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prólogo

Tudo parecia calmo, o que era completamente estranho numa noite de sábado. Geralmente, as pessoas chegavam a emergência tão bêbadas carregadas pelos amigos ou então após terem batido o carro numa rua qualquer após beberem mais do que deveriam. Mas hoje não, incrivelmente eu não tive muito a fazer, apenas uma sutura em um pequeno garotinho que havia cortado o joelho brincando com sua bicicleta.

“Eu adoro isso, sabia?” Sabina dizia enquanto se sentava a minha frente na cafeteira do hospital em que ambas trabalhávamos.

“O que? Esse café amargo?” Olhei para ela brevemente voltando a atenção ao meu celular.

“Também adoro isso. Mas eu amo mais não ter absolutamente nada para fazer.”

Sabina sorriu ao fim da frase me fazendo perceber o quanto seu sorriso era radiante. Ela parecia que havia acabado de sair de uma revista de moda. Me perguntava como ela parecia tão linda sem precisar sequer passar maquiagem, enquanto eu nem com a mesma tinha um rosto mais aceitável.

“Eu odeio. Preciso ver sangue, ossos fora do lugar, tanto faz, mas preciso fazer alguma coisa.”

“Você não sabe aproveitar os momentos mesmo, não é?!” ela fala revirando os olhos. “Mas se quer tanto fazer algo, por que não vai flertar com aquele enfermeiro bonitinho que ficou dando em cima de você a semana inteira?”

A Sabina é uma das minhas melhores amigas, o que significa que ela pensa que pode bancar a casamenteira sempre que algum cara se interessa por mim. Tudo para me fazer esquecer a minha última decepção amorosa.

“O Kit? Claro que não, ele só é gentil comigo.”

“Claro que é, isso se chama dar em cima, caso você se esqueceu.” Diz fazendo movimentos estranhos com as mãos.

“Você não tem algum paciente pra checar?!”

Ela gargalhou e entendeu que aquele não era um assunto que eu iria falar sobre, por fim foi atrás de mais café. Assim que levantei para fazer o mesmo, uma enfermeira entrou na cantina procurando alguém até que seu olhar parou em mim.

“Doutora, a senhora está sendo solicitada na emergência, urgentemente.”

Deixei o celular em cima da mesa, sem me preocupar pois sabia que Sabina guardaria para mim. Assim que cheguei na emergência tudo parecia calmo, o que me fez deduzir que o paciente ainda estaria chegando, então coloquei as luvas  e fui até a área destinada às ambulâncias.

“Qual é o caso?” Perguntei para Lamar, outro médico que já se encontrava ali.

“Ao que parece um acidente de carro. O motorista está em estado estável, já o passageiro possui múltiplas fraturas pelo corpo, com suspeita de lesão cerebral.”

Suspiro, tendo em mente o que preciso fazer assim que ambos chegarem. Lamar já espera na porta da ambulância assim que ela estaciona, e conversa com a paramédica que começa a lhe fornecer as informações necessárias.

O homem é colocado para fora, estabilizado na maca. Chego perto pronta para levá-lo a sala de primeiros socorros, mas assim que coloco a mão no apoiador de sua maca, sinto ele apertar meus dedos.

“M-meu pai.” Ele fala com dificuldade.

O rosto dele estava completamente machucado, mas ainda sim havia algo que especial que eu não conseguia explicar.

“Não se preocupe com isso agora, tudo bem? Você lembra seu nome?”

“Josh.” a sua respiração ficava cada vez mais lenta.

“Nós vamos cuidar de você Josh, apenas se mantenha forte, ok?”

Alguns enfermeiros vieram nos auxiliar nos primeiros cuidados. Lamar entubava Josh enquanto eu checava seus batimentos cardíacos.

“Estão caindo, aumente a medicação.”

Josh piscava os olhos diversas vezes rapidamente, e sua respiração foi ficando cada vez pior. Eu sabia o que estava por vir.

“A m-minha noiva... Ela precisa saber...”

Ele não conseguiu terminar a frase. Seu coração havia parado.