2 - Valquirias

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     30 anos atrás

   Edgar sabia dos riscos de sua jornada, mas para alcançar sua maior ambição deveria continuar. A prova final para se tornar um ferreiro de almas, era construir uma arma com os restos de um dragão recém morto, ou seja, matar um dragão.   Por sorte os dragões negros estavam ficando numerosos e se aproximando muito das cidades, então guildas de guerreiros eram contratadas para caça-los a serviço do rei, bastava apenas acompanha--los e aproveitar a situação.  Edgar havia se juntado a um grupo peculiar, mulheres com armaduras prateadas e cabelos loiros, que não ligaram para sua companhia desde que não interferisse no combate. Após um dia de viagem chegaram ao topo da montanha onde uma das feras estava usando de moradia.

- Dentro dessa montanha existem ruínas de uma antiga cidade anã, segundo alguns elfos da floresta próxima, o nosso alvo entrou sobrevoando o topo, vamos entrar pelas cavernas e embosca-lo lá dentro. - Está é Maria, a líder dessa expedição, uma mulher que conseguia ser rígida e manter o tom delicado em seu belo rosto. - Está entendido?

- Sim, comandante - Responderam as outras 3 guerreiras em uníssono.

-  Isabel, por favor acompanhe nosso companheiro de perto, caso sejamos surpreendidas por algum morador das ruínas.

- Sim, senhora! - Uma das mulheres, desembanhou a espada com um giro ágil nas mãos e se pôs ao lado de Edgar, que com uma expressão curiosa tratou logo de perguntar.

- Morador das ruínas? Ainda tem gente aqui?

- Bem... Não exatamente. Quando a cidade foi abandonada, algumas, hummm… coisas, saíram do subterrâneo e ocuparam ela.

   Ao atravessarem um túnel estreito que entrava pelas paredes da montanha, não tardou para que avistassem uma antiga cidade anã, uma construção magnífica com belas casas ornamentadas em ouro puro, ouro que já teria sido saqueado, não fosse o perigo de entrar ali e não sair mais.  Isabel, aproveitando que estavam mais afastados de Maria, usou a oportunidade para conversar pela primeira vez com Edgar.

- Então, oque é exatamente um ferreiro de almas?

- Basicamente um ferreiro capaz de prender uma essência viva na arma. Podemos nos conectar com um ser recém morto e conduzir sua alma para um receptáculo que o transforma em poder puro.

- Você fala como se já fosse um. - Isabel abriu um sorriso que fez Edgar cair o queixo. Antes de começarem a jornada, Edgar visitou o prédio da guilda das mulheres, o "Hall das valquirias", que é como se auto proclamam. Todas as mulheres naquele local eram dotadas da mais pura beleza, e estranhamente todas loiras e de olhos azuis. Edgar pensou que talvez esse fosse o quesito para entrar no grupo.

- Tecnicamente já sou, mas pra merecer o título temos que provar nosso valor forjando uma alma grande.

- E depois disso? Oque mais o senhor quer da vida?

- Abrirei uma oficina na minha cidade e então formarei uma família.

- Uma pena não poder ajudá-lo com isso também, senhor Edgar. - Disse em um tom provocativo, fazendo com que o ferreiro ficasse vermelho e sem jeito.

- Atenção! - Maria gritou apontando sua espada para um beco entre duas casas.

- Atrás de min, Edgar. - Isabel, que já tinha sua lâmina em punhos, assumiu posição defensiva enquanto o ferreiro observava por cima de seus ombros tentando ver seja lá oque os ameaçava ali.
   O Sol estava no topo do céu e iluminava a passagem no topo da caverna, era possível caminhar pela cidade naquele momento, mas as criaturas se encondiam nas sombras das casas, só era possível enxergar pequenos olhinhos vermelhos e brilhantes os encarando de longe. Após cinco segundos, um dos olhinhos começou a se mover para frente e entrando na luz, Edgar reconheceu imediatamente as criaturas.
   A muito muito tempo atrás, devido a um longo  verão que durou anos, os elfos da neve foram obrigados a procurar abrigo no subsolo para que pudessem sobreviver ao clima, no entanto, quando tudo se normalizou na superfície, o povo havia sido dado como morto e ninguém fez questão de procurá-los. Anos mais tarde uma nova criatura com traços elficos emergiu das cavernas, a ausência de nutrientes diminuiu o tempo de vida dos elfos e após anos de reprodução no subterrâneo, a raça antes bela, evoluiu para algo asqueroso e perigoso, foram chamados de toupeiras.
    Agora todas as criaturas caminhavam para fora das sombras, pessoas de aspecto esquelético, sem nariz e com olhos tão grandes quanto suas orelhas de elfos, e o mais bizarro de se ver, todos completamente nús.

- AELYN!! - Ao proferir essa palavra, a alma na espada de Maria despertou e pôs a lâmina em brilho intenso fazendo com que as toupeiras recuassem. - Eles odeiam luz forte. Garotas, agora.
   Ao ouvir a ordem, as outras duas guerreiras avançaram como flechas nas criaturas, algo sobrenatural e assustador, pedaços das toupeiras voando para todos os cantos e colorindo o chão de vermelho. Em poucos segundos já havia acabado.

- Incrível. - Exclamou o ferreiro, pasmo com a velocidade e força das guerreiras.

- Isso não foi nada, senhor Edgar, não é atoa que nossa guilda está pegando a maioria das missões contra dragões. - Maria tinha muito orgulho de fazer parte das valquirias e deixava isso claro em suas palavras, mas era diferente das famílias de guerreiros nobres.

   Até o centro da cidade houveram mais dois encontros com toupeiras, que novamente foram facilmente despedaçadas em segundos até que finalmente encontraram a gigantesca bola de escamas adormecida, e para sorte deles… vulnerável. Mas também para o azar, estava ficando tarde e o sol agora mal entrava pelo topo da caverna e tinham que se guiar pela luz da espada de Maria. Um vento morno soprou no grupo enquanto olhavam para o topo, ao voltarem o olhar para frente, grandes olhos amarelados os observavam, o dragão negro havia acordado.

Black - O livro das feras  (Em Andamento) Onde histórias criam vida. Descubra agora