Love Like a Bomb [muke]

2 ┼ Lealdade

Ano 2007

—Mikey, preciso levantar -sussurrou para não assustá-lo.

Estavam assistindo Dragon Ball Z na televisão, um embaraçado no outro, quando a campainha tocou. 

Era comum naquela casa cenas assim, todos os Styles eram muito grudados -principalmente os garotos de treze e dez anos. Seus pais faziam questão de preencher cada espaço da casa com amor, mesmo que fosse nítido certo exagero.

Com um gemido irritado da parte do menor, Harry se levantou e calçou seus chinelos antes de receber quem quer que fosse. Bastou uma girada na chave para que Ashton e Liam invadissem a casa. Amigos desde a infância, praticamente morando ali, não se preocuparam com os bons modos.

—Só falem baixo que meu irmão 'tá dormindo -advertiu Harry lhes dando sinal para que subissem as escadas cautelosamente.

Os três foram direto para o quarto como sempre faziam, mas dessa vez mal puderam entrar devido ao número de caixas e malas espalhadas pelo chão.

—Vocês vão mudar?! -Ashton perguntou assustado.

—Eu vou -Harry sorriu sapeca, se jogando em algum canto livre da cama- A sala de filme vai virar meu quarto!

—Vocês brigaram? -foi a vez de Liam se assustar, encarando-o desconfiado.

Harry negou de imediato, encolhendo os ombros nitidamente desconfortável. Não gostava de como se sentia quando Liam o olhava assim, de forma tão analítica por trás da franja lisinha.

—Vocês me ajudam a levar essas coisas pra lá? 

Sem muito ânimo, todos se mobilizaram com a grande mudança. Como Anne já tinha preparado o cômodo para recebê-lo, não havia muito o que fazer além de levar as malas e se instalar.

Eles viviam a cima da média. Sempre tiveram uma vida privilegiada, mas reconheciam que seus pais trabalharam muito por isso e eram muito gratos. Sabiam que eram mimados, mas não deixariam que isso afetasse a forma como tratavam os demais.

Assim que livraram o quarto de Michael, Harry ligou o vídeo game em seu mais novo espaço e deixou que os amigos se divertissem enquanto organizava seus pertences. 

Já estava terminando a última caixa quando Liam pausou o jogo para buscar refrigerante e acordar Michael. Resolveu que iria substituí-lo, mas assim que seu traseiro afundou na cama, Ashton pulou para cima dele, olhando-o de tão perto que chegava a ser assustador.

—Hazz -sussurrou encarando a porta com seus olhos âmbar uma última vez antes de se pronunciar- que que 'tá pegando?

—Nada, ué! -a voz grossa por natureza caiu numa nota alta, nada gritava mais mentira do que isso. Seu estômago se revirou.

—Qual é? Você nunca quis um quarto só pra você e 'tá todo esquisito, alguma coisa aconteceu.

Agora eram os olhos verdes que procuravam a porta. Harry mordeu seu lábio inferior enquanto lutava com seus próprios pensamentos. Queria poder falar com alguém, mas tinha medo e se quer sabia exatamente o que dizer. Ele mesmo confuso com tudo que lhe atingia nos últimos dias.

—Pode confiar em mim, eu não conto pra ninguém -pediu o amigo ajeitando seu cabelo todo espetado, tentando inconscientemente passar alguma credibilidade.

Só percebeu o quanto aquela intervenção o deixou atordoado quando Liam e seu irmão entraram correndo e se jogaram na cama. O ar voltou aos seus pulmões e só então se deu conta de que tinha as palmas suadas e trêmulas. Ashton  sorriu simpático antes de deixar pra lá. 

O moreninho de cachos passou o resto do dia evitando ficar só ou a sós com alguém. Até mesmo quando sua mãe preparou hambúrguer para a janta, resolveu ajudá-la enquanto os outros revesavam-se no banho. Correndo para se trancar no banheiro o mais rápido possível quando chegou sua vez. Pela primeira vez, desejou que seus amigos não dormissem ali, mas já estava combinado.

Quando chegou o momento, Ashton e Liam tinham colchões ao lado e ao pé da cama de casal para se ajeitarem, Michael e Harry sempre dormiam juntos. Não houve novidades nas decisões. O mais velho, que sempre ocupava o lado da parede, não teria com o que se preocupar agora.

Pelo menos foi isso que pensou antes de levar um susto com o corpo de Ashton se infiltrando no pequeno espaço que não ocupava. Já estavam deitados há tempos e podia escutar o ronco leve dos outros dois, se quer tinha percebido que também dormia antes de ser acordado dessa forma.

—Você não vai me contar? -perguntou Ashton finalmente- Eu sei que você quer.

—Shii -Harry pediu espiando os outros dois sobre seu ombro, seu coração disparada. 

—Pode confiar em mim -pediu.

—'Tá -murmurou tentando raciocinar com uma quantidade absurda de sangue em sua cabeça- Eu... Eu acho que gosto de alguém. Quer dizer, eu gosto.

—De quem? -a voz alta de Ashton morreu dentro dos dedos de Harry, que o repreendeu com um grunhido baixo antes de abaixar a mão- Desculpa, mas me conta. Quem é ela? Nossa, sua m!...

—O Liam -soltou de uma vez interrompendo-o. O nervosismo lhe comendo vivo.

—Hazza -Ashton derramou seu nome como uma expressão de surpresa, mas logo sorriu em cumplicidade- Eu vou guardar seu segredo. Você sabe que 'tá tudo bem, né?

—Valeu, Ash -algumas lágrimas escaparam dos olhos verdes sem que Harry se quer tivesse consciência de estar segurando-as.

—Agora vo' te deixar dormir -assim que se arrastou para baixo, o garoto voltou com a expressão mais séria- Só mais uma coisa, eu não sei se o Liam, você sabe; mas pode contar comigo.

Harry sorriu timidamente vendo-o ir para sua própria cama. Com os olhos fechados, sentiu seu coração se acalmar de verdade pela primeira vez desde que descobriu seus sentimentos por outro garoto.

De alguma forma aquelas palavras e sorrisos tocaram seu coração e aliviaram sua alma. Ashton era mesmo o melhor amigo que alguém poderia pedir.

Do outro lado da cama, Michael se esforçava para continuar respirando normalmente, os braços e pernas doloridos por ficarem tanto tempo na mesma posição. Tinha medo de se mexer e acabar deixando seu irmão saber que escutou tudo. Acabou adormecendo em algum momento, no seu sonho, todos riam de Harry, mas era com Michael que ele gritava.

Quando o sol entrou pela janela na manhã seguinte, o pequeno tinha seu corpo todo suado por culpa dos pesadelos. Com os olhos já abertos, tomou seu tempo encarando o rosto adormecido do irmão mais velho, lembrando-se das risadas e dos gritos.

Não demorou para que o outro par verde encontrasse os seus, um sorriso nascendo nos lábios dos dois.

Não iria contar que estava acordado. Tinha decidido.  Harry continuava sendo Harry, mas só demonstraria seu apoio e carinho quando ele quisesse lhe contar. Ele sempre o protegeu e foi paciente; então faria o mesmo por ele.

—Bom dia, Hazza -murmurou recebendo um beijo nos fios bagunçados, assim como seu pandinha. O que lhe fez gargalhar antes de fazer o mesmo.

Decidiu que era sua vez de cuidar do outro. É o que iria fazer.