PRÓLOGO

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Cresci ouvindo de minha mãe adotiva que a vingança não nos leva a lugar algum, pelo contrário, qualquer ato vingativo envelhece alma e destrói a vida de quem a pratica. Mas até quando devemos suportar todas as humilhações que a vida insiste em colocar em nosso caminho? Eu suportei todas as ironias que o destino traçou para mim, sofrendo em silêncio, acreditando que o amanhã seria melhor que o hoje. Para que possam entender o que fiz em um passado não muito distante, é preciso que antes saibam da minha trajetória até aqui.

Minha história não é e nunca será um conto de fada, mesmo que haja bruxas, doentes, ogros, feiticeiros e até mesmo um príncipe, é um relato como tantos outros que existem pelo mundo. Porém, não permiti que a circunstância do meio me tornasse frágil, fraco e perdedor, batalhei muito para chegar onde estou hoje, passei por situações constrangedoras, humilhantes, no entanto, elas me ensinaram de fato o que é a vida e, principalmente, as pessoas que compõem o mundo que vivemos, aprendi a não ter medo de enfrentar o mundo para conquistar meus objetivos. Como citei no início dessa narrativa, nem sempre fui assim, a vida me ensinou a ser como sou e tudo foi possível porque em meio ao sarcástico destino surgiu um motivo maior a vingança.

Eu me chamo André Vasconcellos, antes de adquirir o status que tenho hoje todos me conheciam como Jonathan Alcântara, tenho vinte e oito anos e sou um economista administrativo internacionalmente renomado, minhas empresas giram em torno do mercado persuasivo e luxuoso da moda, possuo mais de vinte empresas divididas entre agências e ateliês. Conquistei tudo o que eu sempre desejei, fama, dinheiro, nome, reconhecimento, poder, além é claro, de ser temido desde os mais poderosos aos mais fracos, para eles não tenho um coração, mas um iceberg dentro do peito, não me importo com o que eles pensam sobre mim, até prefiro que tenham essa concepção ao meu respeito. A verdade é que sempre quis conhecer o amor, e a única oportunidade que tive em sentir a profundidade desse sentimento deixei escapar das minhas mãos, talvez não tenha nascido para ser amado.

Voltei para o Rio Janeiro com um único propósito, me vingar de todos os Alvarez de Mendonça, principalmente de Helena Christine Alvarez de Mendonça, se me consideram como uma muralha de gelo é graças a ela que me fez tornar uma pessoa implacável, durante dez anos lutei bravamente para ganhar reconhecimento e uma posição na sociedade. Neste percurso diacrônico o que não me permitia desistir era exatamente ver chegar a minha vez de humilhá-la publicamente, assim como um dia ela fez comigo e, digamos que consegui realizar meu objetivo, mas a vingança tirou o que eu sempre busquei na vida, encontrar e viver um grande amor.

── Olha para você! Exclamou Helena acrescentando, acreditou mesmo que meu filho teria algo sério com um mordomo?

── O que eu sou não o constrange, nós nos amamos! Exclamou Jonathan em lagrimas.

── Percebo o quanto você é ingênuo, tenho pena de uma criatura como você. Disse ela

── Por que a senhora está sendo tão cruel comigo? Questionou Jonathan inocentemente

── Para ver se você volta a realidade e perceba que não passa de um empregadinho insignificante. E se meu filho teve algo com você foi apenas uma diversão. Respondeu ela cruelmente.

── Ele disse que me ama e que iremos ficar juntos.

── E você, é claro, acreditou nisso. Ok, então, explique porque ele me pediu para colocá-lo na rua, pobre infeliz, nunca passou de um simples objeto para Henrique, agora que a diversão acabou você se tornou um peso para ele, por isso me pediu para se livrar de você.

── Me recuso acreditar no que a senhora está me dizendo. Disse Jonathan cabisbaixo.

── Se de fato quer confirmar o que estou dizendo vamos até o quarto dele, pois neste exato momento ele está se divertindo com outro rapaz em seu quarto. ── Jonathan escolheu ver com seus próprios olhos se o que Helena dizia era de fato verdade, para infelicidade do jovem, havia outro na cama ao lado de Henrique, ele voltou para seu quartinho em lagrimas e começou a arrumar suas coisas. ── Agora percebe o quanto é insignificante, jamais deixaria meu filho ter algo sério com alguém como você que nunca teve berço. Ele usou você para salvar a nossa empresa, infelizmente, você tem talento, mas nunca será um estilista renomado, agora que já usurpamos do que queríamos chegou a hora de colocá-lo no seu devido lugar. Mais uma vez Helena torturava cruelmente Jonathan.

── Acredito que a senhora já tenha dito tudo o que queria, ou não? Questionou Jonathan em lagrimas,

── Sim, não tenho mais nada para falar. Apenas ande logo que quero vê-lo longe da minha casa.

── Já estou terminando, mas antes de ir quero dizer que sinto desprezo pela senhora, pode ter dinheiro, está coberta de ouro, mas no fundo é seca, vazia e acredita ser melhor que qualquer um por possuir um misero status social. ── Helena não respondeu com palavras, mas com uma bofetada no rosto do jovem.

── Eu quero que você saia da minha casa imediatamente e espero nunca mais ter que olhar no seu rosto outra vez. Disse ela após a bofetada. ── Jonathan segurava seu rosto com uma das mãos enquanto as lagrimas persistiam sair dos seus olhos. Durante um tempo um clima de tensão pairou sobre o quarto até que o jovem resolveu tomar voz.

── Eu não irei devolver o tapa, mas guarde as minhas palavras, um dia eu serei e terei mais do que a senhora tenha hoje e quando esse dia chegar, e ele irá chegar, e somente neste momento devolverei a bofetada que me deu. ── O jovem rapaz arrumou os poucos objetos que tinha e partiu da mansão dos Alvarez de Mendonça sem olhar para trás, infelizmente, Jonathan já saíra da casa de seus algozes com a gana de vingança percorrendo suas veias. Dizem que o tempo tem poder de curar qualquer ferida, mas nem mesmo tempo com todo seu poder é capaz de apagar a dor de um coração partido.

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