Capítulo 10 - Desalento

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"Estão todos... mortos!"

As palavras ainda ressoam pesado pela sala. Tin ouve o caçador, mas precisa entender melhor o que aconteceu. Ele afasta Can um pouco e gentilmente o conduz para o sofá, sentando-se junto a ele.

— Acalme-se... — ele pede, percebendo como é difícil para o caçador conter as próprias lágrimas. — Conte-me o que aconteceu.

Can respira fundo e então tudo volta em sua mente.

**********

O maligno vampiro o está segurando pelo colarinho com uma das mãos, enquanto a outra torce o seu pulso até que ele finalmente solte a estaca. O barulho daquilo que seria a sua última esperança caindo pelo chão o deixa aterrorizado, e então o monstro o arremessa longe. O baque seco de suas costas indo contra o chão é ouvido, e Can se contorce pela dor. Ele mal consegue soerguer o corpo, apoiando-se em seus braços.

O vampiro se aproxima o olhando com superioridade, porque ele está ali, no chão, acuado como um animal amedrontado.

— Você é o último que resta!! — diz o vampiro sorrindo ameaçador. Todos os caçadores estão mortos, os corpos espalhados ao redor. Aqueles homens haviam sido muito idiotas por tentarem enfrentá-lo. Ele teria ido embora logo após ter acabado com eles, mas o único motivo pelo qual continua naquele lugar é porque está preso no círculo do exorcista. No entanto, ele dará um jeito nele logo logo, e então estará livre.

O vampiro avança, rindo sobre como é patético aquele jovem que fecha os olhos esperando pela morte certa. Ele só quer pôr os dedos em torno daquele pescoço e esmagá-lo cruelmente até ouvi-lo estalar, mas quando as mãos estão prestes a alcançar o seu objetivo, um reflexo de luz o faz parar. O que era aquilo brilhando no pescoço do caçador? um crucifixo? Aquela coisa não poderia detê-lo. A criatura inclina-se sobre Can, como se estivesse farejando algo, inalando profundamente o ar.

— Pro inferno!! Aquele infeliz teve a coragem de reivindicar um caçador?! Um maldito caçador!! — A ira pode ser sentida naquelas palavras. O vampiro está revoltado porque agora não será possível eliminar o homem à sua frente. Ele não pode matar um reivindicado. — Liberte-me!! Deixe-me sair ou eu vou te surrar até que seus ossos estejam todos triturados.

Apesar da ameaça, Can balança a cabeça se recusando. Mesmo que ele estivesse assustado, havia jurado que manteria o círculo intacto até que o vampiro estivesse liquidado, e ele vai manter esse juramento, mesmo que isso custe a sua vida.

— Pode me matar se quiser!! Mas não vou deixar você sair — o caçador diz com convicção, ele tem esperança que os caçadores nos postos de retaguarda tenham percebido e possam enviar algum reforço, ele só não sabe que até mesmo eles também já estavam mortos.

— Idiota!! Deixe-me sair agora!! — O vampiro exige, e diante da negativa do caçador ele o chuta. Isso só serve para irritá-lo ainda mais, já que mesmo assim Can continua se recusando.

Um gemido é ouvido em um canto, e eles olham para um corpo estirado que passa a se mover lentamente.

— Então ainda temos um outro inseto vivo? — diz o vampiro largando Can e indo na direção do caçador estendido no chão. — Acho que vou esmagar esse primeiro.

— Champ!! Não!! — ele grita querendo se levantar para ajudar o amigo, mas não consegue impedir que o vampiro o machuque.

O vampiro sorri impiedoso, pois agora sabe o que afeta o exorcista.

— Sua última chance — ele diz. — É simples, liberte-me e você e o seu amigo ficarão bem — o caçador agonizante recebe mais um golpe e um estalo pode ser ouvido. Talvez uma costela quebrada?

Can fecha os olhos. Ele não liga para o que acontece com ele mesmo, mas não pode negligenciar um companheiro caçador. E arrastando-se pela terra até a borda, ele espalha o sal com as próprias mãos quebrando o círculo.

O vampiro se vai rapidamente. Revoltado, Can bate com as mãos firmes sobre a terra, e então finalmente ele se levanta indo até Champ para socorrê-lo.

— Ei, aguente firme! Você vai ficar bem.

Foi muito difícil para Can percorrer todo o caminho da volta a fraternidade carregando o companheiro em suas costas, mas ele havia conseguido. O líder dos caçadores lamenta toda a situação e logo envia um grupo até Alcanes para trazer os caçadores de volta, ou ao menos, o que restou deles. Techno havia dado uma rápida olhada em Can e constatado que seus ferimentos eram leves, diferente do outro caçador que estava muito ferido, então eles levam Champ para a enfermaria.

Com isso, Can vai para o próprio quarto, o banho rápido que tomou lavou a terra e o sangue de suas mãos e de seu corpo, mas não lavou sua tristeza e frustração. Ele perde as contas de quanto tempo passa sentado em sua cama, apático, olhando para o nada, antes de se vestir. Mas quando finalmente sai do seu dormitório e vê a pira fúnebre sendo montada no pátio, ele perde qualquer resquício de controle emocional. O caçador sabe que é a tradição, mas a visão a sua frente despedaça cruelmente o seu coração. Ele foge da fraternidade sem ser visto, e é por isso que ele está agarrado à Tin agora.

*********

Depois de ouvir toda a história, Tin o abraça novamente, afagando-lhe os cabelos, tentando oferecer um pouco de conforto.

— Eu sou um inútil, Tin — diz Can novamente em meio a lágrimas.

— Ei, não diga isso... você não é inútil.

— É claro que eu sou! Eu não consegui fazer nada!

— Você fez o que você pôde. E você não desistiu, lutou até o último minuto — olhar para a expressão do caçador está machucando Tin como ele nunca imaginou.

— Mas... eu... eu desisti... Eu quebrei o círculo! — a voz do caçador é um misto de tristeza e frustração.

— Você não desistiu, Can. Você não fez isso pelo vampiro. Você fez isso por uma vida. E você salvou o que ainda podia ser salvo.

— Mas isso não foi o suficiente... Por que, Tin? Por que Isso dói tanto? — ele questiona enquanto o choro continua fluindo.

— Está tudo bem. Você precisa descansar — Tin nunca se imaginou consolando alguém antes, mas se tratando daquela pessoa, ele não vê isso como um problema. — Volte para a fraternidade. Vai se sentir melhor depois de dormir um pouco.

— Não! Eu não quero voltar! Eu não quero estar lá quando... — Can não prossegue, mas a verdade é que ele não quer estar lá quando a pira for acesa. — Deixe-me ficar aqui.

— Você quer ficar aqui? — O vampiro repete. — Bem, eu posso preparar um quarto pra você.

— Não! No seu quarto! Com você! — as palavras saem um pouco exaltadas, mas Tin o está olhando como se ele precisasse ser mais claro, e então o caçador continua. — Eu quero dormir com você. Por favor... Durma comigo, Tin!!

Diante daquelas palavras, Tin devolve um olhar um pouco surpreso. Ele realmente não esperava um pedido como aquele.


Notas da autora:

Olá povo,

E esses dois, hein?? Amo tanto 💖

Então, provavelmente vou estar ocupada na semana que vem, então pode ser que a atualização atrase, mas não desistam porque eu volto!! 😊

Love in Darkness [Em Pausa]Onde histórias criam vida. Descubra agora