Dois

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Ligaram para mim de uma companhia de margarina.

Antes de ter o breakdown no closet do apartamento, eu havia mandado meu currículo como produtor e formado na faculdade mais famosa de música do país para várias agências e uma delas foi de uma fornecedora de margarina.

Teria sido ótimo se fosse alguma produtora que houvesse me aceitado, mas foi uma porcaria de companhia de margarina.

E o que tem a ver?

O comercial.

Eu vou fazer o jingle* do comercial estúpido deles.

O pior é que, na posição que estou, não dá para reclamar de muita coisa, sabe?

Nesses quatro anos que se passaram, tenho pulado de emprego em emprego. Parece até freelancer, juro. Fica cansativo não ter um trabalho fixo e esse eu havia escolhido a fim de durar pelo menos um ano.

Como eu sempre juntei dinheiro, nunca passei fome nem nada. Mas, se eu tivesse gastado tudo com besteiras, provavelmente estaria fora desse apartamento em que vivo.

- Então, senhor Min Yoongi - disse uma voz feminina do outro lado da linha. - Essa segunda-feira, mesmo, o senhor pode vir aqui para a agência. Temos uma parte especial para a criação dos nossos jingles. - A moça disse como se fosse algo muito importante. Reviro os olhos, cheio de desgosto.

Não digo nada, esperando que prossiga com suas instruções bestas. Felizmente ou não, tinha consciência de que era um protocolo e era necessário isso tudo e toda essa quantidade de informações. Estava até com um caderninho em meu colo - a fim de anotar as coisas mais importantes - porém já havia desistido diante de tanta baboseira.

- Senhor Min? - A voz dela aparece em minha cabeça depois de um vácuo de pensamentos que corre pela minha mente enquanto fico encarando o caderno no meu colo que nem um babaca.

- Oi, oi. Estou aqui - dou um tapa na minha cara.

- Senhor Min, espero que o senhor entenda como essa fase de instrução é importante. Não é apenas parte do nosso protocolo, mas vai de acordo com regras da empresa, além do alcance dela em relação às pessoas.

Bufo.

- Entendo, claro. Entendo com toda a certeza - tento dar uma fingida na voz sobre o quão "interessado" estou.

- Que bom, senhor! - Parece que o fingimento deu certo. - Então, como eu dizia, é capaz que o senhor trabalhe com artistas famosos que cantarão as suas composições.

"Uau".

- Aham.

- O que o senhor acha?

Essa quantidade exagerada de "senhor" já estava me fazendo querer dar um chute no meio da bunda dela e desligar a ligação.

- Acho ótimo - digo e apenas se escuta o silêncio na linha.

Começo a ficar nervoso.

O que pessoas sociais costumam fazer? Deveria perguntar algo? Elogiar suas instruções? Não... Parece extra demais. Não sei o que dizer. Começo a catar algo dentro da caixa cerebral que seja útil quanto ao gasto de saliva e vocabulário.

- O senhor tem algo a perguntar? - Diz limpa e clara.

Pensa, pensa, pensa, pensa, pensA, penSA, peNSA, pENSA, PENSA.

- Quem vai escolher os artistas para cantarem os jingles que eu precisar compor? - Pergunto quase ofegante, tentando me recompor.

- A empresa, senhor. Mas caso o senhor quiser colocar algum artista em especial em conjunto com o comercial, poderá ser discutido com o dono da empresa e os diretores de filmagem, arte e computação gráfica.

LethargicOnde histórias criam vida. Descubra agora