Capítulo 3

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Jayce

Um ano atrás...

Sei que sou louco, mas a adrenalina de uma montanha carregada de neve, ferve-me o sangue. E para mais, não posso deixar de apreciar a majestosa imagem que a minha vista alcança.

- Jayce não tem piada, vamos sair daqui. É proibido!

Ah! Como o meu irmão mais novo é chato... Porra!

- Vá lá, não sejas melga Tip. É só uma encosta pequena.

- Pequena!? Cheia de árvores e pedregulhos!?

O meu irmão olha-me com um ar nervoso, quando me viro na sua direção.

- Relaxa mano, isto não é nada para mim. Eu sou pró em snowboarding, não te esqueças.

- Depois não digas que não te avisei. Vais te magoar a sério!

De braços cruzados, Tip olha-me como se estivesse a cometer um crime.

Suspiro, já com falta de paciência.

- Se não queres vir, isso é contigo. Volta para a pousada e não me estragues a diversão.

- Só estou preocupado. A mãe e o pai não vão achar piada nenhuma.

- Tá tá. Eu não vou me suicidar, tem calma puto. Bem, vou indo, até já.

Pisco o olho ao Tip e ponho os meus óculos de protecção, mas ele revira os olhos.

Saio disparado na minha prancha e desço a encosta como um louco. Adoro esta adrenalina, este perigo. Curvo e entre curvo árvores e outros obstáculos pela frente.

Sinto um frio agradável nas minhas bochechas. Esta sensação de liberdade é do melhor.

Se a Mónica estivesse aqui já me estava a aplaudir tal como quando o faz nos jogos de futebol da universidade. Eu não acredito mais 3 meses e finalmente poderei descansar a cabeça de estudos e todas essas tretas que não servem para nada. Só o futebol me interessa. O Andrew devia ter vindo, mas ele prefere ficar no seu buraco a que ele chama de estúdio e gravar uns bits. Azar o dele não sabe o que perde. Mas prometi-lhe que para o próximo ano viríamos só os dois.

De repente sem me perceber, a minha velocidade aumenta. Esta encosta é mais íngreme do parecia. Tento esquivar-me o melhor que posso, mas a minha prancha embate uma pedra enterrada na neve que nem tinha reparado e saio a voar contra um pinheiro enorme.

O meu corpo embate na árvore como se eu fosse uma bola a ir direto no poste de uma baliza. Em frações de segundos vejo a minha vida andar para traz. Porra!

Caio como um boneco de cara na neve gelada. Os meus óculos estão partidos e não vejo nada além de vermelho. Merda! Sangue. Tento me mexer e nada, nem um músculo me responde.

Tento gritar, mas é inútil. A minha voz mal se ouve e estou longe da pousada. Eu não acredito que vou morrer aqui.

Porque não dei ouvidos ao Tip!? Que desgosto vou dar nos meus pais. Penso no que vivi até agora. As emoções que experimentei. Amanhã não vou poder celebrar o meu 22º aniversário.

Nem tive tempo de me apaixonar. A Mónica pode ser a minha miúda, mas nunca lhe disse que a amava. Aliás nem sei ao certo o que é isso. Nunca senti aquele frio na barriga ou as borboletas como os meus pais me falaram.. Vou morrer gelado sem nunca ter encontrado algo que os meus pais têm desde que se conheceram. E que belo irmão que sou. Vou deixar tudo nas mãos do Tip. Coitado, ainda nem maior de idade é.

Linhas do destino (Pausada)Where stories live. Discover now