Cama de Rosas - Parte II

264 7 2
                                    

Obrigada por acompanhar esta história. É recomendado ler escutando as músicas ao longo do texto. 

 Eu sempre tive uma impressão muito clara ao olhar Jon: Que nos conhecíamos há muito tempo, de outras vidas, épocas, passados... Nos compreendíamos apenas com o olhar, muitas vezes, de longe, parávamos e nos olhávamos, sem dizer apenas uma palavra, apenas cruzávamos os olhares e assim nos comunicávamos muitas vezes... Depois que me apaixonei por ele, não demorou muito pra que meu coração, meus sentidos, minha pele, meu espírito o sentisse todas as horas, todos os dias e noites, de lua cheia ou lua nova. Era fascinante, inclusive o domínio que o olhar cristalino dele tinha sobre o meu, onde quer que ele estivesse, se pousasse os olhos em mim, eu sentia e o buscava...   

  Lá estava ele! Éramos realmente como um só, nossa ligação era tanta que pela marcha de seu cavalo eu podia saber como estava seu humor.


  Estava quase tudo pronto para o meu casamento. Já cheguei a pensar um dia em minha vida que isso jamais aconteceria comigo. Meu vestido era feito de renda espanhola branca com um tecido bastante delicado por baixo, diferente dos vestidos tradicionais ciganos que eram sempre muito parecidos. Eu quis me casar como as mulheres da Espanha, que se casavam de branco, num vestido mais justo no corpo e uma saia esplendorosa. Eu estava me casando com o homem que eu amava, esperando o nosso filho, fruto de um amor perfeito, eu me sentia imaculada, iria me casar forma que quebraria a tradição do meu clã, da minha família e de todas as minhas antepassadas. Isso não foi problema, eu já havia me casado de fato, os laços de sangue já haviam sido feitos e o casamento já havia sido consumado, a festa era também pra fazer a alegria de meu pai. Jon e eu já estávamos radiantes, apesar de ainda não termos nossa própria carroça, já não precisávamos mais fingir que éramos apenas amigos, estávamos "noivos". Todos os dias, quando Jon ia dormir, minha mãe, eu e Yanka bordávamos as pedrarias em meu vestido, eu só queria que ele visse quando estivesse pronto! 

  Passaram-se duas semanas e chegou o grande dia, abri a porta da minha carroça e lá estava uma rosa amarela, corri e já pus nos cabelos. Incrivelmente naquele dia não acordei com os inchaços já rotineiros da minha gestação de cinco meses, não tinha muita barriga, mas já era considerável.

-Bom dia, meu cigano lindo!

Jon me abraçou de leve e me tirou do chão, me dando um beijo.

-Bom dia!!

-O que você está fazendo?

-Indo buscar água pra sua mãe, ela me pediu pra poder começar a assar as carnes.

-Vou com você!

-Não, pode ficar aí sentadinha que eu já volto... É muito longe!

-Ei, eu estou grávida e não doente!

-Não quero que você se esforce, hoje vai ser um dia agitado!

-Eu vou andando devagar...

-Então vamos!

Fomos nós três, Jon, eu e Dulce, uma cadelinha que nós adotamos, que estava perdida e faminta na estrada. 

Na volta, Dulce tentava caçar as borboletas que via entre as flores que eu colhia e Jon carregava dois baldes de água.

-Não gosto disso!

-Do que, Luara?

-De não poder carregar um desses baldes pesados pra te ajudar!

Cama de RosasOnde histórias criam vida. Descubra agora