Qual é o Caminho da Fé em Tempos de Ruína?

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Ainda que o estado da Igreja seja deplorável, como fica demonstrado, e a ruína e a confusão se façam sentir por todo o lado e se acentua em cada vez mais, não devemos fechar os olhos ao que Deus opera em Sua graça soberana, mesmo em tempos como este, que agora atravessamos. Além da Reforma, tem havido, em diferentes épocas — e também em nossos dias — avivamentos em que muitas almas têm encontrado a salvação. Atualmente mesmo está sendo desenvolvida uma grande atividade para evangelizar. Sem dúvida, seria desejável que esta obra prosseguisse, mas de maneira mais geral e mais de harmonia com a Palavra de Deus e os exemplos que ela apresenta, pois, freqüentemente, apela-se mais aos sentimentos do que à consciência. Por isso a pouca profundidade e realidade nos resultados. Muitas vezes ainda procuramos antes uma melhoria na conduta exterior, de modo que a evangelização acaba por se tornar filantropia. Todavia, e seja como for, há conversões — e Deus seja bendito por elas! — porque o Espírito Santo, descido à Terra no dia de Pentecostes (At 2), age soberanamente e, para a glória de Cristo, salva as almas, conduzindo-as a Ele, apesar das deficiências dos homens e da ruína da Igreja.

 

A Salvação, e depois?

Mas ser salvo já será tudo? Não! Quando uma alma é convertida ao Senhor, ainda fica por resolver a questão da sua conduta. A partir desse momento, a alma não pertence mais a si própria, mas sim Aquele que por ela morreu e ressuscitou. Já não deve, pois, viver para si própria, mas para Ele (2 Co 5:15). Todo o cristão honesto compreende que, nascido de Deus, tem de levar como indivíduo uma vida santa, consagrada ao seu Salvador, em obediência à Sua Palavra. Mas isto ainda não é tudo! A obediência não compreende a separação daquilo que não é segundo a vontade de Deus e o cumprimento daquilo que Lhe é agradável na vida individual. Há outra parte da conduta do cristão que não importa menos: Ele não é chamado para ficar só. Ele agora é filho de Deus, e, por esse motivo, faz parte de uma família; ele agora é membro do corpo de Cristo, foi constituído adorador de Deus, para Lhe render culto em Espírito e em verdade com os outros adoradores. Faz parte da casa espiritual, do sacerdócio santo, para oferecer a Deus sacrifícios espirituais (1 Jo 3:1; Rm 12:5; Jo 4:23-24; 1 Pe 2:5). Portanto, a questão que agora se põe, ou que deveria pôr-se, para todo novo convertido e para todo cristão é esta: "Com quem me reunirei para prestar culto a Deus? Onde se encontra atualmente a congregação segundo a vontade de Deus e o pensamento de Cristo?" E isto não é, estejamos certos disso, algo indiferente a Deus nem ao bem e ao progresso da alma.

No princípio da cristandade, esta questão nem sequer se punha. Não havia senão os judeus, os pagãos e a Assembléia de Deus (1 Co 10:32). Um convertido dentre os judeus ou dentre os pagãos encontrava-se, necessariamente, fazendo parte da Assembléia ou Igreja. Reunia-se, pois, com os cristãos da localidade onde se encontrava, rendia culto ao Senhor com eles, tomava lugar com eles à Mesa do Senhor, que era uma. Em nossos dias, na ruína e na confusão universais da cristandade, dá-se precisamente o contrário. Uma alma é convertida e deseja servir o Senhor. Aonde irá ela? Com quem vai reunir-se? Pergunto ainda: Será que isto é coisa de pouca importância aos olhos do Senhor? Estamos nós obrigados, para resolver uma tal questão, a examinar e a pesar os argumentos que cada igreja ou seita apresenta, não nos dando, afinal, por onde escolher, senão entre opiniões humanas? Ou então seria preciso ir com todos, indiferentemente, como se a verdade se encontrasse em toda parte — ou antes, em parte nenhuma?

Não, e bendito seja Deus por isso! Ele não nos deixou, nem para esta questão nem para a da salvação, entregues a nós próprios, isto é, dirigirmo-nos segundo as nossas próprias luzes. Importa à Sua glória, como convém à Sua sabedoria e ao Seu amor, que andemos, em relação a tudo, no caminho que Ele traçou para nós. Rogo, pois, encarecidamente a cada um dos meus leitores que procure dar-se bem conta do que tem de fazer para obedecer a Deus no que se refere a este importante assunto. O que temos dito acerca da confusão que reina na cristandade mostra bem a necessidade que temos de estar devidamente esclarecidos a tal respeito. O nascimento, as circunstâncias, o apego àquilo que foi o instrumento da nossa conversão ou aos cristãos que estimamos, ou ainda uma certa inclinação por estas ou aquelas formas podem ter contribuído para que nos congreguemos a uma denominação qualquer, mas a nossa responsabilidade perante Deus é de nos interrogarmos: "Estou eu onde Deus me quer? É esta uma congregação instituída segundo a Sua vontade? Juntando-me a ela ou nela permanecendo é a Palavra do Senhor que estou seguindo?"

O Caminho de Deus em Tempos DifíceisOnde histórias criam vida. Descubra agora