Capítulo 1

2.9K 89 100
                                    

Carolina não pôde evitar aquela mordida nervosa no lábio quando abriu a porta e Gabriela deu um sorrisinho. A fisionomia de Gabi era de felicidade e carinho, como se nada tivesse mudado desde a última vez que se olharam dentro daquela casa.

A paulista entrou indo direto pros seus braços. Foi quando Carolina respirou um pouco menos tensa e apertou o corpo da cantora contra o seu. Gabi aproveitou aquele momento pra dar um cheirinho no cangote da baixinha, sentindo os cabelos dela no seu rosto, e percebeu que a outra mulher fez o mesmo, encostando o nariz no seu pescoço.

A mais alta soltou um risinho terno enquanto balançava um pouco o corpo de Carol.

- Parece que foi ontem e, ao mesmo tempo, que eu não te vejo há cinco anos. - Carolina ouviu Gabriela dizer.

A baiana não queria soltar aquele corpo de seus braços, sentia uma falta que lhe doía nos ossos todos os dias e não tinha ideia de quando poderia abraçá-la novamente. Mesmo assim se obrigou a largar Gabi, mas não se afastou, continuou bem perto, olhando naqueles olhos doces que tanto gostava.

- Espero que não tenha sido um problema vir aqui.

- Não foi. - Gabriela disse demonstrando tranquilidade e Carolina sentiu que estava mentindo. Não sabia ao certo se era um feeling real ou se aquilo era coisa da sua cabeça.

Talvez quisesse significar tanto a ponto de incomodar a namorada de Gabi. Pensar que a outra estava se sentindo bem com a paulista ali no seu quarto era o mesmo que pensar que não tinha mais chance nenhuma com a mulher por quem estava apaixonada. Sentiu a respiração falhar ao pensar naquilo.

- Não precisou mentir, né? - A baiana insistiu na questão.

- Claro que não, Carol, ela sabe que eu estou aqui, fica tranquila.

- No meu quarto, é? - A baixinha sorriu encarando com bastante vontade e então a paulista se afastou, começando a andar pelo quarto.

- É, Carol, você não me chamou aqui? - A paulista assumiu um tom mais sério, como se estivesse começando a se incomodar. - No seu quarto, porque queria conversar? - Ela perguntou e voltou a se aproximar da baiana, pra pegar uma de suas mãos. Foi visível quando as palavras lhe faltaram ao sentir a pele quente de Carolina, ao mesmo tempo que recebia um olhar triste e perdido da baiana. Perdido em Gabriela. E foi impossível pra negra não se perder um pouco ali na profundidade daqueles castanhos que eram tão familiares e que sempre lhe falaram tanto. - O que foi, Carol, que você está querendo conversar? - Gabi tentou perguntar com todo carinho possível, alisando os dedos de Carolina.

- Eu prefiro quando você me chama de Peixinho.

A negra sorriu sem mostrar os dentes e continuou esperando que a baixinha entrasse no assunto.

Carolina ficou olhando pra cara séria de Gabriela e soltou um suspiro antes de ir até a cama se sentar. Esperou um pouco pra que a percussionista fizesse o mesmo, mas ela continuou em pé.

A baiana mexeu no cabelo, o mudando de lado, ainda calada, e então se levantou de novo, ficando a uns três passos da paulista.

- Gabi, o que eu tenho pra te dizer é um pouco complicado, ou até idiota... Porque tem a ver com sentimentos e só. Depois desse tempo aqui no mundo real e longe de você, eu tive a certeza do que eu já sentia lá no programa... - Carol deu uma pausa para que Gabriela pudesse falar alguma coisa e molhou os lábios, mas ela continuou muda. - Eu quero você...

A negra arregalou levemente os olhos e olhou para o lado. Buscou a paisagem através da janela e soltou uma risada incrédula.

- Eu nunca imaginei que fosse escutar isso de você, Carol. - Ela falou e voltou a fazer contato visual. - Ainda mais a essa altura.

Só uma conversaOnde histórias criam vida. Descubra agora