Capítulo 1 - Tudo certo

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Ela sentia o vento. O vento batendo em meu corpo e emaranhando seus cabelos. Ela estava correndo, correndo muito e cada vez mais rápido. Podia sentir seus pés em contato com um solo úmido enquanto passava. Sentia pedras e raízes de árvore debaixo dos pés, mas não conseguia abrir os olhos. Começou instintivamente a correr mais rápido, não sabia o por quê daquilo, apenas corria. Em sua concepção, era o melhor que fazia naquele momento. Quando se deu conta, já não sentia mais nada debaixo de si e o vento havia parado de bater em seu corpo. Estava sentindo frio. Sem vento algum. Apenas a umidade. Por um ligeiro momento e inconscientemente, aproveitou aquele momento a sós com o silencio. Podia escutar o som de sua respiração. Começou a sentir seu corpo dolorido, e a temperatura que sentia não abaixava. Tentava imaginar onde estava, e o por quê de não conseguir abrir os olhos. Começou a sentir a cabeça doer e em seguida, bem baixinho, conseguia escutar uma voz. Á principio, não sabia identificar o que dizia, mas após alguns minutos, conseguiu ouvir. Caso ela não se estivesse enganada, era seu nome. Ela então franziu o cenho, como se tentasse identificar a voz. Para sua surpresa, escutava cada vez mais alto. Era realmente seu nome. Sentiu seu corpo balançar, e seu nome ser repetido. Uma, duas, três vezes. Foi aí que ela finalmente conseguiu abrir os olhos, mas o que conseguiu ver, foi apenas uma luz branca em sua frente.

•••

-Kimberly! Kimberly, levanta agora! - Ao abrir os olhos, viu sua mãe gritando, com a mesma cara e voz que fazia quando estava irritada, com a mão em seu braço, balançando seu corpo para que acordasse. - Garota, você enlouqueceu? Você não tem jeito mesmo! - disse a Hilary até então ajoelhada ao lado da filha e ao ver seus olhos se abrindo, levantou-se e logo pôs as mãos na cintura.

Hilary é a mãe de Kim. Uma mulher jovem, perceptivelmente fina e discreta. Com seus cabelos perfeitamente tingidos de loiro e seu corpo em perfeita forma, contando claro, com sua diplomacia e quase robótica educação, conseguia o que queria com a mais doce e firme voz. A típica mulher americana de negócios, e herdeira - de sua família adotiva - de uma imobiliária famosa nos Estados Unidos. Casou-se com o Richard Briant por ter se apaixonado pela sua beleza, inteligência e charme. E claro, porque era dono da maior empresa de marketing americana. Estava excelente, não é mesmo? Hillary sempre foi ensinada a pensar que "homem bom, é aquele que pode te dar tudo o que pedir, inclusive o status que você merece." As únicas coisas que estragavam seu "conto de fadas" de família perfeita, eram seus pais biológicos - um casal mais velho, caipira, do interior do Tennessee. Ela os conheceu aos 20 anos de idade, mas achou uma ideia melhor continuar com seus pais adotivos, afinal, ela não queria se mudar pra o interior, tendo sua vida feita na cidade. Havia sido moldada direitinho como uma boneca de porcelana, para suportar viver numa cidade do interior - e... sua filha única, Kimberly, que havia criado com os mesmos costumes de seus pais adotivos, numa mansão enorme e cheia de empregados, porém, não gostava de ser tão discreta assim. Mesmo com todo dinheiro que tinha, Kim gostava de bebidas, festas, e garotas! Principalmente, Alli. Mas eu falarei sobre ela daqui a pouco. O único problema era sua mãe, que a forçava a sair com alguns caras, para aparecer na mídia. Onde já se viu? A filha da impecável Hillary Briant, com outra mulher? Hilary já havia conversado com a filha e fingiu que a compreendia. Mas seu bordão para isso é: "Eu entendo, filha! Mas o mais normal, é um casal formado por um homem e uma mulher. Se forem bem sucedidos, não há nada mais bonito que isso! Quer ficar com mulheres, fique! Mas, se alguém perguntar, eu não tenho ciência disso."

Kim era mimada. Exatamente como a mãe a ensinou, mas, não estava nem aí para o status. Ou melhor, gostava do conforto, mas com o que ela tinha que se preocupar? Era filha de Richard e Hilary Briant. Ela poderia muito bem ser a filha que não está nem aí. Uma pena, para Kim, que quando ficava brava, a mãe não era tão delicada assim.

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