Passarinho

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   Está frio e a sala escura e o metal da cadeira não ajudam em nada a diminuir seus tremores. O garoto tem catorze anos e estar algemado enquanto é surrado (repetidamente) já não é mais uma novidade em sua vida. Ficar doente? Claro. Tim querer abraçá-lo? Com certeza! Mas ser sequestrado perdeu a graça desde os seus seis anos quando ele era preso dentro de um carro e forçado a escapar de assassinos com o triplo de seu tamanho. Então ele pode dizer, seguramente, que está entediado com toda essa situação.

Seguindo o protocolo do garoto rico sequestrado, escrito por Dick Grayson, Damian mantém-se quieto, imóvel e assustado. Sua atuação é propositalmente ruim, já que consegue sentir o sorriso rastejar em seu rosto e seus olhos escurecerem e, se a expressão de seus captores é genuína, isso assusta mais do que deveria. Um punho encontra seu olho direito e manda seu cérebro em uma corrida dolorosa. O sorriso continua mesmo depois do chute em seu peito e o puxão em seus cabelos.

—Eu hein, que criança estranha —Um deles fala, o mais gordo e maior dos três. Ele treme e olha em volta e o assassino percebe imediatamente que ele é um amador.

—Esse maldito pirralho! Se acha melhor só por morar em uma mansão!

De repente há um rosto perto do seu. "Perto demais" pensa o vigilante, enquanto encara com toda a raiva que consegue reunir Olhos verdes voam do feio azul gélido do homem para a mulher atrás dele que continua a sorrir presunçosamente. "Se eu não tivesse fingindo esses cães receberiam o que merecem. Eu limparia o chão com esse sorriso."

—Não preciso de uma mansão para ser melhor que vocês. Basta, apenas, olhar no espelho —Uma mão pesada interrompe sua frase quando atinge sua bochecha, tão rápida que o menino acaba mordendo a língua. O sorriso fica um pouco mais ensanguentado, mas fica e é tufo que importa para Damian. Se ele não pode escapar então ele vai ser uma dor no rabo pra eles —Eu, pelo menos, tenho todos os dentes...

O membro faz o caminho reverso e joga a cabeça para o outro lado. Barulho de carne contra carne ressoando alto no ambiente silencioso. Nem meio segundo se passa a antes de Damian voltar a encará-lo, como se ignorasse o líquido rubro escorrendo pelo seu queixo e o olhar assassino do loiro —Céus, há algo errado com esse garoto!

O gordo está frenético, assustado e irritantemente alto e Damian quase rola os olhos quando ele joga as mãos pra cima e começa a gritar. O pobre coitado: tudo que ele queria é acabar com aquilo e sair daquele prédio abandonado. O menino não simpatiza com ele —não que ele simpatizasse com alguém. Ele é incapaz de entender esse sentimento —por causa barra de ferro que o homem alcança. Apenas isso consegue joga-lo em uma espiral de pensamento sombrios e hostis, uma sensação que escorre e trava seus músculos, que se aloja em sua própria mente como uma praga. E não, não é medo que corre por suas veias quando o objeto é entregue ao líder dos três. "Droga! Eles sabem que eu sou o Robin!"

A mulher rir perversamente, como se lesse seus pensamentos. Damian é forçado a controlar o arrepio que escala sua coluna ao mesmo tem que força a linha de seus lábios pra cima na tentativa de manter seu ato. Ele mentiu anteriormente. A verdade é que o garoto é um ator muito bom, porque ele continua a encarar seu atacante com um rosto sem emoção enquanto seu interior se torna um mingau de tontura, dor e raiva.

A barra brilha e cintila sobre a luz fraca. O estômago do pirralho dança e enruga em respostas; a bílis subindo pela garganta, imitando a mesma pressão que a lava fervente produz em um vulcão. Estranhamente, dói tanto quanto se o próprio magma estivesse fazendo o caminho para jorrar de sua boca. Damian percebe que sua febre deve estar atingindo a casa dos 40° se o que mais o preocupa agora é o vulcão na sua barriga.

Grandes pássaros, irmãos pequenosOnde histórias criam vida. Descubra agora