Três

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Como Park pediu, liguei para o número que ele tinha me dito do fixo. Peguei a chave do carro e fui buscar todas as minhas coisas no apartamento. Aproveitei para montar tudo, já que me senti capaz para fazê-lo.

Já eram oito da noite. As coisas estavam se encaminhando de maneira positiva. Acabei trazendo meus coelhinhos para eles não ficarem sozinhos lá.

Quando estou tirando a TV de dentro da caixa que coloquei, escuto uma batida na porta.

- Entre - falo do lado de dentro.

- Oh! - Diz Jimin quando entra. Talvez por causa dos coelhos ou por causa dos equipamentos. Não sei ao certo.

- Olá - digo olhando, seriamente, para seu rosto.

- Os coelhos... - Se ajoelha para fazer carinho em Billie, mas a bolinha de pelos sai correndo.

- Tem problema? Eu os trouxe porque não queria deixá-los sozinhos em casa. Eles fazem xixi e cocô na gaiolinha, não achei que teria problema. Ou tem?

- Acho que não. Enfim, vim saber como estão as coisas antes de ir embora.

- Está tudo bem. Gostaria de saber se posso ficar aqui sempre que eu quiser, quando não estiver fazendo nada.

- Ah, claro que pode. Só não pagaremos horas extras.

- Tudo bem, não precisa.

- Certo. Algo que queira perguntar? - Diz olhando para mim. Sustento seus olhos escuros nos meus.

- Não. Nada. Obrigado - respondo. Faz uma reverência com um pequeno sorriso nos lábios.

- Ah, tome! - Disse como se tivesse lembrado de algo e veio até mim, tentando desviar de todas as caixas, além dos isopores que tem no chão para não quebrar nada. Entrega na minha mão a chave da van que usei mais cedo. - Pode ficar usando para ir e vir, mas a gasolina é na sua conta.

- Tudo bem - eu disse e ele foi-se.

Respiro fundo diante de tudo o que eu tenho que arrumar e diante de uma noite que promete desmontar minha coluna.

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Estou deitado na cama. Benny e Billie estão enfiadinhos debaixo das cobertas tendo alguns espasmos, enquanto sonham.

E eu? Quebrado.

Quebrado da cabeça aos pés.

Minhas costas doem tanto que parece que não vou conseguir andar mais nunca.

Os raios de luz entram pelas persianas.

Pego o celular jogado em cima da cama que não mexi ontem depois de falar com o cara do tinder.

Destravo a tela. Duas mensagens dele.

"Tudo sim. O que você está fazendo?"

O horário de recebimento era de quatro da tarde.

"Você não é de falar muito, não é?"

Essa era de oito e quarenta e dois da noite.

Fiquei pensando um pouco enquanto meus olhos ainda estavam pesados.

Penso em Hoseok sorrindo.

Sinceramente, se eu quiser superar tudo isso que aconteceu comigo, eu preciso evoluir. Preciso sair dessa. Não estou conseguindo mais me relacionar com ninguém.

Me sinto tão merda que acabo lembrando do fato que dentro da minha rede de relacionamentos, minha melhor amiga é a minha psicóloga.

Dou uma risada fraca. Que patético. O cara cujo a melhor amiga é paga para dar conselhos.

LethargicOnde histórias criam vida. Descubra agora