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Em pensar que só hoje eu estava fazendo mais exercícios que provavelmente em todos os meus quase trinta anos. Não era por falta de gosto ou aptidão e sim de tempo. Ou será que eu podia contar as caminhadas com os turistas como atividade física? Mas apesar de provavelmente os cinco minutos de bicicleta não terem sido um preparo suficiente pra isso, não tinha como negar algo assim. Eu amo a orla da Zona Sul, tem uma vista espetacular. Sentia minhas energias se renovando só de olhar e a felicidade penetrava nos meus poros. Corri uns cinquenta metros como se não houvesse amanhã, me sentindo a atleta. Pena que menos de dois minutos depois eu já estava colocando a língua pra fora como um cãozinho. Juro que tentei acompanhar o ritmo do Léo, mas definitivamente uma ida a academia não me garantiu condicionamento físico pra isso. Ele, solidário, diminuiu o ritmo e de corrida acabou se tornando algo que poderia ser chamado de trote.

Passamos por um vendedor que mantinha um braço esticado com uma garrafinha na mão oferecendo água para possíveis clientes. Totalmente no clima das corridas — que eu não participava, mas via pela televisão — por um momento achei que ele estava me oferecendo e peguei a garrafa.

— Ei, moça! — o vendedor gritou.

— Ai meu Deus! — voltei. — Senhor, me desculpe! Não sei onde estou com a cabeça — morri de vergonha.

Léo tirou uma nota de dez reais da carteira, entregou a ele e tudo se resolveu.

Depois de meia hora o suor escorria por todo meu corpo.

— Eca! Assim que eu não vou encontrar homem nenhum mesmo.

— Depende, se você quiser um vendedor de água — direcionei-lhe meu famoso olhar fulminante. Perde a amiga, mas não perde a piada esse Léo. Sabia que ele não deixaria por menos, até estranhei ter demorado tanto para falar alguma coisa.

— Vamos dar um mergulho? Afinal, você não me fez colocar esse biquíni a toa.

— Vai você, eu ficarei aqui na areia mesmo.

— Hein?

— Alguém tem que ficar com os nossos pertences. Estamos no Rio de Janeiro e não em Arraial do Cabo.

Eu fui. Não era uma exímia nadadora, mas até que sempre me virei bem. As aulas de natação na infância serviram para alguma coisa. Estava pensando em como minha vida daria um belo livro com todos esses micos e pior, sabia que isso era apenas o começo. Meus pensamentos me levaram para longe, e percebi tarde demais que não só os pensamentos como também as ondas. Bateu o desespero quando não consegui encostar os pés no chão e vi as pessoas pequenas demais na areia. Comecei a me debater feito louca enquanto sentia minhas forças indo embora.

Abri os olhos e a primeira coisa que vi foi um cara muito estranho com a boca se aproximando cada vez mais da minha.

— Ahhhhhhh — gritei e levantei correndo pra bem longe. Quando estava em uma distância que considerei segura, parei para poder tossir e cuspir um pouco de água. Minha garganta ardia pelo esforço e cada respiração parecia uma tortura.

Levei um susto quando senti uma mão no meu ombro. Era o Léo que assistiu tudo e tinha vindo ao meu encontro.

— Acabou de perder uma grande oportunidade — depois que o susto havia passado ele já voltava a falar suas gracinhas. Dessa vez apenas olhei para o céu e balancei a cabeça. Não era bem dessa forma que eu pretendia chamar atenção dos surfistas gatos.

Depois de quase ter passado por Branca de Neve e ter um sapo pronto para me beijar, tomamos uma chuveirada para tirar suor, sal, areia, humilhação pública e deixamos secar enquanto caminhávamos para um restaurante que ele sempre ia me encontrar na hora do almoço quando eu conseguia escapar.

Ter muitas opções às vezes pode se tornar complicado. "Sim" e "Não" é bem mais prático, afinal são 50% de chance de errar ou de acertar. Ou será que sou eu que tenho esse probleminha em escolher? Bom, já ouvi por aí algo do tipo "Escolher é perder." Talvez seja por isso que eu continue virgem. Na verdade não é bem por aí, mas isso é história pra outro momento em que eu não esteja faminta. Era por isso que eu gostava desse local, porque além do seu cardápio variado contava com a sugestão do chef com um prato para cada dia da semana e que era alterada toda semana. Assim eu não precisava escolher e sempre comia algo diferente.

Eu não aguentei esperar e pedi um suco de laranja enquanto a refeição era preparada. Mesmo assim quando o prato chegou eu estava faminta. Meu corpo pedia para repor toda essa energia gasta com urgência. O prato do dia era carne ao molho madeira, champignon e purê de batata aligot. Acompanhava uma salada fresca de entrada e pêra assada de sobremesa. Eu não sei se seria um cardápio aprovado pelo Masterchef, mas eu fiquei muito satisfeita com a explosão de sabores na minha boca.

— E então, quais os planos na parte da tarde? — questionei entre uma garfada e outra.

— Eu que deveria perguntar, já que você é a interessada — ele deu bastante ênfase para a palavra você enquanto apontava o dedo pra mim.

— Achei que seria mais fácil — confessei.

— Não podemos dizer que você domina a arte da sedução, querida. Isso é algo que requer prática e vamos combinar que você não andou praticando nos últimos anos.

— Como é bom ter um amigo sincero — zombei.

— Veja o lado bom, pelo menos agora eu sei que você não vai entrar para um convento. Nada contra as pessoas que dedicam sua vida a isso, mas eu ia sentir falta de você.

— Ah, que declaração linda — ele sabia que eu estava sendo sarcástica. — Come sua sobremesa, é melhor você ocupar sua boca com alguma coisa enquanto eu penso.

3

Depois dessa manhã que eu gastei mais energia que durante o último mês inteiro, somada ao sono que geralmente bate depois do almoço, a minha ideia genial consistiu em ir pra casa, tomar um bom banho e cair na cama. O Léo n

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