Capítulo 3

870 60 66
                                    

- Olha o tipo de coisa que falam da gente, meu. - Maria falou demonstrando chateação e mostrou um print no celular dela. 

"Anônimo: Eh outra q recebeu muito biscoito das famosinhas Gafish e agora ta se sentindo a blogueira. E o pior é q G quer q a gente engula essa dieta goela abaixo, quem provou um peixão baiano saboroso vai querer comida sem sal?"

Eu gelei lendo aquilo, era difícil conceber o que se passava na cabeça da minha namorada quando ela via esse tipo de coisa.

- Nossa, o que é isso, de que site é esse? - Perguntei, me recusando a comentar o que estava escrito.

- O Gus me mandou, falou que chama... - Ela fez uma pausa enquanto mexia no celular. - Curious cat.

- Que merda é essa, cara? Ai, é difícil, já pedi tantas vezes pra pararem. 

- É... - Ela suspirou e bloqueou o celular. - Por que as pessoas se importam tanto com a sua relação? O que tem de errado comigo pra me detestarem tanto?

- Nada, não tem nada de errado com você. 

Era muito cansativo ter que ficar consolando a Low, principalmente porque não estávamos mais no auge da paixão. Era um relacionamento cômodo, de muita amizade, e eu estava sempre tendo que fazer ela se sentir segura, olhada, desejada. Mas eu não a desejava mais com tanto fervor e acabava tendo que mentir pra nós duas.

Principalmente depois daquela noite com Carolina. 

Eu menti pra Low sobre aquela noite, mas qual a chance dela ter realmente acreditado? Como eu, ela continuava no comodismo das nossas mentiras. Ela disfarçou bem, até me pedirem pra dividir o palco com Carol naquele evento sobre big brother. Ela culpou os meus fãs, os comentários maldosos, disse que se sentia humilhada pelas comparações que faziam, pelas coisas que apontavam entre mim e a baiana. Disse que ia dar margem pros comentários maldosos aumentarem. E eu tive que aceitar o pedido dela. Tive que dizer não pra Carolina, com o coração destruído. 

Não posso dizer que achei ruim a insistência da produção, diante disso pude argumentar com Maria e ela cedeu. 

E eu pude olhar nos olhos da minha baiana. Fiquei tão nervosa, como se estivesse naquele quarto de hotel novamente. Meu coração ficava tão feliz perto dela. E era palpável minha tristeza na noite daquele sábado, pensando em como era mágica a companhia daquela mulher e que eu provavelmente nunca mais ia ter aquilo de novo. Tive até febre emocional, como já tinha tido algumas vezes na vida, mas nunca por necessidade, apego, desejo.

Essa febre foi como um sinal luminoso na minha mente, me avisando a profundidade da coisa.

Eu sempre dormia antes da Laura, era uma forma de precisar falar menos. Naquela noite de sábado, acordei de madrugada pra ir ao banheiro e, mesmo derrubada pela febre e exaustão, abri o twitter em busca de notícias sobre Carol. Tanto procurei que achei o que não queria, um vídeo dela abraçada com Alan, beijando a cabeça dele. Aquilo me doeu o peito, senti um calafrio de desgosto, meu corpo já vulnerável por causa da febre. Chorei em silêncio por causa daquela situação de merda em que eu estava. Não estava na posição de me ofender por nada, vinha sendo fria com a baiana nas mensagens porque Low acompanhou a negociação em torno do evento... Eu tinha me negado a me juntar a ela num painel... E, além do mais, Peixinho tinha o direito de ser carinhosa com uma pessoa que sempre foi carinhosa com ela. Mas, sim, me machucou, ver a forma com que Carolina olhava pra ele, ver aquele toque que eu não podia ter.

- Tá onde, pisciana? - Minha namorada perguntou e me trouxe de volta das lembranças daquele sábado.

Eu sorri de leve e fui até ela, dei um beijo em sua testa.

- Fica pensativa com essas coisas não, conheço essa sua cara de tristeza. - Ela falou.

- É só preocupação contigo, por ter que lidar com esse tipo de coisa. 

- Vai lá tomar banho logo, vai. - Low desconversou, sem disfarçar a cara de incômodo. Ela estava com os cabelos molhados e já tinha começado a se vestir pro nosso compromisso.

Obedeci e debaixo do chuveiro voltei a pensar na baiana e naquela falta que eu estava sentindo. Ter ido pra cama com ela foi algo sem volta, principalmente por causa da vulnerabilidade que Carolina tinha me mostrado. Mas tudo, absolutamente tudo que fizemos tinha me agradado. Sempre que eu lembrava daquilo, um detalhe diferente me atingia. O peso do corpo da Peixinho no meu, a maciez, o calor, o cheiro, o corpo suado, a intimidade e o carinho que dividimos.

.

Saí do estúdio depois de repetir a mesma música mil vezes, a cabeça e o corpo cansados pedindo por sossego. Felizmente Laura chegou cedo pra me buscar e ficou acompanhando meu trabalho por algum tempo. Fomos embora, ela dirigindo o carro, e percebi que ela estava inquieta, mas não entrei no assunto.

- Nossa, tô exausta. - Comentei.

- Melhor a gente pedir comida em casa, né?! - Ela perguntou. Estávamos hospedadas na casa de uma amiga.

- Sim...

- Suas fãs estão enlouquecidas. - Laura comentou sem me olhar, prestando atenção no trânsito. - O Alan e a Carolina estão namorando.

Senti como se algo tivesse caído sobre mim, as pontas dos dedos ficaram dormentes e só Laura poderia dizer a cara que eu fiz com aquela notícia. Ela fez questão de virar o rosto rapidamente pra olhar minha reação e depois voltou a olhar pra rua. 

Minha namorada deu um sorrisinho de lado, achando graça de alguma coisa. Eu não saberia dizer se era de mim, dos fãs ou novo casal.

- Sério? Eles postaram alguma coisa? - Perguntei tentando manter um tom casual.

- Postaram, Alan postou uma declaração. Mas não fiquei acompanhando, lógico, né? Isso foi cedo.

- Hm, eu imaginei mesmo que pudesse rolar alguma coisa, os dois se gostavam. - Falei e passei a olhar pro lado, pela janela do banco do passageiro, sentindo algo parecido com raiva e luto.

- Será que ela vai no encontrinho da gaiola? - Low perguntou e deu uma olhadinha rápida pra mim novamente. - A Hana ia amar... - Falou com ironia.








Só uma conversaOnde histórias criam vida. Descubra agora