O último dia

8 1 1
                                    


Planeta Nashdom, na pequena cidade satélite Nikosgrado.
Anda logo Kris! Gritou Mira, vamos nos atrasar para a primeira aula, ela completa. Já arrumada e apressando sua irmã.
— Dá para ter calma? Temos mais 20 anos de estudos pela frente! Isso se não formos estudar mais nada depois né...
— Tua irmã não quer perder a primeira aula Khrislanya, se apresse!
Interrompe sua mãe Kirshna, uma mulher bonita que de acordo com os padrões terrestres aparentaria seus quarenta e poucos anos, mas que nos padrões de Nashdom poderia se dizer uns 90 anos, o que significava que ela mantinha uma boa aparência para a idade, já que estava para fazer uma década a mais que isso.
—O interesse dela não é a aula de economia antiga mãe, posso garantir! — Diz Kris sorrindo.
—Pára Kris!
—Vai me dizer que se interessa em economia antiga? Na época em que se "compravam" as coisas ao invés de simplesmente recebê-las? Nem sei porque estudamos isso...
—Estudamos pelo mesmo motivo que estudamos as guerras antigas, para nunca cometermos os mesmos erros. Ai ai, não sei por que eu não fiz como todo mundo e tive um casal? Ou melhor, não tive filhos? — Brinca a mãe.
15
—Ai mãe que horror! Responde Mira, você escolheu ter as duas por que ninguém mais quer ter filhos e a população de Nashdom está diminuindo.
—Besteira! Sua mãe se apaixonou por vocês desde que as viu na incubadora, diz uma voz grave vindo da cozinha, ela na verdade não conseguiu escolher uma!
—Mikhail! Não me entregue assim! E se apresse ou irá se atrasar também, não é hoje a sua apresentação?
—Sim, é hoje...
—Vai apresentar o novo projeto de aeronave pai? — Pergunta Kris.

—Vou filha, hoje apresento o projeto ao concelho de engenharia aeronáutica, se for aprovado...

—Irão construir um projeto seu! Interrompe Kris empolgada, tenho certeza de que irão gostar pai! Mal posso esperar para o dia em que construam algo que eu projetar!
—Você tem 22 anos, nem começou seus estudos de engenharia Kris! — Diz a mãe — pare de sonhar e se apresse. Você sabe que não se constrói nada tão facilmente, tem que ser muito bom para que o concelho de engenharia aprove e depois para que decidam construir tem que ser provar a necessidade disso. Lembre-se de que tudo é para todos e de todos.
—Ah eu sei mãe, mas não te dá um orgulho saber que alguém da família tem um projeto construído? — Responde Kris.
—O motor do papai é famoso em várias cidades Kris, assim como os quadros da mamãe —Diz Mira —, já temos pessoas na família que são reconhecidas!
16

—Quando vocês irão se mudar para a segunda fase dos estudos mesmo? — Pergunta a mãe em tom de brincadeira.
—Daqui a um mês estará livre de nós — responde Kris, descendo as escadas correndo, terminando de vestir um casaco — e será o início da minha formação em engenharia aeronáutica.
E assim as duas irmãs saem de casa as pressas para conseguirem pegar sua condução a tempo.
—Como crescem rápido — diz Mikhail.
—Demais — responde Kirshna.
—Agora que elas saíram, me diga, qual era o motivo da pressa de Mira? Ou devo dizer quem?
—Eu acredito que seja uma das amigas de Kris — responde Kirshna.
—Mesmo? Interessante, mudando de assunto, me preocupa que a Kris queira tanto ser engenheira.
—Você conhece a sua filha, sabe que ela tem aptidão, acho muito difícil que ela não seja considerada apta para isso.
—Eu espero que seja, pelo bem dela.
O transporte escolar era algo como um metrô de superfície com 3 divisões, que, utilizando a tecnologia magnética flutuava, se deslocava sem o mínimo ruído e a altíssimas velocidades. A condução era automática, uma vez programado ele seguia sua rota sem erros, utilizava um mínimo de inteligência de forma que conseguia tomar decisões de trânsito e evitar acidentes. Como todos os autômatos da cidade, era interligado à "rede", que é como chamam a
17

gigantesca rede de comunicações planetária, e através dessa monitorado, e se necessário, controlado pelo comando central.
Kris e a irmã usavam o transporte como todos de sua cidade, o transporte escolar era uma tradição antiga, onde os amigos podiam passar mais um tempo juntos antes de cada um ir para sua classe. Todos no transporte já se conheciam e se cumprimentavam quando entravam.
Os centros de formação não ficavam na cidade, eram formados por um enorme complexo fora das mesmas, porém antes mesmo de chegarem ao centro, algo diferente aconteceu, o transporte começou a diminuir a velocidade e simplesmente parou, sem qualquer aviso.
Todos se entreolharam e todas as conversas cessaram uma a uma, restando o silêncio involuntário. Todas estavam a espera de que alguma notícia surgisse nas telas de comunicação ou que o transporte voltasse ao percurso normal.
Estavam no meio do nada, apenas vegetação e a estrada a volta, ao norte se via apenas as silhuetas dos grandes edifícios da cidade mais próxima, a visão fez Kris pensar que nunca havia entendido como pessoas poderiam escolher viver aglomeradas nos grandes centros havendo tanto espaço e casas afastadas dos mesmos, ao se virar para falar com sua irmã, um clarão muito forte vem trás dela, os vidros do transporte "escureceram" quase que imediatamente mas mesmo assim algumas pessoas gritavam com as mãos aos olhos, com a proteção ela conseguiu olhar para a direção do clarão, era a mesma direção que estivera olhando momentos antes, mas no lugar das imensas torres de mais de duzentos andares, agora um cogumelo gigante de fumaça e fogo surgia.
Até mesmo o transporte pareceu ter acordado, voltou a levitar e a se movimentar, porém em um caminho contrário, voltando para a cidade que havia deixado. Luzes vermelhas piscavam em seu painel e nas telas de aviso a mensagem de alerta de emergência piscavam em vermelho com um fundo
18

preto, após alguns segundos outra mensagem, um dos dirigentes do conselho de Nashdom surgiu na tela, pedindo a todos calma e que se dirigissem para suas casas.
Todos correram para pegar seus comunicadores, alguns os tinham em anéis ou pulseiras, e os mais tradicionais em pequenas placas retangulares, mas não conseguiram, os aparelhos não conseguiam sinal, Kris se deu conta de que o transporte havia sido projetado inicialmente para se deslocar através de um campo radioativo que existe em um deserto ao norte e que a blindagem do mesmo é que deve ter impedido que deixasse de funcionar, pois uma explosão daquela magnitude só poderia ser,
—...nuclear...
Sem perceber ela falou em voz alta o que estava pensando.
—Uma explosão nuclear?

Uma voz surgiu a sua esquerda, era sua amiga Katya, espantada e olhando para o cogumelo que se afastava.
—Será que estamos seguros?
—Sim — responde Kris —, a cidade estava bem longe e estamos nos afastando a alta velocidade, os comunicadores não funcionam porque muito provavelmente as linhas ficaram embaralhadas com a explosão.
—Explosões, diz outra voz, dessa vez era Anya, vizinha e amiga de infância de Kris.

Olhem, diz ela apontando para o que seria a parte de trás do transporte.
—Mas o que tem naquela direção, ali só tem...

E Katya se cala, percebendo que aquela explosão só poderia ser no próprio centro de formações.
19

Kris aponta em outra direção, sem dizer uma palavra, no horizonte se viam mais cogumelos surgindo, todo o veículo fica em silêncio.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: May 18, 2019 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Nossos MundosOnde histórias criam vida. Descubra agora