Capítulo 3

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Gustavo e Renata encaravam com cara de reprovação o que Felipe falava, apesar de não concordarem com o ponto de vista dele nem um dos dois interrompeu o garoto à minha frente. A minha vontade era de gritar o quão errado ele estava, porém estava tentando manter o meu autocontrole, assim como os meus amigos faziam.

— O que eu estou tentando explicar é que está tudo perigoso hoje em dia, então nada mais justo do que as pessoas, que não fazem nada de errado, poderem ter armas para se defender — O rapaz de cabelos loiros nos olhava com tanta convicção que acabei me assustando.

— Eu entendo seu ponto de vista e respeito ele, mas já passou pela tua cabeça que mais armas nas ruas só vai aumentar o perigo? Se a própria polícia atira em inocentes desarmados por pensar que são bandidos, imagina as pessoas comuns. Pensa em quantas pessoas podem se ferir ou pior, morrer — A menina ao meu lado fala e sinto calafrios só de imaginar a situação — Se até você que é branco e longe de qualquer suspeita vai correr risco, imagina as pessoas como eu, negras e que automaticamente são subjugadas à marginais?

Ele olha para ela e parece ficar sem o que dizer durante alguns segundos, sei que o que Renata falou o impactou. Por mais que a fala nos causa uma certa angústia, não deixa de ser verdade e não pode ser ignorada.

— Então deveríamos só deixar como esta e ficar de braços cruzados?

— É claro que não, ela não disse isso. Nós precisamos fazer algo, só que mais armas não são a solução — Gustavo fala seriamente e Renata concorda.

— O que os dois estão querendo dizer é que não adianta nada você combater a violência com mais violência — Finalmente me pronuncio e tento falar o mais calmo possível.

Ele iria continuar a falar, mas Carolina o atrapalhou. A garota de cabelos cacheados me deu um empurrão e abraçou Gustavo, o qual retribuiu de bom grado; cumprimentou com um aceno os outros dois que restaram.

— Por que eu apanho?

— Não sei, é porque essa cara linda me faz ter vontade de te bater — Ela diz pegando nas minhas bochechas.

— Desse jeito você me deixa com vergonha — Minha ironia fica explícita e ela pisca para mim.

— Vou colocar minha bolsa lá dentro, já volto.

Renata e Felipe se despedem quando olham o professor indo para a sala deles. A menina de pele morena me dá um beijo na bochecha quando se despede, me viro para a porta Carolina está me olhando com malícia e Gustavo ao meu lado também.

— Ele está vermelho, olha Gustavo.

— Não fala nada — Aponto para o meu amigo.

Para a minha sorte ou não, a professora chegou e tivemos que entrar, o que fez eles calarem a boca por um tempo.

                             ***

Estávamos no intervalo, Gustavo e Carolina falavam sobre alguma coisa da qual não prestava atenção. Eu olhava ao meu redor e via como, aparentemente, todos tinham seu grupo naquela escola. Era engraçado ver o comportamento de todos, alguns grupos não mudaram desde o fundamental, outros foram separados completamente e hoje parecia que nunca tinham se falado.

Meus olhos pararam em Renata que conversava com alguns amigos da sala dela, a postura corporal indicava o quanto ela prestava atenção na conversa. Ela me olha e sorri, fico um pouco constrangido por ter sido pego no flagra, mas retribuo o sorriso.

— Para de ficar babando ela e a chame para sair — Ouço a voz de Carolina dizer.

— Eu já falei isso para ele, mas não adianta nada.

Augusto e Carolina Onde histórias criam vida. Descubra agora