27. Perfectly Wrong

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Brian (Narr.)

Eu não quis acreditar quando acabei de ler o comunicado, o meu mundo parou e não sabia o que fazer ou como reagir. Olho para o Shawn, que estava a falar com a Teddy e ele aproxima-se assustado com o meu rosto provavelmente. Passo-lhe o telemóvel e ele olha confuso para a tela, até lágrimas começarem a escorrer do seu rosto.

Algo que tem vindo a ser recorrente esta semana. Naquele dia estávamos num churrasco em casa dele, quando a primeira foto apareceu. Passamos de um estado alegre, dadas as altas horas e o álcool, a um estado de choque. Ele perdeu a cabeça nessa madrugada e ignorou todas as nossas tentativas de o acalmar. 

Eu avisei-o que ele devia falar com ela e perceber mas ele estava certo de que ela o tinha mesmo feito, afinal estava à frente dos olhos dele. O nome dela não foi pronunciado por nós nos dias seguintes mas eu e Connor tínhamos a sensação  que havia algo a ser explicado, mas ele não nos deixou falar-lhe. Eu tentei, eu tentei mas ele é como um irmão e coloquei-o à frente, infelizmente...

O Shawn liga-lhe e agora é ele a ser ignorado. Abraço-o forte.

- Tu avisaste-me...como sempre - ele diz em lágrimas

- Isso agora não importa, Shawn 

- Eu odeio-me, odeio-me, odeio-me - ele agarra-se a si próprio, tentando arranhar-se e eu e Teddy paramo-lo 

- Shawn, menos! Agora não adianta, tens de manter a cabeça clara e pensar a sério no que podes fazer - digo sério - Ela é que sofreu e está a sofrer - digo um pouco revoltado, o que surpreeende o Shawn 

Acabo por o deixar só com a Teddy e saio do estúdio, cruzo-me com o Connor, que pela cara também já viu. 

- Eu não sei o que dizer - ele diz 

- Nem eu! Anda, vamos ligar à Marta! Ela não vai atender o Shawn agora

- Ela vai achar que é ele a tentar falar com ela 

- Nós mandamos mensagem a dizer que não e esperamos que ela acredite


Marta (Narr.)

Vejo a mensagem de Brian e aceito a chamada com algum receio de encontrar o rosto do Shawn do outro lado, mas não acontece e dou graças por isso. 

- Marta.. - eles dizem e eu assinto com a cabeça - Nós tentamos - o Brian diz e olho-o confusa 

- Tentaram o quê?

- Falar contigo e que ele falasse contigo 

- Eu liguei-vos - tentei não mostrar desilusão na minha voz mas pelos olhares não fui eficaz

- Ele não nos deixou falar contigo - o Brian justifica 

- E nós também não insistimos o suficiente - o Connor afirma e suspiro 

- Ele deve ter dito coisas horríveis, ele deve ter pensado coisas horríveis... eu também pensaria. Mas eu falaria logo com ele, nem que fosse para lhe gritar e mostrar o quão chateada estava mas nem isso ele fez.. ele ignorou-me, como se eu fosse nada, como se nem valesse a pena - termino já com lágrimas nos olhos

- Desculpa é o que te posso dizer. Eu lamento que tenhas passado por isso, muito mesmo - Brian afirma

- Eu também, se nós soubéssemos já estávamos aí para ti, para te apoiar.. - Connor começa mas eu interrompe-o

- Mas não estiveram e nem ele esteve. Eu não estou chateada com vocês, nem com ele. Estou mais magoada, sabem? Mas enfim... nada a fazer, certo?! 

- Marta, ele ama-te! Ele está muito mal... eu sei que também estiveste e estás e ele não merece que o estejamos aqui a defender mas deixa-o falar contigo

- Como ele falou comigo, Brian?! - atiro de volta - Pois... eu tenho de ir agora meninos

- Precisas de algo? Ficas bem? - insistiram

- Bem não fico, mas vou ficar, eu sei que sim - contenho-me para não chorar 

- Desculpa querida, nós adoramos-te, a sério! - dizem e eu desligo a chamada 

Eu também os adoro. Não estou chateada com eles, nem os culpo, sei que a lealdade que eles têm ao Shawn é imensa e imagino que não tenha sido fácil para eles gerir isso. É o Shawn que segura a faca que parece estar espetada no meu coração. 


Inês (Narr.)

11 de maio. Sarau da faculdade. 

Foi uma obra dos diabos convencer a Marta a vir, e uma obra convencer-me de que este plano era o melhor para ela. Ela não saiu de casa na última semana, os dias de queima foram passados em casa dela, a tentarmos estudar. Contudo acabávamos a ver um filme ou então eu acabava a consolar as suas lágrimas quando as memórias surgiam novamente. Eu chorava com ela. Nunca me vou perdoar de a termos deixado sozinha e por nenhum de nós estar minimamente sóbrio para se aperceber da ausência dela mais cedo. Se algo pior tivesse acontecido... nem quero imaginar!

Entramos no auditório e alguns olhares pousavam na Marta, uns de pena, outros de compreensão e como em tudo, alguns de um certo gozo, a esses eu fulminava-os. Sentamos-nos na fila do meio e esperámos o começo das atuações. 

Alguns atos de comédia, outros de drama, outros de dança. Um pouco de tudo preencheu aquele palco. Até que chega o momento que eu mais temia, a atuação surpresa. Fixo o rosto da Marta para validar a reação dela.


Marta (Narr.)

O meu queixo caiu quando aquele nome foi pronunciado. Os gritos que se fizeram ouvir soavam abafados aos meus ouvidos. Fiquei paralisada. Sinto a Inês pegar na minha mão e dirijo o olhar para ela.

- Tu sabias? - pergunto e ela assente receosa

Volto os olhos para o palco e fixo o seu rosto, notando que ele procura o meu. Ele está mais magro, um rosto cansado mas na mesma perfeito. Os nossos olhares cruzam-se finalmente e ele fala.

- Boa noite a todos! - ouvem-se gritos - como todos deviam saber há uma pessoa nesta faculdade muito especial para mim - ele diz e o meu coração para - e eu magoei-a, muito.. - ele suspira - esta música é para ela! 

Taste the poison from your lips
They leave, we're as good as gone
Oh, our love is drunken in
Singing me my favorite song

...

Oh, you know how much it hurts
Every time you say you hate me
But when we're making love, you make it worth it
Can't believe the places that you take me

...

Oh, you're perfectly wrong for me
Hate that you know that I won't leave

- Obrigado!! - ele diz deixando uma lágrima escorrer e eu estou num pranto

Quando dou por mim estou fora do auditório com a Inês a tentar limpar as lágrimas que escorrem. A porta traseira do auditório bate forte e olho para quem de lá veio.

Os nossos olhares húmidos cruzam-se e engulo em seco.

- Vou-vos deixar - oiço a Inês dizer mas nem reajo, não me consigo mexer sequer


Little Bird

Roses (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora