Cap. 2 - Jardins secos

183 32 6
                                    












Sorrio em alumbramento ao sentir meus dedos passearem sobre os curtos pêlos do cachorrinho.

Uma pequena cria perdida de sua mãe. Talvez sua mãe tivesse tido um final triste nas estradas ou um menos catastrófico, como em um canil.

"Está sozinho?" Pergunto. Meu sorriso é quase impossível de conter ao notar a beleza simples da pequena cria. Que não pensou duas vezes antes de se aproximar de mim.

Na verdade, ele afastou-se à medo ao primeiro toque. Mas depois de ter partilhado meu sanduíche, ele logo aproximou-se sem medo. Era tão pequeno, quanto lindo.

"Você gostaria de ir para casa comigo?" Pergunto. Solto ar pelas narinas e inclino o corpo para segura-lo no colo. "Eu acho que você tem dono." Disse ao notar a coleira. Era tão discreta que não havia notado. "Elle." Disse. "O seu nome ou o da sua dona?" Perguntei lendo as informações no outro lado do medalhão. "Tem um número aqui." Falei.

Entristeci-me ao notar que teria que devolver o pequeno animal.

Que afinal era fêmea.

"Parece que vou ficar com você essa noite." Disse. "Amanhã mesmo ligo para sua dona." Falei sorrindo.

Sentei-me novamente, com o animal no colo e continuei lendo.

Sorrio ao ler as palavras quebradas que Emily Brontë me oferecia, mergulhando mais e mais nas ditas, em encontro de paz e utopia.

E se fôssemos flores?

Obviamente, dada a minha condição física incrivelmente equivalente a um diamante, eu não seria qualquer flor.

Não seria uma rosa, nem uma Jasmim, e muito menos uma Acácia.
São flores muito conhecidas e muito... finas. Flores que esbanjam riqueza e beleza só de olhar para elas. Eu seria algo mais campestre. Algo mais selvagem e mais lindo.

Eu acho que seria um cravo. Ou um dente de Leão. Será que o dente de Leão é uma flor?

"Solange." Reconheço a voz do Sr. London. Porque ele demorou tanto?

"Demorou." Afirmo.

"Já estava buzinando para você faz tempo. Mas como sempre, você estava distraída." Ele diz sorrindo e eu sorrio de volta.

"É, eu tava distraída pensando em assuntos importantes." Digo.

"E que assuntos importantes uma jovem de dezesseis anos tem para tratar?" Ele diz desafiador.

"Eu tava pensando em quão linda e rara eu seria se fosse uma flor." Conto a ele que sorri.

"Eu já lhe disse que você é especial?" Ele pergunta e eu olho para ele curiosa.

"Eu não preciso que o diga. Eu sei que sou." Digo que rio. "Mas não. Nunca me disse. E você é especial também." Ele rapidamente notou o animal nos meus braços, e olhou confuso e com curiosidade certa para mim.

Sorrio.

"Vai explicar?"

"Eu me afeiçoei a ele." Disse e entrei no carro, ele fez o mesmo. "Não se preocupe. Ele tem dono, ou dona. Ligarei para o número na coleira assim que chegarmos em casa."

Após estarmos no carro de interior preto, eu me perguntava porque vim para um lugar tão caro, e ao mesmo tempo tão pobre.

Pobre sim, porque as pessoas daqui se importam mais com a marca da jaqueta do que com o sorriso sem maquiagem.

Isso é tão Solange! [NA AMAZON]Onde histórias criam vida. Descubra agora