Capítulo Zero
A paisagem se locomove, distorcida. Árvores com um tom verde muito forte, tampando a montanha invadida por neve no topo. Antes delas, a proteção de ferro da estrada, já velhas e um pouco tortas. A rua é bem lisa e está em ótimo estado, o ônibus quase não treme, mesmo numa velocidade absurda.
O braço posto sob a janela, esticando a mão até o rosto do homem de cabelos loiros, com topete um pouco bagunçado pelo vento que sai da janela, um pouco aberta. Na quina do vidro é possível ver a coloração azul da lataria, combinando com os uniformes, de mesma cor. O homem em questão observa de canto de olho os outros prisioneiros. Bem na frente a grade que protege o motorista permite ver apenas sua boina pelo retrovisor quando ele se move um pouco, ficando possível ver seus olhos desconfiados. Levando em conta que não ofendeu nenhum prisioneiro quando entrou, o homem aproveitando o vento da janela deduz que o motorista está em seu primeiro dia nesse trabalho.
O ônibus não está cheio. Olhando aos poucos, enquanto bagunça o topete ao vento, o homem nota que há cerca de 7 outros encarcerados – Bem... 7 encarcerados apenas, afinal ele não era exatamente um. Pergunta-se quem é seu objetivo.
Logo a frente, um homem de cabeça raspada e tatuagem na nuca, olhando a paisagem também;
À direita dele, no banco do outro canto, um jovem de cabelos bem longos e ombros arqueados, não é possível ver seu rosto, mas ele está com a mão esquerda sob o banco da frente, há piercings em seu braço, fazendo um caminho do cotovelo até a mão;
Alguns bancos atrás há dois homens sentados lado a lado, um de cabelo bem preto e enrolado, e o outro careca – não raspado, mas totalmente careca mesmo. Nenhum deles tem tatuagens, brincos ou qualquer característica do tipo. Os dois, porém, trocam palavras volta e meia, sussurrando. Eles estão nos cantos do bancos, como se quisessem manter distância um do outro, apesar de sentados lado a lado. Deduzindo por esses elementos, o homem buscando seu alvo acha que eles estão planejando algo ou são um casal, tentando não aparentarem;
E por último, no assento a frente, na direita do homem investigando, um senhor com calvície – cabelos só dos lados – e muito, muito magro, usando óculos – Ele era o estereótipo de um professor de colégio. "Que crime teria cometido?".
Relatório de Aiden:
Muito bem, observei todos os suspeitos. As informações que tenho são de que há um infiltrado aqui – além de mim, é claro. Esse indivíduo está vendendo informações para algum país oculto em prol de manipular e ganhar em cima de outras nações.
Qual deles é? O senhor ala professor está tremendo, com a língua nos lábios. Volta e meia ele olha em volta, como se memórias voltassem a sua mente. Apesar de nervoso não demonstra rancor, apenas aflição – Já vi rancor demais para conseguir reconhecer. Ele deve ter cometido algo idiota, como tentativa de abuso, minha aposta é de que ele seja um pedófilo.
O "casal" pode estar tramando algo, sim, porém seriam idiotas demais para sentarem juntos e sussurrarem na frente de todos aqui, inclusive do motorista que tem visão direta para eles através espelho. Provavelmente sua maior preocupação é que descubram seu caso, quem sabe isso seja crime nesse país.
Que país? É uma ótima pergunta, não sei onde eu estou exatamente, mas é uma região desconhecida entre Europa e África.
Os dois últimos suspeitos são: O homem de cabelos longos e o de cabeça raspada tatuado.
Nenhum dos dois se mexe muito, não tremem, não tem manias, nem mesmo respiram muito forte.
Muito bem, estou em um beco sem saída. Hora de apostar.
Peguei um pequenino pedaço da algema que eu já havia quebrado há algum tempo.
Posiciono o metal sob o banco da frente e com o dedo do meio, dou um peteleco nele, lançando-o para a frente do ônibus.
Todos ouvem o barulho, olham para onde bateu, tentando entender o que era. Logo depois buscam de onde veio, virando para trás. Porém eu já estou abaixado e escondido no banco. Alguém iria notar que há um prisioneiro a menos. E para esse indivíduo que está vindo em uma missão tão importante, alguém sumir é um grande problema, ele sem dúvidas vai suspeitar.
Espero alguns segundos, todos já voltaram seus olhares para frente.
Alguém levanta. Alguns passos e ouço o ferro que protege o motorista, o indivíduo foi falar com ele. Provavelmente uma desculpa para se levantar e mudar de lugar depois.
Poucos segundos e volta a dar passos, estava vindo na minha direção, pelo corredor do ônibus.
Logo me veria deitado no banco. Antes disso, levanto-me – sentando normalmente no banco – surpreendendo-o.
Meu olhar bate com o homem de cabelos longos e piercings no braço. Ele estranha ao me ver. Eu começo a me preparar para levantar, mas ele senta do outro lado, uma fileira de banco a minha frente.
Começo a estranhar e vejo o resto do ônibus, espera...
Cadê o "professor" quase careca?
Num movimento rápido, vejo algo vindo na minha direção, por trás.
A faca bate no resto de algema no meu braço, fazendo um som metálico e parando seu braço. Lanço minha outra mão, segurando-o, enquanto firmo ou soco certeiro no seu rosto, o jogando para o corredor do ônibus. Todos se assustam no ônibus, o homem de cabelos longos se contorce, encostando na lateral, com medo. Levanto-me.
No meio do corredor, me equilibrando com as curvas do ônibus olho diretamente a ele, o que parecia apenas um professor pedófilo, mas é, na verdade, um espião. Ele estica a coluna, deixando o reflexo da lâmina em suas mãos visível.
Eu encontrei o meu alvo.
Relatório continua...
No primeiro movimento brusco do homem, Aiden levanta a mão direita, com os dedos bem abertos, arqueados, como se segura-se uma bola.
Ele estala os dedos.
As chamas aparecerem do meio de sua palma, voando ao ar e subindo pelo braço. O som do fogo assusta o espião, que hesitara seu ataque, assim como todos no ônibus.
"Te Peguei", Diz Aiden.
Antes de poder ter qualquer reação, ele firma as pernas e lança as brasas em direção ao seu alvo.
As chamas crescem absurdamente, tomando todo o corredor do ônibus e ganhando muita velocidade. Chocam contra o homem, como uma bola gigante que o empurrara ao fundo, quebrando a porta traseira e jogando o alvo de Aiden para fora. Ele cai no chão, de costas, em pleno movimento, rodopiando pela estrada até parar, todo machucado e com chamas se esvaindo no ar.
Aiden observa de onde estava a porta, seu topete loiro é dominado pelo vento. Ele salta, caindo sob a estrada, porém em pé, tendo um perfeito equilíbrio.
Caminha em direção ao homem, se contorcendo no chão, com fogo ainda no que resta de cabelo.
– É hora de conversar! – Diz Aiden.
Alvo capturado, extração de informações dada início.
Fim do relatório de busca. Operação sucedida.
Assinado: AIDEN.
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FIRE (OBYON-Livro2)
AdventureFIRE é uma história de aventura, investigação e romance, em que um homem chamado Aiden busca por criminosos que estão vendendo informações valiosas no mercado negro. Ao mesmo tempo, ele ajuda uma garota, Tesha, que encontrou abandonada em sua cidade...