Um

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Seria pior se ele tivesse acabado comigo sem razão nenhuma?

Ou... simplesmente tivesse sumido?

Eu não sei o que consigo suportar, porque hoje faz, exatamente, quatro anos que me deixou, depois de cinco anos juntos. E eu não superei isso. Não sei se consigo superar.

Busquei uma psicóloga e estamos fazendo sessões tem uns meses, tentando buscar como faço pra me encontrar, finalmente.

Ela me mandou escrever, uma vez que contei que costumava escrever, mas parei há um tempo.

Eu não sei dizer direito, mas estou me sentindo incomodado. Tipo meio vivo, meio morto. Receoso ao máximo, vagando e sentindo-me vazio.

Estou sentado no banco do parque que tem perto da minha casa enquanto a brisa corta meu rosto, deixando as lágrimas que escorrem geladas.

Não consigo tomar um jeito. Eu queria que as coisas só tomassem um rumo que me levasse pra melhor situação, sendo que isso tem que vir de mim e eu estou cansado. Eu nunca sei o que pensar ou o que fazer. E eu tenho que ir atrás de tudo, sendo que sou pesado demais mentalmente pra me aguentar.

Apoio minha cabeça nas mãos e fecho os olhos por um segundo e toda aquela cena vem a tona.

Hoseok tinha seus cabelos bagunçados por causa do vento gelado que nos empurrava. Ele olhava pra mim como se fosse o último pedido de desculpas antes de ir embora e eu mal podia acreditar no que estava acontecendo.

Não era possível.

Meu Hobi, meu companheiro, meu noivo tinha me traído com uma mulher.

Essa mulher tinha uma filha e ele era pai dessa criança.

Eles estavam juntos há um ano.

Estávamos vestidos com casacos pesados. Eu tinha o capuz sobre a minha cabeça quase escondendo todo o meu rosto.

Ele disse:

- Sinto muito.

E foi embora, deixando-me ali. Coarando no frio do inverno, sem palavras ou sem conclusões certas.

Ele era meu noivo. Meu.

Tinha me traído tão facilmente depois de todas as coisas que passamos juntos, todas as histórias que tinhamos juntos e quem éramos nós como casal.

Eu não sabia quem eu odiava mais. Eu ou ele.

E... Aquele último olhar sem esperanças que ele me deu como se estivesse se sentindo culpado. Mas essa culpa não foi grande o bastante para fazê-lo ficar, aquele estúpido.

Levanto-me do banco com as mãos no grande bolso do casaco, mutilando-me com o frio correndo pelo meu corpo. 

Queria dar um grande tiro bem no meio da minha cara.

Não podia ser mais irritante o fato de eu ser sempre a pessoa que fica sozinha no fim das contas.

Sendo sincero, reconheço que a culpa foi 100% minha só pelo fato de nunca ter deixado um pé atrás. Mas justifica ou não, ele ter feito isso comigo?

Agora estou rondando atrás de mim mesmo, como um cachorro que corre atrás do seu próprio rabo procurando alguma solução que faça sentido na minha cabeça e que me impeça de me matar.

Saco o maço de cigarros mentolados. Coloco um aceso na boca, experimentando seu ardor e imaginando meus pulmões estúpidos perdendo cada dia mais a credibilidade. Os dias que tinha vontade de contrair um câncer era maior do que tudo.

Quatro anos.

Eu deveria passar por isso, não? Deveria mudar, ser outra pessoa, procurar outro emprego, assim como ele fez comigo, assim como me jogou na caçamba de lixo. 

Mas, simplesmente, não consigo.

Volto para casa arrastando os pés no concreto, onde as folhas dominavam o chão. O inverno está voltando mais uma vez.

Ao entrar no apartamento, bato os sapatos deixando-os dentro da sapateira que tem ao lado da porta. Tiro o casaco, pendurando-o na cadeira, correndo direto para o banheiro a fim de tomar um banho quente.

Mais uma vez sinto a letargia bater em mim quando vou ao closet. 

Não tive coragem de tirar suas roupas daqui. As roupas que ele deixou, os sapatos, as bolsas. Tudo. Ele deixou tudo e não levou absolutamente nada.

Apesar de não ter mais seu cheiro, ainda uso. Gosto de algumas delas. Achei até bom, uma vez que não vou precisar comprar roupa nas próximas décadas, mas lembro-me de cada uma das blusas e calças e conjuntos que usou enquanto estava comigo. Enquanto era meu companheiro.

Eu. Não. Aguento. Mais. Pensar. Nele. Assim.

Quatro anos e eu rebobinando essa merda dessa fita estúpida. Eu não aguento mais.

Ele não se importa comigo e nunca se importou, do que adianta? Do que adianta pensar nele o dia inteiro, guardar todas as suas roupas e pensar em nós como casal que se ama, voltar ao passado. Do que adianta? De que porra adianta essa burrice?

Sento-me no chão tremendo e respirando ofegante.

Se não foi antes, vai ser agora.

Busco a caixa escondida num compartimento do closet, abro e pego a arma destravada com o dedo no gatilho.

Meu estômago parece que vai virar ao avesso, sinto vontade de vomitar.

Minha pressão cai, olho para meus dedos extremamente pálidos. Estou tendo tremiliques fervorosos.

Abro a boca e enfio a arma no céu da boca. Conto até 3, gemendo de agonia.

Ia ter um fim, finalmente. Ia acabar com isso tudo em exatamente três segundos.

Posiciono meu dedo duro e roxo na alavanca que vai decidir se vivo ou não. Minha mão está instável. Eu estou instável.

Decido contar.

Um.

Dois.

Três.

Aperto gatilho.

E nada.

Aperto novamente e nada.

Dou uma risada alta e vomito o resto de nicotina e água que tem no meu estômago ao meu lado, ofegando desesperadamente e perdendo o resto de consciência que eu tenho, ou deveria ter, pelo menos.

                                 #

Acordo todo torto no chão do closet.

A arma está na minha mão. O desespero faz-me jogá-la para longe e me encolher desajeitadamente debaixo de algumas roupas que estão nos cabides.

O cheiro de vômito me faz querer vomitar, mas aparentemente, não tenho nada no estômago para colocar para fora.

Fofo.

Levanto-me lentamente, segurando nas paredes atrás de rodo e desinfetante a fim de limpar a nojeira que tinha no chão.

Agradeço mentalmente a Hoseok por não ter me deixado colocar carpete, mas sim, um piso de madeira clara.

Mais uma vez Hoseok na minha cabeça sem eu desejar.

Dou um soco no meu cocuruto.

Eu preciso me livrar dele, isso não está funcionando para mim, sério.

Eu já vinha conversando sobre essas coisas com minha psicóloga, mas tenho ficado neurótico e doentio. Eu não aguento mais.

E só depois de quatro anos venho perceber que tem sido mau para mim. Tem sido péssimo, horrível.

Limpando o vômito do chão, tento pensar em quais são as melhores maneiras de tentar mudar o que está acontecendo, mas minha cabeça foca em qualquer outra coisa e se deixa levar.

LethargicOnde histórias criam vida. Descubra agora