Sombra da minha infância

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●🐿

HOSEOK
23 de Julho Ano 10

   Tudo aconteceu quando contei até quatro. Eu estava contando algumas
frutas, talvez tomates ou melões. Não tenho a certeza. "Quatro". Assim que eu disse, uma visão da minha infância apareceu diante dos meus olhos. Eu estava de mãos dadas com alguém.

   Foi no dia em que fui a um parque de diversões com minha mãe. Eu
estava hipnotizado pelas bandeiras coloridas e fileiras de lojas. As pessoas vestidas como palhaços acenaram para mim, e a música excitante reverberou em cada esquina. Mamãe parou na frente de um carrossel. Os cavalos brancos estavam indo, rodando debaixo das luzes brilhantes. Eu estava prestes a perguntar: "mãe, estamos aqui para montar nisso?" quando alguém me chamou. "Hoseok". Eu olhei para cima.

    Era o meu professor. Os meus colegas estavam todos a olhando confusos pra mim. A visão da minha infância desapareceu. Meu professor me pediu para continuar, e eu comecei a contar novamente. Cinco. Seis. Mamãe apareceu diante de meus olhos novamente. Ela parecia exatamente a mesma de um minuto atrás. Seu rosto estava sombreado já que ela estava em pé na frente da luz, e uma brisa balançou seu cabelo. Minha mãe me entregou uma barra de chocolate. "Hoseok, feche os olhos e não os abra até você contar até
10."

   Sete. Oito. Nove. Eu parei lá. Meu professor fez um gesto sinalizando
para que eu continuasse. Meus colegas me encararam de novo. Abri a boca, mas não saíram palavras. A cara da minha mãe está borrada. Parecia que ela nunca viria me procurar se eu terminasse de contar até dez. Eu caí no chão.

●🐯

TAEHYUNG
29 de Dezembro Ano 10

   Eu tirei meus sapatos, joguei minha bolsa no chão e corri para o quarto.
Papai estava realmente em casa. Eu não tinha tempo para pensar há quanto tempo ele tinha ido embora e de onde ele veio. Eu só me joguei em seus braços. Tudo se tornou borrado a partir desse ponto. Eu não estava em seus braços. Eu senti cheiro de licor em sua respiração primeiro, o ouvi xingando primeiro, ou fui golpeado no meu rosto primeiro. Eu não sabia o que estava acontecendo. Seu hálito de álcool era repulsivo e sua respiração era pesada. Os olhos dele estavam vermelhos. Ele tinha uma barba desleixada. Sua mão enorme bateu na minha cara. "O que você está olhando?" Ele me bateu de novo. O pai agarrou-me pelos ombros e me levantou. Eu estava quase cara a cara com ele. Olhos vermelhos e barba desleixada. Ele não era meu pai. Bem, ele era. Mas ele não era. Os meus pés balançavam no ar. Estava tão assustado que nem conseguia chorar. No momento seguinte, minha cabeça bateu na parede com força e eu caí no chão. Parecia que minha cabeça tinha rachado. Eu mal conseguia enxergar direito. Tudo ficou preto.

●🐥

JIMIN
6 de Abril Ano 11

   Saí pela porta da frente do Arboreto Grass Flower sozinho. O céu estava
nublado e estava um pouco frio. Mas eu estava me sentindo bem. Era dia de piquenique na escola, e como sempre, meus pais estavam ocupados demais
para vir. Isso me deixou pra baixo. Mas eu recebi boas avaliações no concurso de desenho de flores, e as mães dos meus amigos me disseram: "Você é tão maduro e gentil". Eu achava que eu era muito legal.

   "Jimin, espere aqui. Vai ser só um minuto." meu professor disse que depois que o piquenique acabou e nos preparamos para sair do arboreto. Eu não esperei. Eu sabia que poderia encontrar o caminho sozinho. Eu segurei as alças da minha mochila com as duas mãos e dei passos confiantes. Todo mundo parecia estar olhando para mim, então eu mantive meus ombros erguidos. Depois de caminhar por um tempo, começou a chover. Meus colegas de classe e suas mães tinham ido embora e ninguém prestou atenção em mim. Minhas pernas doem. Eu me agachei debaixo de uma árvore. A chuva começou a cair mais e mais pesadamente. Eu estiquei meu pescoço para verificar se alguém estava vindo de ambos os lados, mas ninguém estava por perto.

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