Prólogo

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— Digite o número da sua matrícula, por favor — a bibliotecária disse quando fui pegar um livro. Seu tom de voz preguiçoso me fez soltar um suspiro e ela bocejou logo em seguida.

Digitei o número da minha matrícula, ela pediu minha digital e esperei pelo comprovante de empréstimo.

A jovem bibliotecária de longos cabelos ondulados e castanhos claros, que em alguns momentos pareceu ruivo, cujo crachá a nomeava de Hana Collins, bocejou três vezes seguidas enquanto eu esperava.

— O sistema está lento — explicou e apenas assenti em resposta.

Me sentia angustiada naquele dia. Meus pais haviam brigado de novo e eu estava com medo de dizer que iria repetir uma disciplina. Na verdade, talvez não repetisse, mas precisava de uma nota muito alta na prova final. Estava pegando um livro de Álgebra para estudar e ver se tinha alguma sorte.

A universidade estava muito calma naqueles dias, apenas os indivíduos como eu, que ficaram de prova final, estavam sofrendo por lá. Talvez eu não voltasse mais naquele lugar. Tinha pensado muito sobre isso.

— Oh, você é Mary Baker! — Hana disse apontando para mim como se tivesse descoberto algo. Seus olhos acordaram de repente e ela tornou-se elétrica, completamente diferente de segundos atrás. — Tem uma mensagem aqui para você.

— Uma mensagem? — até estranhei. Ninguém deixava recadinhos para alguém na biblioteca.

— Sim! Um garoto, há mais ou menos uma semana, deixou aqui e me fez prometer que iria entregar.

— Devem ter muitas garotas com meu nome por aqui.

— É você mesma! Do departamento de tecnologia, certo? — concordei com a cabeça. — Ele pegou o livro que você tinha entregado, por isso me fez olhar no sistema quem havia pegado aquele livro... É uma longa história — suspirou. — Enfim, tem uma mensagem aqui para você, só um minuto.

Eu tinha mesmo entregado um livro na semana passada, mas nem era sobre nenhuma das disciplinas. Era o livro Eleanor e Park, o qual eu simplesmente adorava.

— Aqui está — a moça me entregou um papel dobrado. — Eu juro que não li, mas fiquei realmente curiosa. É uma carta de amor?

Nem conhecia algum garoto que quisesse ficar comigo. Senti vontade de dar risada naquele momento, para não chorar, sabe?

Abri o papel e a mulher ficou tentando espiar por cima do balcão que nos separava.

"Mary,

Você pode estar nos seus piores dias, e eu realmente não sei o que você está passando, mas, por favor, não desista de tudo. Lembre-se que a vida é uma montanha-russa, daqui a pouco você vai estar no alto novamente. Tudo bem fracassar de vez em quando.

Quero muito que essa mensagem te faça repensar sobre essa decisão. Você é mais importante do que imagina! Tenha um pouco mais de esperança!

Atenciosamente, Robert"

Foi então que lembrei que tinha esquecido minhas lamúrias dentro do livro. Quando recebi a prova de Álgebra e descobri que tinha ido muito mal, me toquei que nem me esforçando eu iria conseguir sempre. Era difícil bancar a perfeita. Me sentia cansada, eu não me sentia mais feliz onde estava. Escrevi tudo que estava sentindo num papel, mas achei ter jogado fora, pelo visto ficou dentro do livro.

— É de amor? — a mulher continuou curiosa.

— Não — respondi no automático. Aquela mensagem mexeu comigo. Por que um estranho se daria o trabalho de me escrever aquilo? — Quem é Robert?

— Como eu poderia saber? — apresentou uma careta de frustração.

— Você poderia me dizer seu sobrenome? — me debrucei no balcão. — Você disse o meu para ele...

— Hum... — suspirou. — Tá, mas só dessa vez. Que livro ele pegou mesmo? — colocou a mão no queixo tentando pensar.

— Eleanor e Park! — falei tentando apressá-la.

Ela digitou umas coisas no computador. O sistema estava realmente lento naquele dia e Hana ficou sorrindo para mim enquanto esperávamos.

— O nome dele é Robert Parker, do departamento de Letras e Artes. — respondeu me olhando. — Eu me lembro que ele é bem gatinho! — ergueu as sobrancelhas num ato sugestivo.

— Obrigada! — ri. Peguei o livro e saí segurando a mensagem.

Robert poderia ser apenas uma pessoa muito gentil que tentou ajudar uma completa desconhecida, e talvez a gente nunca se encontrasse, mas aquela mensagem me fez sentir um pouco melhor. Acabei rindo enquanto saía da biblioteca pensando que eu devia ter sido muito dramática em minhas palavras, e o universo queria me sacudir para que eu acordasse para a vida. Robert, a meu ver, era um mensageiro. De qualquer forma, ele fez meu dia mais feliz. 

Atenciosamente, RobertOnde histórias criam vida. Descubra agora