Capítulo Cinco

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​Com muito esforço lorde Bradley conseguiu guiar-se até o armário, enquanto ouvia Emeline tossir devido a fumaça. Ele teve êxito em vestir a bata de dormir que estava mais fácil ao seu alcance e depois tateou até uma vela, com muito custo acendendo-a. Virou-se para trás e lá estava sua esposa, agora sentada sobre a cama, abraçada à gaiola com o animal, o encarando por trás das grades.
— Está tudo bem? –perguntou, calculando se alguma faísca poderia ter voado e caído sobre ela.
— Estou sim. Apenas um pouco assustada. –ela olhou para a porta, preocupada. — Sua irmã parece desesperada.
Sim,Faith continuava batendo, talvez pensando que algo sério tivesse acontecido ali dentro.
Aaron caminhou até a porta, esperando que sua dignidade não se esvaísse quando ele confrontasse a todos. Ora, tinha incendiado o próprio quarto.
— Oh, Aaron, está tudo bem? –Faith gritou quando a porta foi aberta, e ela jogou-se nos braços do irmão, realmente preocupada. — Sentimos o cheiro da fumaça e ouvimos os gritos.
— Uma vela caiu sobre a cortina. Mas ninguém sofreu dano. –explicou, ocultando alguns fatos. Ele notou o mordomo ao lado, os olhos arregalados para dentro do quarto, e logo pensou que devia ter acordado a todos realmente. — James, prepare um dos quartos de hóspedes para mim e a Duquesa. Dormiremos lá esta noite.
— Sim, senhor. –o homem saiu rapidamente à procura de alguma criada para ajuda-lo.
Quanto a Aaronencostou-se no batente, enquanto observava a irmã ir até Emeline, dizendo algumas frases em voz baixa. Elas pareciam se entender, e isso lhe parecia bom, porque ao menos em alguém sua esposa confiava.
Depois de reafirmar para Faith que tudo estava sob controle naquele momento, o Duque conduziu sua esposa e o animal assustado para o outro quarto à direita no corredor, desejando que as coisas não piorassem. Devido ao susto ocasionado pelo fogo, ele tinha sentido os efeitos do álcool se esvaírem de seu corpo, sua mente voltando a assumir o controle de seus atos. Ao menos era algo bom.
Emeline sentia-se um pouco envergonhada por toda a situação. Não só por Aaron ter incendiado o quarto, mas porque Faith e os criados tinham visto o acontecido, e agora sabiam que ela e o Duque ainda não haviam consumado o casamento... Mas o fariam agora. Será que tinha feito o certo em trazer Thomas com ela?
Ainda sem olhar para o marido, ela procurou por um canto onde podia deixar a arminho, e que mesmo assim ela conseguisse ver durante a noite se o animal estava bem.
— Deite-se, Emeline. Deixe esse maldito animal. –era a voz do Duque atrás dela.  Virou-se e o encontrou com uma expressão nada amigável, os braços cruzados contra o peito, o olhar faiscando em direção a Thomas.
Obedeceu imediatamente, indo para a enorme cama, entrando debaixo das mantas. Era fascinante como até mesmo a cama de um hóspede naquela casa poderia ser maior do que todas as outras que ela já vira em sua vida.
Ela estava então coberta até os ombros, sem ousar se mover, apenas esperando pelo que viria a seguir. E Emeline sabia o que aconteceria. O Duque cobraria por seus direitos conjugais, ela querendo ou não. E tudo que conseguia fazer naquele momento, além de não se mover, era recordar da conversa que tivera com sua mãe, sobre acasalamentos.
Será como os cervos. Lembre-se de como tudo é rápido, Emeline. Você mesma viu acontecer. —Ela meditava enquanto o Duque se aproximava da cama, agora sem dirigir-lhe o olhar. —Talvez devo me colocar na mesma posição que a fêmea fez?
Então Aaron assoprou as velas, apagando-as, e Emeline continuou a pensar em como tornar tudo aquilo mais fácil.
Seria melhor continuar me mantendo imóvel, ou devo levantar minha bata?
O Duque se deitou ao seu lado, e um frio recorreu seu corpo. Oh, seria agora. Engoliu em seco e cravou as unhas no lençol, apenas aguardando pela ação. Decidiu que deixaria que ele fizesse todo o trabalho, e ela apenas seguiria as ordens dele.
Esperou pelas mãos do Duque sobre seu corpo. Esperou que ele lhe dissesse o que fazer. Mas ao contrário disso, o quarto ainda estava em silêncio, o corpo do marido quieto ao seu lado. Até que ouviu um som baixo vindo da direção dele.
Ele havia adormecido!
Emeline o cutucou, testando se ele realmente dormia, e quando Aaron não se moveu e nem respondeu, ela levou a mão aos lábios, tentando não rir da situação.
Ao que parecia sua noite de núpcias não havia sido como todos esperavam.
***
— Bom dia, vossa alteza. –James disse sorrindo no pé da escada, enquanto o Duque descia os degraus lentamente, com a mão na cabeça.
— Em nome de Deus, homem, fale mais baixo. –ralhou Aaron, tentando orientar-se até a mesa onde o desjejum estava disposto. Desabou sobre a cadeira e gemeu quando forçou os olhos a abrirem-se.
— Parece-me que não dormiu bem, senhor. –o mordomo comentou em tom jocoso ao servir-lhe o café.
Aaron gemeu decepcionado. Ao contrário; havia dormido a noite toda, com toda certeza devido ao efeito do álcool. Todos deviam estar pensando que sua situação se devia ao fato de ter ficado acordado boa parte da noite junto de sua esposa, que ainda continuava dormindo. Infelizmente todos estavam errados, mas ele não admitiria.
—Faith já acordou? –perguntou, esperançoso de que o assunto sobre suas núpcias fosse esquecido.
​— Há algumas horas. Ela disse que faria uma caminhada, mas que voltaria antes do início da tarde. –James informou, em tom de veneração à sua jovem senhora.
O Duque tomou um gole do café e empurrou o prato com os ovos, enjoado com a possibilidade de colocar algo no seu estômago naquele momento. Não havia tempo. Coisas precisavam ser feitas. Penneblon Hall precisava de seus esforços, principalmente na questão da inoportuna visita de seu primo, Willian, que provavelmente viria determinado a tirá-lo de seu posto. O que o primo não contava, entretanto, era que Aaron já havia se casado e estava preparado. Nada que Willian fizesse poderia atingi-lo.
— James, avise no estábulo que preciso da uma montaria. Irei à cidade ainda pela manhã. –disse já se pondo de pé.
Havia assuntos os quais precisava resolver com o advogado, justamente a respeito ao seu ducado, caso as coisas tomassem um rumo desastroso.
**

Pouco mais tarde, quando preparava-se para montar, Aaron encontrou a irmã voltando de sua caminhada pelos campos. Assim que o viu, Faith correu até ele, feliz em vê-lo.
— Como está hoje, querida? –ele perguntou com um leve beijo em sua testa.
— Sinto-me exausta pelo passeio. Mas igualmente feliz. E Emeline, onde está? –olhou para os lados, interessada em encontrar a nova integrante da família.
O Duque suspirou, desconfortável.
— Ainda está no quarto. –e quando viu que a irmã corava, tratou de continuar: — Eu gostaria de pedir um favor a você, Faith.
— Farei o que estiver em meu alcance, Aaron. –ela respondeu seriamente. Era fascinante como a jovem colocava-se à disposição do que quer que o irmão pedisse.
— Agora que Emeline se tornou Duquesa, ela precisará saber algumas coisas as quais provavelmente nunca antes precisou aprender. Eu falo sobre como se portar como uma dama, e também sobre se vestir.
— Eu a ajudarei, irmão. O faria mesmo que não me pedisse. –Faith não deixou terminar, empolgada com a ideia. — Simpatizo com Emi, e de verdade, será maravilhoso ajuda-la.
Aaron assentiu, realmente orgulhoso da irmã.
E enquanto Faith corria para dentro da casa, Emeline descia as escadas com dificuldade. O Duque assistiu a irmã dedicar-se a ajudar a Duquesa, que precisou de apoio para chegar até o final dos degraus. Agora era difícil para Aaron não pensar na deficiência da esposa, e acerca de como isso seria tratado quando se apresentassem a sociedade.
Emeline chegou até ele pouco depois, segurando as saias de um vestido marrom, as botas gastas tornando a aparência da mulher ainda mais grosseira. Aaron se manteve parado, as mãos nos bolsos, analisando-a de cima a baixo, com evidente desgosto. Por que ela não estava usando um dos belos vestidos que lhe fora comprado?
— Bom dia, Milorde. –ela o cumprimentou, fazendo uma torpe mesura. Visivelmente sentia dores na perna.
O Duque demorou a responder, seus olhos ainda presos nela, os pensamentos voltados ao passado, no exato momento em que decidira casar-se com aquela mulher.
— Chamarei um médico para vê-la. –disse, ao finalmente levantar o olhar para o rosto dela, e percebê-la corada, o vento desordenando o cabelo escuro.
Emeline respirou fundo, sentindo logo o prenúncio do que realmente era aquele casamento. Não tinha dúvidas de que o Duque iria querer "consertá-la". Só não imaginava que seria tão rápido.
— Posso cuidar das minhas dores, Milorde. Basta apenas que eu encontre as ervas certas. Se me permitir...
— Fará o que eu digo, Emeline. –interrompeu Aaron, irritado com o fato de ela contestá-lo. — Não usará nenhum tipo de erva quando pode ver o melhor médico de Londres.
Ela estava pronta para questioná-lo, para dizer que faria o que quisesse, mas então recordou-se dos votos do casamento, que prometera obediência.
— Como desejar. –assentiu, evitando fita-lo.
O Duque, ainda receoso com a atitude dela, ofereceu o braço, esperando que ela entendesse o sentido.
— Caminhe comigo, Emeline. Precisamos conversar. –pediu, enquanto esperava ela o acompanhar.
Ela pousou a mão no braço do marido, e ele começou a conduzi-la para mais adiante, se distanciando da casa. Emeline mantinha o olhar para o campo, mas podia sentir o quanto Aaron a fitava.
—Tem uma bela propriedade, Milorde. –ela comentou, tentando ao mínimo parecer confortável com aquela situação.
— Penso em ceder parte daquelas terras a alguns camponeses, em troca de trabalho. –apontou ao longe, indicando o local. — Há muito a ser feito, e preciso de quem faça.
— Parece-me uma boa troca. –concordou ela, admirada pela atitude do Duque. — Há quanto estamos do povoado?
Aaron virou-se para ela, parando de caminhar.
— Há menos de uma hora. Precisa de algo? Faith pode acompanhá-la. –ofereceu.
— Não é necessário que a senhorita Faith me acompanhe. Basta que me empreste uma carroça e eu logo estarei de volta, Milorde. –mas bastou cerrar os lábios para perceber como o rosto do marido tinha mudado. Tinha o irritado.
Segurando-a nada gentilmente pelo pulso, Aaron a trouxe para um pouco mais perto. Precisava que ela compreendesse de uma vez o que ele tanto queria dizer-lhe.
—É necessário que eu deixe um pouco mais claro minha posição nesta situação, minha querida. — deixou seu rosto mais perto do dela, quase tocando sua boca no ouvido de Emi. — Este casamento não é comum. Quantas vezes já viu uma mulher como você casar com um Duque como eu? Provavelmente estamos vivendo algo no mínimo escandaloso e inacreditável, que será acusado como loucura da minha parte. Mas entenda; eu não me importo. Desde que você compreenda seu papel nisto tudo e faça o que eu mando.
Com o coração aos pulos, Emeline se desvencilhou dele, empurrando-o.
— Entendo perfeitamente tudo que me disse, milorde. — ela arrumou o vestido, desamassando-o. — Me esforçarei para obedecê-lo, mesmo quando meu maior desejo é fazer o contrário. Serei o mais dócil possível diante de pessoas do seu interesse, e me tornarei um objeto de enfeite ao seu lado. —se despediu completamente sem jeito, com pressa em sair de seus olhos. — Me perdoe, mas vou voltar para meu quarto.
E ela se foi, deixando-o mudo, sem reação diante de tais promessas.
Aaron a viu entrar na casa, subindo os degraus da entrada com dificuldade, e por um breve momento sentiu-se mal pelas palavras que tinha lhe dito. Mas logo o encargo de consciência deu lado a sua racionalidade, que acreditava ter feito algo muito condizente com sua posição naquela situação. Deveria assumir as responsabilidades como marido e Duque.

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