Capítulo 4

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Depois que Bash declarou-se para mim, eu em um ímpeto o beijei fazendo a chama da paixão se ascender entre nós as coisas acabaram se complicando e fomos forçados a se afastar um do outro porque quando chegamos do bosque juntos no mesmo cavalo houve algumas especulações e o Rei não gostou de saber de nossa proximidade enquanto meu futuro noivo andava fornicando com uma moça de título qualquer e nenhum futuro deixando assuntos importantes, como eu, a mercê do destino. Ainda que o fato de terem assassinado alguém tão próximo ao castelo causasse alarde a notícia que circulava era que o Rei está apressando meu casamento e isso tem me assustado, afinal começo a duvidar da capacidade de Francis como futuro rei, pois ele é um fracassado irresponsável por natureza e tenho certeza que pode por tudo a perder com esse jeito estúpido que ele tem de levar a vida.

A pior parte foi uma carta que recebi de minha mãe, que é minha regente na Escócia desde que eu me tornei rainha e fui estudar no convento, anunciando o início de uma guerra civil entre os padres católicos e o povo protestante, e esse foi o fim da minha paz. Os protestantes são seguidores de Martinho Lutero e querem acabar com o poderio da igreja sobre a população, pregando que a Bíblia é a alta autoridade para falar de Deus e não a igreja, dizendo que não se pode comprar o perdão através dos títulos que são vendidos pelos bispos, mas que o perdão é dado gratuitamente assim como a moradia no céu. Eu acho o discurso lindo e comovente, mas como uma rainha católica, tenho que defender os interesses católicos, afinal o Papa é o melhor aliado de qualquer Rei e essa é uma questão delicada de mais para ignorar, afinal é visível o crescimento da população protestante e eu não quero ver meus súditos em guerra por algo tão trivial como a fé.

A questão principal do meu problema é que o exército escocês está mutilado depois de tantos combates com a Inglaterra em invasões de território e eu preciso de pelo menos seis comitivas para acalmar a situação e fazer com que o pessoal que inflama essas revoltas fique contido. Eu precisava desesperadamente de ajuda e pensei que como futura rainha da França poderia contar com o apoio bélico que Francis poderia dispor, mas eu não poderia estar mais enganada.

Encontrei-o numa das salas de visita com Olívia, que não desgruda nunca dele o que me deixou mais embaraçada ainda, e pedi que ela se retirasse para tratar do assunto, mas Francis resolveu esfregar na minha cara que pode fazer o quer e mandou que ela permanecesse e supirando pesadamente tentando encontrar um pouco de calma comecei a explicar a situação da Escócia de uma maneira que eu não expusesse todos os problemas internos, mas ainda assim ele me ajudasse. Ele prestou atenção em tudo o que eu dizia e quando eu estava criando esperanças de obter alguma ajuda ele começou a rir de mim e debocharam da fraqueza de meu exército me humilhando totalmente quando beijou a vaca loira na minha frente que se deleitava com a minha desgraça. Eu estava tomada pelo ódio, queria decapitar os dois, mas vou me contentar com a cabeça dela que faz questão de me provocar sempre que pode e garanto que assim que arrumar um álibi ela morre, por enquanto meu problema mais urgente são protestantes querendo invadir meu castelo na Escócia e tomar o poder e só por isso vou ignorar esses dois.

Minha ultima opção era o Rei Henry que me deu duas míseras comitivas quando demonstrei a fraqueza de meu país, ainda por cima mudou rapidamente de ideia quanto ao meu casamento o adiando. Nessas circunstancias não posso me dar ao luxo de perder essa aliança, ou perderei minha coroa para a Inglaterra em pouco tempo, e isso está fora de cogitação.

Eu precisava de uma solução definitiva e sai do castelo a noite para andar pelas redondezas para pensar, estava escuro, mas pude ver claramente um mensageiro saindo sorrateiramente em direção aos estábulos, tomada pela curiosidade, fui atrás para interceptá-lo e consegui chegar à porta antes que partisse ordenando que me desse à carta que quando terminei de ler o conteúdo me fez rir descontroladamente em êxtase.

A carta era de Diane de Poitiers, a amante oficial do rei, direcionada a um bispo que trabalha diretamente com o Papa no Vaticano, uma conversa franca envolvendo dinheiro e a legitimação do meu amado Sebastian. A sorte finalmente sorria para mim, ele e sua mãe planejam usurpar o trono de Francis, afinal se o Papa legitimá-lo como filho mais velho do rei tem direito a coroa quando Henry morrer. Paguei ao mensageiro por seu silencio e mandei que partisse de uma vez ao seu destino e voltei para o castelo a fim de ir até meus aposentos, quando casualmente ouvi cochichos irritados pelas frestas de uma porta e espiei o rei e Bash discutindo sobre outro corpo encontrado no bosque, corpos de protestantes mortos pela sua fé e cada vez mais eles ficavam exaltados e isso seria o suficiente para deixar para lá e seguir meu caminho se não tivesse ouvido a seguinte frase:

— Eu sou protestante pai, vai mandar matar-me também? Degolar-me como um animal porque eu oro diferente do senhor?

Ai meu Deus! Pensei que ele partilhava das ideias catolicistas da mãe para tomar o poder de Francis usando o poderio da igreja, mas as surpresas sobre ele nunca param. Meu coração acelerou palpitando alegremente, pois agora tenho duas soluções para meu problema, em uma delas posso ser feliz.

O trono ilegítimo [TERMINADA]Onde histórias criam vida. Descubra agora