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Pai.

Essa foi a primeira coisa em que ela pensou assim que entraram dentro do elevador de tamanho médio. Estavam em um prédio de advocacia – ela sabia disso, porque tinha visto o nome da empresa em alguns papeis que voaram ao seu redor quando se deu conta do estrago que tinha feito - com mais de cinquenta andares, onde eles tinham feito uma entrada quase surreal. Ela tinha quase surtado quando recebeu olhares das pessoas que trabalhavam no andar onde o carro entrou; seu coração se encheu de alivio ao constatar que ninguém tinha se ferido, exceto ela mesma.

Os pensamentos de Anabell se voltaram para o pai e as palavras de Heron vieram como um solavanco na cabeça. Ele tinha dito que seu pai estava em Umbrella Five, mas o que diabos ele estaria fazendo lá? Ou melhor. Quem o tinha o levado? Não que Ron não pudesse pagar uma passagem em uma nave de transporte, mas não fazia sentindo ele ter ido para outro planeta quando tudo desmoronava ao seu redor. E além do mais, ele não tinha dito para ela que estava indo dar uma volta em outra atmosfera. Ela riu sem humor com o pensamento e uma dor aguda atravessou seu crânio, como se tivessem enfiado uma faca ali e girado o cabo.

— Você está bem, Ana? — Heron perguntou, a voz soando preocupada.

Nem se deu ao trabalho de corrigir ele. Já tinha percebido que ele não iria chamar ela de Anabell como deveria. Ana era muito íntimo, e bem, ele estava longe disso. Ela levou a mão até a testa, sentindo um corte ali e sangue; a dor na cabeça deveria ser por isso.

Virou o rosto para Heron, e encontrou um par de olhos cinzentos que eram ao mesmo tempo suáveis e enigmáticos, como se lá, escondesse as respostas para todas as perguntas que estavam em sua cabeça.

— Sim, eu... — nem terminou de falar, e as portas do elevador se abriram.

Chovia em demasiado e a umidade junto com o frio, fez com que Anabell puxasse sua jaqueta mais ainda contra seu corpo enquanto um arrepio subia em sua espinha. Ela e Heron saíram em silêncio, mas não um silêncio ruim como tinha se instalado no carro. Era um silêncio calmante e reconfortador, assim como a presença dele. Olhou para frente, onde Heron caminhava a passos precisos no chão de concreto do estacionamento do prédio e essa foi a primeira vez que reparou em sua roupa além do sobre-tudo longo que usava.

Ele usava um casaco cor cinza com pontos pretos por cima do sobre-tudo junto com uma cachecol cinza também de um tipo de tecido que ela nunca tinha visto, que pendia em seu pescoço de um jeito todo volumoso. As calças pareciam de couro, mas ela não sabia dizer, e nos pés ele usava botas que iam até a panturrilha. Mas apesar dele estar todo coberto com roupas que, obviamente, eram caras, percebeu que Heron era forte, não o tipo de forte que era só músculos e massa corporal, mas o tipo de forte que fez suas bochechas corarem enquanto seus olhos estavam focados em seus ombros largos. Ela nem sabia porque estava se sentido assim, afinal, a quanto tempo o conhecia de verdade e não apenas por tv ou jornais eletrônicos? Mas ela tinha essas sensações que aquietavam seu coração e mantinham a mente clara, com uma única certeza: obter respostas.

Eles estavam saindo do estacionamento coberto, quase cruzando a saída que mais parecia um túnel com uma luz no final do caminho quando um barulho alto encheu seus ouvidos e num piscar de olhos, uma nave estava a sua frente. A mesma nave que tinha atacado ela em sua casa. E de lá dentro, saltou uma garota.

Heron imediatamente esticou o braço, parando Anabell onde ela estava. Ele soltou um rosnado enquanto a figura da garota se aproximava e quando ela viu seu rosto, prendeu a respiração.

Daryna Krigimil era de Voron, uma das terras de Umbrella Five, mas tudo nela gritava Transformada, desde os olhos castanho-chocolates até os braços cheios de músculos e cicatrizes de lutas. Ela era alta, com um sorriso sanguinário no lábios e enquanto se aproximou mais ainda, o vento que passou fez seus cabelos azuis naturais balançarem de um lado para o outro. Ela usava um roupa toda preta e justa e em uma das mãos, trazia uma espada, cujo o lamina desta era de um metal azul celeste. Anabell procurou em sua mente a descrição deste metal na tabela periódica, mas ela sabia lá no fundo, que aquilo não era da Terra.

A Mestiça (Originários #1)Onde histórias criam vida. Descubra agora