12 - Decisões

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Tentar levar uma vida normal era o que eu mais precisava, mas minha mãe tomou todos os cuidados existentes para que eu não fosse parar novamente no hospital e isso incluía uma vida nada normal. As últimas semanas não foram fáceis. Eu estava bem, era isso o que todos precisavam saber, mesmo que fosse uma enorme mentira.

Eu ainda chorava toda noite, não conseguia dormir me revirando na cama. Eu estava totalmente perdido em um emaranhado de decisões ruins ou boas. Eu não comia ou me alimentava do jeito certo.

E o tempo foi passando...

JULHO

AGOSTO

SETEMBRO

Emagreci drasticamente, minhas feições se tornaram vagas e vazias, eu havia perdido a minha vida de alguma forma. A dor já estava instalada em meu corpo e não queria sair. Eu estava perdido e não sabia como iria sair dali. Eu havia perdido mais do que um simples amor, eu havia perdido a mim mesmo, era como se eu tivesse pulado de um penhasco e estivesse pronto para morrer, para não existir e apesar de não ter tentado nada do tipo, essas ideias me rondavam.

"Eu era realmente um fraco?"

Sim, eu sou totalmente um fraco e idiota por ter acreditado em cada palavra e por ter me entregado a ele, mas o que eu poderia ter feito? Nunca fui o modelo namorável e nunca seria. Eu não tinha nada para oferecer a alguém, nada mais do que o puro interesse de um sexo casual ou financeiro, eu estava sendo mais do que pessimista, estava sendo realista.

E foi então que a conheci. Drica, ou simplesmente Dri, apareceu em minha vidinha.

***

Era uma noite de sexta-feira, todos estavam se divertindo e eu, mais uma vez, estava sentado na escadaria da praça com os fones de ouvido me afundando cada vez mais em minha própria dor. Chorar em meu quarto não era uma opção. Minha mãe estava me observando e eu não queria ir para a terapia. Então eu saía de casa para que ela não viesse com a desculpa de que estaria com amigos me divertindo. Próximo de onde eu estava havia um quiosque onde pessoas bebiam e se divertiam, eu não observava aquele aglomerado de pessoas, apenas queria um pouco de paz. Estava completamente absorto em meus pensamentos quando a vejo se aproximar. Um metro e setenta, olhos cor de mel cristalino, cabelos longos, negros e cacheados, vestia um vestido florido justo em sua cintura e mais solto em seu busto e na parte de baixo. Ela se sentou do meu lado.

— Oi — disse ela com um sorriso.

— Oi.

— Está tudo bem com você?

— Por quê?

— Você chora a cada cinco minutos e está sentado aqui sozinho há mais de três horas. Com toda certeza você deve ter algum problema.

Dei um sorriso morto e revirei os olhos.

— Não se pode se afundar mais e sozinho nesta cidade?

— Foi magoado pelo que estou vendo, está se matando enquanto a pessoa que te fez ficar assim não te dá a mínima. Você vai se matar e ela não vai nem se importar com isso. É isso o que você quer?

— Fala sério. É psicóloga?

— Não. Mas achei você tão deprimente e pedindo urgentemente que tenham pena de você que vim aqui te dar o mínimo da pena para ver se você reage.

Aquilo me acertou em cheio, apesar de toda a minha agressividade, eu sabia que era tudo verdade. Que eu não poderia estar lidando com tudo aquilo daquela forma e mais uma vez comecei a chorar. Ela simplesmente me abraçou e me deixou chorar em seu colo como uma criança desprotegida. Enxugou minhas lágrimas e acariciou minha face até que as lágrimas secassem.

— Me desculpe — disse por fim. — Eu fui um grosso com você.

— Eu entendo como é se sentir assim, não que eu tenha sentido porque isso é falta de amor próprio — disse ela de uma forma tão tranquila e banal que não tive como reagir. — Eu me chamo Drica, mas pode me chamar de Dri é como meus amigos me chamam.

— Eu me chamo Alex — dei um breve sorriso.

— Você deveria sorrir mais.

— Por quê?

— Porque você conseguiria o mundo se ficasse sorrindo sempre. — Ela riu e eu a acompanhei. — Então quer ajuda com isso?

— Com o quê?

— A deixar de ser iludido. Pensa nisso. Estarei a uma mesa de distância — disse ela se afastando.

Ela voltou para a sua mesa, animada e cheia de amigos. Olhei para a tela do celular onde ainda estava a nossa foto. Desliguei a tela do celular e o coloquei em um dos degraus da escadaria, eu me levantei e pisei na tela e logo em seguida chutei o celular para longe. Uma brisa gélida inundou o ambiente e olhei para o celular espatifado, peguei e o coloquei no bolso e caminhei em direção à Drica.

Eu havia tomado algumas decisões.

A primeira: eu não deixaria que ninguém nunca mais me magoasse e amar não fazia mais parte dos meus planos.

Caminhei sem presa até a mesa dela e com um sorriso aceitei a sua ajuda, mesmo que meu corpo não tivesse de acordo. Ela me olhou com um sorriso no rosto e me ofereceu um copo de Vodca.

— Seja bem-vindo à felicidade.

Querido Diário | Livro I | Romance GayOnde histórias criam vida. Descubra agora