Cap. 4 - Sem herói, por favor!

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Não é a sensação de estar sendo esmagada que me incomoda... O que me incomoda é ser de noite e meu pai não ter voltado.

Era suposto ele estar aqui. Me apoiando. Minha mãe já esteve entre a vida e a morte. Esperei ele dar a notícia que minha mãe finalmente abriu os olhos depois de dois anos, mas nem isso ele fez.

Eu escutava as discussões dos dois. Na verdade, toda a casa escutava. Apenas Elis me abraçava e prometia que tudo ficaria bem.

E dizem eles que foi amor à primeira vista. Dizem eles que era amor de infância. Diziam eles que nunca acabaria.
E então porque um rabo de saia desviou a atenção do homem apaixonado?

Nada é eterno. Nós envelhecemos, flores murcham e jardins secam.
Às vezes, temos que apenas aceitar esse ciclo. O ciclo natural.

Mesmo depois de anos de casados, ou melhor.. juntos, o casal permanece. Não por paixão, e sim por respeito.
E tal como outras coisas belas, a paixão acaba.

Se Ryan gosta da bruxa da Lexi, ele que seja feliz. Estou pouco me importando.

"E no fim dos tempos... ninguém sobrará para contar minha história..." Recito e escrevo. Eu escrevo todas essas poesias, não me canso. Elas me entendem melhor que muita gente.

Limpo minhas lágrimas. Não irei chorar mais.
Já chega por hoje.

Meus passos são lentos, subindo os degraus das escadas... minha garganta dói. Pois o coração quer chorar, mas a mente proíbe. Faço birra comigo mesma. Sento-me em um dos degraus.

Bloqueio.
Sentimentos magoam. Qualquer tipo de sentimento magoa.

Ah mamãe, como você faz falta.

"Se você estivesse aqui... nada me magoaria tanto. E agora? O que faço? Isso dói demais." Digo para mim mesma. Baixo.

Porque dói? E o que dói?
Porque me sinto incrivelmente destruída, quando nada me destruiu?
Que tipo de sentimento é esse?

Sons de gargalhadas me fazem despertar. São dez e meia da noite. Quem riria assim tão alto?

"Solange..." Lexi questiona se aproximando da escada. Eu olho para ela. "Quinn está aqui. Você não quer conhecê-la?" Ela pergunta e eu limpo minhas lágrimas.

"Você sabe que não pode trazer ninguém para cá. É uma ordem do meu pai." Disse e continuei subindo os degraus.

"Está chorando, amor?" Ela pergunta e eu olho para ela. Ela olhava para mim com a sombra de um sorriso. "Não se preocupe. Seja o que for que seu papai esconde, com certeza te fará feliz." Ela falou.

Não vou nem perder o meu tempo.

Subo os degraus de dois em dois, e ando pelo curto corredor monotonamente. Fecho a porta quando entro no quarto, encontrando a cachorrinha deitada na cama, onde a deixei, dormindo. Desligo a luz e me deito na cama perto dela. Abro meu caderno.

Sentimentos são difíceis de ignorar,
especialmente quando você não sabe para que servem.

Eu sou uma confusão. Suspiro cansada de mim mesma.
Fecho meu caderno e guardo-o no mesmo lugar secreto. Me enrolo nos lençóis e abraço meu coelho de pelúcia.

adormeço.

[...]

O suave toque, levemente irritante, no meu nariz me faz abrir os olhos.

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