Capítulo 3 [HARLEY]

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— Bom dia flor do dia! — acordo com minha mãe gritando na porta do meu quarto, e papai logo atrás com um bolo de chocolate nas mãos. Eles são maravilhosos.

— Feliz vinte anos! — meu pai grita colocando o bolo no meu colo.

Eu sorrio de orelha a orelha, o que eles estão fazendo vale mais do que a festa mais luxuosa que eu poderia ter a alguns anos atrás.

— Ah meu Deus, obrigada gente! — eu os abraço — eu amo vocês!

— E hoje vamos fazer muita coisa. — mamãe fala enquanto abre a cortina da porta da sacada, o Sol entra iluminando tudo — inclusive, vamos ao desfile anual!

O desfile. E mais uma vez me esqueci dele. Todos os anos a família real organiza esse evento para comemorar o aniversário do país, que coincidentemente, também é no dia do meu. Participei todos os anos que eu estive no palácio e eram incríveis as horas que eu passava em cima daquele carro.

— Não, não. Não vou. — falo passando o dedo na cobertura do bolo e colocando-o na boca, o doce desce suavemente pela minha garganta, adocicando a boca toda — mãe, não vai ser legal... — penso um pouco no que dizer, para que não soe tão ridículo —  ... rever o passado.

— Passado, passado, passado —  minha mãe revira os olhos e se senta de frente pra mim — esqueça o passado, a não ser, claro, as partes boas. Olha, você tem que continuar.

Eu a olho com as sombrancelhas erguidas, mesmo que eu queira é impossível esquecer. As coisas ruins as vezes são tão marcantes quanto as boas. Infelizmente a vida é assim.

Meu pai foi preso, meu irmão também, Mayson.. bom, Mayson é passado, pelo menos eu acho.

— Filha, se não quer fazer por você, faça por mim — ela pega minhas mãos e me força a levantar, hoje só quero ficar jogada na cama. — eu quero muito ir e seu pai não vai poder. E não estou nada afim de ir sozinha.

Papai não vai? Ele sempre foi nesses desfile, ele gosta muito de ver os carro passando e fazer compras na famosa "feira de tralhas", onde pode-se encontrar qualquer coisa possível.

Reviro os olhos. Não quero ir.

— Harley, você se recusou a ir ano passado, esse ano não vai ser assim.

Mamãe me olha meio séria. Realmente a obriguei a fazer outras coisas ano passado.

— Ahhhh, okay, eu vou. Mas só se... a senhora prometer que vai parar com essa história de Mayson. Esqueça aquele beijo mãe, só aconteceu.

Percebo só depois o que falei e coloco a mão rápido na boca, rindo.

— Um beijo?! - meu pai exclama alto demais, arregalando os olhos.

Eu não contei para ele. Não por achar que ele brigaria ou algo do tipo. Mas mais por uma questão de ser meio boba mesmo. Nunca escondi nada dele e me sinto meio culpada no momento por fazer isso agora.

— Ah, querido, pelo amor —  minha mãe pega o braço de papai — vamos lá, me ajude com um vestido. Saímos as dez horas filha. —  mamãe fala na porta antes de fecha-lá e descer as escadas.

Começo a rir ouvindo as reclamações do meu pai lá de fora. Ele ficou chocado com o que eu falei. É tão perfeita a forma como ele se preocupa comigo.

E com tudo isso acabo relembrando o beijo. Aquele foi um momento que voltou a minha mente todos os dias durante o primeiro ano fora do palácio. No início Mayson e eu conversamos quase todos os dias pelo telefone, mas as ligações foram cessando, ficando cada vez menos frequente, até que chegamos ao ponto de se falar apenas raríssimas vezes no mês.

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