A sede pulsa

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Ele corria desesperado, faltava ar, faltava força e principalmente, faltava coragem de olhar para aquilo de forma racional. De qualquer jeito que pensava, tudo se resumia em três palavras, Fim da linha.

Ele devia parar aqueles caras? Devia? Não era fácil viver nos dias de hoje, ele precisava se virar, era difícil e ele se odiava em grande parte dos dias, contudo precisava fazer o que fazia, porém qual era a alternativa para um órfão sem um teto e sem oportunidades?

Não tinha muitas opções, era roubar ou morrer, mas ele tinha seus princípios, tinha eles bem traçados e matar não era parte deles. Definitivamente não. Ele roubaria para os caras, mas matar não! Nunca!

E então ele invadiu o prédio abandonado e voltou a correr, sabia que tinha uma saída lateral dali, só precisava alcançar o outro lado do rio Han, aquela parte da cidade era de outro grupo, um grupo rival. Estaria seguro lá.

Não muito, mas com certeza teria um tempinho para fugir, de novo.

— JONGUP!!!

O grito de um dos caras soou no lugar vazio e verdade fosse dita, eles não faziam aquilo por eles mesmos, não era pessoal, apenas se você não faz o serviço que te mandam, você some. Simples assim.

Ele correu mais, ele ia ser morto? Droga! Sua vida valia mais viva, certo? Era no que vinha se apoiando nos últimos anos. Ele rendia um bom dinheiro para o grupo e custava muito pouco, mas...

Trabalho negado, era nome riscado.

Droga, ele não podia acabar tão cedo, era injusto!

— JONGUP! Acabou cara, para logo!

E ele tropeçou rolando entre pedaços de um muro destruído e sentindo cada pedaço do seu corpo magro arder. Merda!

E eles o alcançaram.

Up olhou para o colega de assalto e viu a cara de desgosto dele, também não gostavam daquilo tanto quanto ele.

— Porque negou cara, porque? É só um gatilho, aperte e está feito. Era só isso...

— Não posso – Sussurrou querendo chorar, raiva e frustração o afundavam mais ainda em desespero agonizante - Eu só não posso...

— Vou ser rápido, juro, você nem vai sentir.

E ele fechou os olhos aceitando seu destino por fim. Era isso. Trabalho negado, era nome riscado, sabia das regras, sempre soube.

E então o gatilho disparou e ele sentiu a bala entrar em seu peito cortante e precisa. Única, limpa, perfeita.

Os caras foram embora enquanto ele caia de lado e ficava ali, sentindo o corpo sangrar e a mente dispersar em revolta. Ia morrer do jeito que viveu? Sozinho, na sarjeta e como um maldito animal?

Diziam que quando se está morrendo você vê sua vida toda diante dos olhos, ele não via nada, apenas o chão sujo e a escuridão cobrindo o céu do anoitecer sobre ele. Só isso. E claro, a dor, a dor excruciante que arrancava sangue do corpo maltratado, o gosto ferroso subia a boca em grandes goles e ele pensava e pensava em como foi inútil e idiota e em como não fez nada do que queria em toda a sua vida miserável!

Suspirou quando o ar começou a faltar e a dor subir para seu cérebro nublando sua visão. Aquilo era morrer...? Cadê a merda da paz naquilo?

— Jae! Jae corra!

Ele ouviu uma voz firme e ansiosa, contudo já não fazia sentido, fechou os olhos e sentiu segundos depois ser erguido por alguém... Mãos frias, mãos macias o levaram para rente do copo e ele sentiu que talvez a sua paz estivesse atrasada, mas fosse real. Anjo? Seria um anjo? Ele tinha o direito de morrer e ir para o céu?

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