela. A Diana estava preparando uma sobremesa pra levar na casa de outro parente que visitaríamos no almoço e, antes que eu fugisse pro quarto, ela me pediu ajuda e fui obrigada a medir açúcar, untar forma e coisas assim.
Depois fui capturada pelo tio Ozório que me pediu para empurrá-lo até o terreno do fundo. Entre uma crise de tosse e outra, ele falou sobre as plantas do quintal, sobre a jabuticabeira plantada pelo meu bisavô e sei lá mais o quê. Eu mandava uns "a hã" e uns "é mesmo?" enquanto mexia no celular.
A Naty ainda não estava acordada. Ficamos fofocando até mais de meia noite pela primeira vez em muito tempo, porque pelo menos na casa da prima Diana meu pai não podia desligar o wi-fi depois das 22h me fazendo usar com muita cautela os dados do celular.
Estava jogando, quando uma mensagem pulou na minha tela:
Desconhecido: Adivinha quem é...
A foto de cachorro no perfil do whatsapp já entregava o tal do Beto.
Val: é o Max, claro!
Desconhecido: kkkk
au au auuuu traduzindo: você tá uma gata nessa foto aqui)
Minha foto do perfil é do Natal passado e é a minha preferida porque é uma coisa toda vermelha: gorro de papai Noel, batom e blusinha de alcinha, tudo na mesma cor. É uma das poucas fotos pela qual eu recebo elogios, obviamente porque o ângulo me deixa com peitos maiores do que eles são na realidade.
Val: obrigada :)
Dois infinitos minutos depois ele continuou:
Beto: Você vai sair hoje? Vai ficar na rua com a Lorena?
Val: Ah não sei. Se ela me chamar eu vou.
Beto: Ok...
O que mais eu poderia escrever? Fazer alguma pergunta talvez? Não queria parar de conversar com ele porque eu estava entediada e curiosa. Mas logo em seguida foi a vez da Lorena aparecer no meu whatsapp: a foto dela era imagem de um cupido e eu já abri a mensagem rindo.
Lorena: Eu e as meninas vamos ficar sentadas em frente a minha casa hoje depois da janta. Aparece lá.
Val: Ok, rs.
Será que o Beto estava mesmo interessado em mim? Pra mim era novidade ter a atenção de um menino que eu conhecia a menos de vinte e quatro horas. Aliás, era novidade para mim ter a atenção de um menino e ponto final.
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Viradela [em degustação]
Ficção AdolescenteNesse clichê jovem adulto sobre amores e amizades à distância, Valquíria é a garota que senta no meio da sala de aula, não se considera inteligente, nem bonita, nem boa em esportes, não é bagunceira e possui apenas uma amiga. Enfim, ela acredita não...