quatorze

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Eu estava com a cabeça quente, mesmo depois de ter ganhado um banho refrescante. Meu único pensamento era voltar para a'Toca para evitar meus primos e todo o resto dos problemas que vinham com eles. E, sendo assim, eu demorei algum tempo para perceber que estávamos completamente perdidos.

Com o sol queimando nossas cabeças, eu podia justificar como havíamos acabado de passar pela terceira vez pela mesma pedra. Eu apenas não queria dar o braço a torcer e ser novamente motivo de chacota para aquele garoto irritante.

Pelo lado positivo, ele estava quieto.

Continuei em silencio por mais algum tempo, seguindo um caminho que nem mesmo eu conhecia. Meus pés começaram lentamente a queimar e todo aquele calor estava acabando comigo. Mesmo assim, não desisti de prosseguir e teria dado a volta para ver novamente aquela maldita pedra se não fosse por Scorpius.

— Tem certeza que sabe para onde estamos indo?

— Estamos indo para a'Toca. — Resmunguei.

— Eu sei... — Por um momento, ele pareceu hesitar. — Só que passamos pela mesma pedra cinco vezes.

Ainda com aquele péssimo humor, parei minha caminhada para encarar o rapaz com todo o ódio reprimido que tinha naquele momento.

— E como você sabe que é a mesma pedra?

— Porque deixei minhas pantufas em cima dela para secar e... — Scorpius apontou para algo em nossa frente. — Lá estão elas.

Meu orgulho não permitiu admitir a verdade, então apenas fechei a cara e me sentei ao lado da pedra. Não falaria mais nada. Tinha certeza de que não precisava me explicar e, mesmo se tivesse, não o faria.

Scorpius pareceu entender que não era um bom momento, então se sentou ao meu lado e ficou encarando a paisagem levemente amarelada por conta da estação.

— Tem alguma ideia do que fazer agora?

— Esperar a noite cair e minha família vir ao nosso resgate.

Não trocamos mais palavras depois daquele momento. Se havia algo que poderíamos dizer um para o outro, eu não sabia o que poderia ser. Talvez o silencio fosse adequado e precisássemos disso. Assim, ficamos por um bom tempo até que o calor começou a nos incomodar, deixando nossas peles pálidas se transformarem em vermelho.

— Vem para a sombra. — Scorpius me chamou.

Ele havia conseguido um pequeno espaço, próximo a uma árvore onde o sol não seria capaz de nos atingir tão violentamente. O único problema era que o espaço era pequeno demais, causando assim uma aproximação que me causa uma sensação estranha.

— Está com fome? — Pela primeira vez, aquela pergunta parecia gentil.

— Não.

— Eu tenho um sanduiche amassado que peguei da cesta que eles trouxeram para comer no caminho...

Encarei por alguns segundos seus olhos tempestuosos, esperando encontrar alguma brincadeira de mal gosto, mas tudo o que conseguia ver era um rapaz tentando ser bom para sua única companhia do momento.

— Obrigada. — Recusei.

Depois daquele momento, pensei que voltaríamos a ficar em silencio. Scorpius, por outro lado, parecia determinado a quebrar aquele "gelo" com intuito de fazer as horas passarem.

— Tem certeza? — Perguntou, desembrulhando o sanduiche.

Balancei a cabeça e ele abocanhou o sanduiche de forma barulhenta. Eu podia ouvir cada movimento que ele fazia com a boca, o som dos seus gemidos devido o sabor... De certa forma, aquilo abria um buraco no meu estomago. Não me lembrava quando havia sido a última vez que comi algo.

Estendi minha mão para arrancar o sanduiche dele e recebi uma risada em troca. Ele sabia que eu não resistiria muito tempo. Toda impulsividade que eu sentia por comida... Ah, eu mordi aquele lanche e tudo pareceu melhorar. Não me sentia mais tão irritada, nem constrangida por ter me perdido.

— De nada. — Scorpius brincou, quando eu terminei de comer o que ele havia deixado.

— Estava muito bom.

— Espera! — Exclamou, puxando meu rosto. — Está sujo bem aqui...

Eu poderia ter limpado com minhas próprias mãos, mas ele havia sido mais rápido. Seu polegar tocou minha pele de forma gentil e deslizou por ela lentamente. Meu coração acelerou enquanto nossos olhos se cruzavam... Aquele sentimento era completamente novo, intenso e destruidor. Precisava me afastar antes que perdesse meu juízo.

O que diabos haviam sido aquilo?

Dei um passo para trás, desviando meu olhar para o além. Tudo estava completamente errado. Eu precisava enterrar aquele sentimento de alguma forma ou logo estaria nos braços do pior tipo de rapaz que Hogwarts tinha. E, para ser honesta, eu não conseguia definir o que seria pior: ter meu coração partido pelo meu inimigo de infância ou meu pai descobrir que no fundo sua garotinha queria se entregar completamente para o garoto que jurou nunca se aproximar?

Respirei fundo, tentando me controlar e dizendo a mim mesma que não havia sido nada demais. No entanto, não consegui chegar muito longe com meus pensamentos. Scorpius já estava pronto para continuar a investir numa aproximação entre nós dois.

— Eu não esperava que a primeira vez que iria tocar os seus lábios seria tentando te salvar de um afogamento... — Comentou.

Minha boca se abrir para dizer algo sobre aquela situação, porém nenhuma palavra conseguiu escapar. Eu estava travada, refletindo sobre o que ele havia acabado de dizer e repetindo para meu coração que ele havia entendido errado. Certamente o que ele havia acabado de dizer era que ele não esperava tocar meus lábios algum dia.

— Acho que estou apaixonado por você e isso me assusta. — Scorpius continuou, me deixando com um coração descompassado e com uma mente insana tentando achar o que estava errado ali. — Desculpa, esse não era um momento apropriado para dizer esse tipo de coisa...

— O que você quer dizer com isso? — Perguntei, tentando acreditar que esse seria o modo mais fácil de obter a verdade.

— Você era tudo que eu tinha em mente quando as férias começaram. — Tentou explicar. — É estranho. Eu sei quantas sardas tem em seu rosto, como você gosta de torta de abóbora... E quando eu estava no meu quarto, quase conseguia ver você mordendo o lápis enquanto estudava.

— Scorpius, nós...

Eu não sabia exatamente o que dizer. Era informação demais para ser processada. Ele estava realmente se declarando para mim ou zoando com a minha cara?

— Eu sei que somos inimigos. — Respirou fundo. — Não passamos dois segundos sem discutir quem é melhor em alguma coisa, mas... Não é normal alguém que odeia a outra pessoa pensar nela o tempo todo.

— É por isso que está flertando comigo o tempo todo?

— Eu não sei como fazer para dizer que eu quero te beijar.

Assim como meu coração batia fora de ritmo, minha respiração se perdeu. Dentro de mim, uma batalha se travava. Tudo que eu queria era experimentar aquela sensação que ele estava doido para proporcionar, mas havia algo me dizendo que eu não deveria. Ainda assim, tomei coragem. Dominique e Roxanne sempre diziam que era melhor se arrepender do que passar vontade.

— Talvez você não devesse dizer. 

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⏰ Última atualização: Feb 13, 2021 ⏰

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𝐒𝐄𝐏𝐓𝐄𝐌𝐁𝐄𝐑 𝐒𝐎𝐍𝐆 ━━━ scoroseOnde histórias criam vida. Descubra agora