O REFLEXO DO TEMPO

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Devia relatar mais sobre minha infância, mas também, não tenho informações precisas para fornecer. Mas com o intuito de não surgir conceitos tolos de que tudo o que fiz se deu por não ter tido uma excelente educação, torna-se fundamental apresentar o que me recordo, assim como, o que me relataram. Com apenas alguns meses de vida fui deixado pela mulher que me gerou em um abrigo ou orfanato, nunca soube como nomear aquele lugar ao certo, as expetoras e coordenadoras que me criaram também não sabiam muito do meu passado antes de ser entregue ao abrigo, apenas que minha mãe biológica era muito humilde, para mim este motivo é falho para abandonar um filho. Cresci naquele lugar dentro das precariedades que toda instituição carente passa neste país, mas em momento algum culpei o destino e tampouco despertei irá pelas famílias designadas normas, passamos momentos difíceis por diversas vezes, porém, tivemos momentos agradáveis, todos que trabalhavam naquele lugar faziam o possível para termos uma vida menos amarga, pois os meios já haviam cuidado disso. Dentro do abrigo, descobri o sentimento fraterno, o poder da amizade, os valores de respeitos, caráter, dignidade, e é claro, do amor. Aquele lugar foi por muito anos a minha casa, também não havia outro para me refugiar, foi lá que fiz minha primeira amizade, Cinthya, estávamos com oito anos de idade, diferente de mim que praticamente nasci no abrigo, Cinthya foi deixada lá com cinco anos de idade, mas nunca conheci outra pessoa como ela, mesmo diante todas as dificuldades ela partilhava esperança para todos, entre as nossas conversas sempre questionávamos o porquê ainda não tinha sido adotado.

O tempo passou e aos dez anos o que antes era esperado e agora não desejava mais aconteceu, fui adotado por uma família que morava no interior do Rio de Janeiro, um causal de senhores que nunca tiveram filhos e resolveram me tomar como um para eles. No início resisti muito, pois não queria me separar de Cinthya, até pensei em fugir, mas foi ela que não deixou, porém, com tempo percebi que o casal de senhores, Amélia e Raul, eram pessoas boas e o que de fato queriam eram dar todo amor de pais que nunca puderam. Devo confessar que eles me ensinaram muito, me colocaram em diversos cursos, me levaram para vários lugares e cidades diferente, me fizerem ser uma pessoa melhor. No entanto, ainda dentro de mim algo não estava certo, sempre me senti diferente, e ser diferente me deixava inconsolável, levei quatro anos da minha vida tentando entender o que estava acontecendo comigo, então, aos dezesseis anos consegui compreender toda aquela angustia, medo, e até mesmo repulsa que vinha sentindo, foi difícil assumir para mim mesmo o que eu era, não esperava que meus pais adotivos me entendessem de imediato mais para minha surpresa.

── Pai e mãe, preciso contar algo para vocês, mas me preocupo com a reação que terão. Disse Jonathan aos pais após reuni-los na sala da casa.

── Mas o que de tão grave você fez meu filho? Questionou Amélia aflita.

── Diga logo Jonathan, independente do que você tenha feito estaremos aqui para te ajudar. Disse Raul ao filho.

── Acredito que vocês já devem ter observado que não sou exatamente como os outros garotos da minha idade, que sou um pouco diferente deles, por muito tempo fui assombrado e perturbado por não me encaixar nos padrões impostos dela sociedade, todo momento sentia como se o que eu sou fosse um erro ou um crime, ás vezes chegava a pensar que, o que sou fosse tão quanto pior que cometer um crime. Com tempo fui amadurecendo e tudo começou se encaixar, percebi, então, que não havia nada de errado comigo que apenas tenho uma preferência que difere do tradicionalismo.

── Meu filho o que exatamente você está querendo nos dizer? Perguntou Amélia atordoada.

── Pai e Mãe, eu sou gay! Jonathan olha para os pais angustiado, pois nenhum deles esboçavam nenhuma reação apenas ficaram um olhando para outro. O gelar no ar persistiu por mais algum tempo.

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