O CARÁTER NÃO É COMPRADO

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PASSAMOS pelo funeral e seguimos para casa, Hiago que permaneceu conosco até o último momento e nos levou até em casa. Para agradecer pela consideração o convidamos para entrar, Cinthya foi até cozinha preparar um café, somos uma família modesta não podemos dar o luxo de ter uma empregada, seria um gasto auto para nossa realidade. Sentamos no sofá da sala, conversamos, mas em todo momento me sentia sufocado nela casa, era como se nada ali fizesse mais sentido. Porém, era o lugar que tinha para morar, e acredito que meus pais gostariam que desce continuidade nos negócios, pois agora só havia restado Cinthya e eu. Enquanto conversamos, a campainha da porta soou, levantei-me e fui atender quem quer que seja que batia em minha porta.

── Vocês! Exclamou Jonathan.

── Podemos entrar? Questionou eles.

── Sim, claro, por favor! Devo confessar que alguns não conheciam, outros já tinha visto, mas dois deles eram irmãos de meu pai. Assim que dei a permissão eles entraram em minha casa.

── Jonathan, sinto muito pelo que aconteceu com seus pais, mas o assunto que nos trazem aqui é sério. Disse Clóvis, o irmão mais velho de meu pai.

── Sinto que é algo sério mesmo. Queiram sentar, por favor. Aceitam um café, uma água...? Disse Jonathan tentando ser simpático.

── Não queremos sentar e tampouco tomar um café, serei franco com você, meu irmão sempre quis ter um filho, mas a esposa nunca pode engravidar, por diversas vezes diz a ele para ter um filho com outra mulher, como sempre não me dava ouvido e ...

── Diferente do senhor, meu pai era descente. Acrescentou o jovem interrompendo o irmão do pai.

── Não importo com o que pensa sobre mim. Então ele resolveu adotar uma criança e, mais uma vez, entre tantas crianças acabou adotando você que ao certo nem sei o que você é. Enfim, meu irmão ficou tão feliz com a sua chegada que esqueceu de refazer o seu testamento, por isso...

── Espere! Disse Jonathan, todo esse discurso está movido por dinheiro. O corpo do seu irmão ainda está quente no túmulo e vocês vem até minha casa para falar de dinheiro? Jonathan estava furioso.

── Esta é a questão, não é sua casa, é nossa casa. Meu irmão não tinha filho, por isso fez um testamento em que deixou tudo para ser dividido igualitariamente entre os irmãos, ou seja, as duas casas, os dois carros e o dinheiro que tem no banco é nosso, apenas a lanchonete não poderemos tomar de você porque ele colocou no seu nome. Disse ironicamente Clóvis.

── O que está dizendo? Deixa eu ver se entendi, o senhor quer que eu saia da minha casa, é isso? Jonathan estava cada vez mais enfurecido.

── Não, você vai sair da nossa casa. Você seria mais coerente se devolvesse a lanchonete para a família. Porque você não tem nosso sangue, não vejo direito algum para você.

── Não irei devolver nada, assim como, não irei sair da minha casa. Quem irão sair são vocês? Jonathan caminhou em direção a porta.

── Calma Jonathan, disse Jean o advogado de seus pais.

── Jean, diga-me que tudo isso não passa de uma brincadeira de mal gosto.

── Infelizmente, não posso dizer isso a você. Sabe do respeito que sempre tive pelos seus pais, mas eles de fato não mudaram o testamento, esses oitos anos foram os mais felizes da vida deles e, essa felicidade fizeram com que eles esquecessem de reescrever outro testamento. A lanchonete foi a única que seu o pai passou para seu nome, há exatamente trinta dias atrás. Disse o advogado da família.

── Isso quer dizer que ...

── Quer dizer que você tem 24h para deixar a nossa casa. Disse Clóvis interrompendo Jonathan.

── Sinto muito Jonathan, disse Jean, não há nada que posso fazer por você, a não ser recorrer, mas no final será causa perdida.

── Não irei recorrer, o prazo que tenho é de 24 horas para deixar essa casa, correto? Questionou Jonathan.

── Sim, respondeu o advogado.

── Então, por favor, saiam da minha frente. Em 24 horas a casa estará liberada para vocês, agora saiam. Jonathan caminhou até a porta e a abriu colocando todos eles para fora. ── Batendo a porta, voltou para junto de Cinthya e Hiago, que ainda permanecia na casa e presenciou todo o ocorrido, sentando ao lado da amiga, colocou as mãos entre o rosto e por um longo tempo o silêncio pairou pelo ambiente. ── Para onde vamos? Perguntou Jonathan a Cinthya.

── Também estou perdida amigo, não faço ideia para onde vamos. Cinthya que sempre era esperançosa estava estagnada com o que acabara de acontecer.

── Mais uma vez o destino brincando comigo. Jonathan não conseguia entender porque sempre precisa recomeçar.

── Eu tenho algumas economias, dá para irmos a uma pensão por alguns meses. Acrescentou Cinthya ao amigo.

── Eu também tenho algumas economias, daremos um jeito. Agora quem demonstrava confiança era Jonathan. ── Hiago que se mantinha em silêncio resolver pronunciar.

── Sei que vocês não me conhecem o suficiente, mas eu posso ajuda-los. Disse Hiago aos dois amigos.

── E como pode nos ajudar? Quis saber Cinthya.

── Minha casa é bem grande e cabe todo mundo lá, então, arrumem as coisas de vocês e vamos. Disse ele.

── Imagine, como você mesmo disse, não nos conhecemos e, você já fez muito por nós não podemos aceitar, não se preocupe daremos um jeito. Jonathan não se sentia à vontade de ir para casa de uma pessoa que nem conhecia direito.

── Gente, vejo que vocês não estão em condição de recusar, foi um dia cansativo e ainda ter que sair para encontrar um lugar para ficar é desumano. Arrumem o que tem e vamos.

Nenhum deles contrapuseram a colocação de Hiago, de fato estavam cansados demais para argumentar e prolongar a situação que se encontrava, o melhor seria ceder. Jonathan e Cinthya seguiram para seus quartos para fazerem as malas, enquanto Hiago ficou na sala aguardando eles voltarem para enfim partirem. Tudo o que ambos tinham cabiam em poucas malas, a bagagem maior que possuíam era as lembranças do que viveram, dos momentos que tiveram juntos, da casa Jonathan não sentiria saudades, pois ele sabia que era apenas concreto e no fim, o abstrato é o que te torna inesquecível. 

As Marcas do TempoOnde histórias criam vida. Descubra agora