prólogo

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– Só de imaginar a gente no ensino médio ano que vem já me bate uma preguiça enorme. - digo, olhando pro meu melhor amigo, Lucas.

– Para de ser negativa, garota! Deve ser tão legal ser do ensino médio! Festas, bailes, gente nova...

– Bailes? Só se for o do dendê. Não estamos em um clichê americano, Lucas. - ele faz uma careta pra mim. – E sobre as pessoas novas: Como você gosta tanto de socializar? Na real, como você consegue manter uma conversa tão grande?

– O segredo é dividir tópicos, amorzinho. - diz, e eu o olho como se não tivesse entendido nada. E eu realmente o fiz. – Por exemplo, se eu for falar sobre, sei lá, futebol, eu primeiro vou falar sobre os jogos atuais, depois sobre os jogadores, depois sobre as competições em geral e etc. - ele diz, como se fosse um grande teorema que ele vem montando há anos.

– Eu nunca esperava dizer isso, mas: você é um gênio. - digo, realmente chocada. – Mas o assunto não fica maçante eventualmente?

– Depende da pessoa, linda. Eu- a frase dele é cortada pelo som da batida de alguém na porta.

Eu levanto, indo até lá. A porta da minha casa é de vidro, então eu posso ver o rosto do meu outro amigo, Matheus, prensada contra ela.

Ele sempre faz essas bobeiras. Sempre foi o palhaço do grupo, desde que me lembro por gente ele estava lá, fazendo essas graças. Quando tínhamos uns 11 anos ele simplesmente fez um desenho de um "gato" no quadro. Quando a professora apagou, percebemos que se tratava de um pênis. Rimos e ele, sortudo que é, nunca foi descoberto.

– Sabe, eu acho que vou vir morar na sua casa. - disse, entrando, sem ao menos me cumprimentar. – Acho que se eu discutir mais uma vez com minha mãe eu me mato, sério. Sem condições.

– Por qual motivo vocês discutiram dessa vez? - perguntei, depois de trancar a porta e segui-lo até meu quarto. – E se você disser que é por causa das suas tal primas de novo eu vou te bater!

– Primas não que eu não divido meu sangue com gente burra. - ele diz, e eu não evito rir. Elas eram, realmente, mais burras que uma porta. – Bruna, simplesmente não dá! Eu-

– "Não aguento mais o povo daquela casa, blábláblá".- a voz de Lucas surgiu e ele apareceu na porta do banheiro. – A gente já entendeu que você não gosta das suas primas, mas eu não acho que possa ser tão ruim. Depois de um tempo você se acostuma.

E foi nesse momento que eu me joguei na minha cama, parando de prestar atenção àquela conversa. Eu gosto dos meus dois amigos, mas eles são simplesmente insuportáveis, às vezes. Quase sempre, na verdade.

Dá vontade de pegar a arma de um dos meninos da boca e mata-los. Ou me matar. Suicidio, homicídio, no fim uma vida vai embora mesmo.

O fato é que, no nível de estresse que eu estou, é simplesmente impossível não achar tudo inexplicavelmente chato. Tudo, mesmo.

Eu tenho quase 15 anos e estou prestes a ir pro ensino médio! Deus, são tantas perguntas... Será que eu vou aguentar? Nem tenho o hábito de estudar. E se eu reprovar? E se os meninos mais velhos me zoarem?

Minha vida seria tão mais fácil se eu fosse uma dessas brancas, loiras de classe média alta.

de láOnde histórias criam vida. Descubra agora