Capítulo 5

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Acordei como diz o ditado: com uma fome de leão. Quando fui até a cozinha verificar o que tinha para o café, me deparei com Lindsay preparando algo ao pé do fogão.

— Bom dia — falei ao entrar na cozinha. — Onde estão seus pais?

— Bom dia, Amtullah — respondeu, virando-se em minha direção. — Meu pai já saiu para o trabalho e minha mãe disse que tinha que fazer umas compras e resolver outras pendências.

— Bom, neste caso seremos só nós duas essa manhã... O que você está fazendo?

— Minhas incríveis tapiocas — disse sorrindo com satisfação. — São as melhores da casa.

— O nome é interessante. Espero que o gosto também.

— Pode acreditar que sim — completou, levando um prato com as tais tapiocas até a mesa. — Essa receita faz parte da nossa cultura, sabia? Representa principalmente as regiões Norte e Nordeste. Está na base da alimentação brasileira desde antes da colonização.

— Nada melhor que uma dose de conhecimento pela manhã, não é mesmo?

Um pouco depois, enquanto arrumávamos a casa, ouvi quando Lindsay atendeu seu celular no primeiro toque.

Oii... Pode ser. Duas horas?... Combinado.

Quis perguntar quem era — já que ela pareceu se animar ainda mais ao atender àquela chamada — porém preferi não bancar a enxerida.

Depois de encerrar nossos afazeres nos sentamos no sofá e Lindsay ligou a Tv em um canal qualquer.

— Foi o Bruno quem me ligou agora há pouco.

— E o que ele disse?

— Disse que vai à casa do Mick hoje, e nos convidou para irmos também. Você vai?

— Claro. Porque não? — Não sei bem porquê, mas aquela proposta me pareceu irresistível. Talvez porque estivéssemos falando do garoto mais lindo que já havia visto. Tentei não pensar nisso. "Eu não sou do tipo que foca em aparência física. Definitivamente, não". Disse comigo mesma.

— Ótimo. Combinamos de ir às duas da tarde.

— Okay. A casa dele fica muito longe daqui?

Lindsay fez uma cara de surpresa, ao mesmo tempo em que dava risadas da minha pergunta.

— Eu não te falei? Ele é nosso vizinho. Mora aqui do lado.

— Sério?! — dessa vez fui eu quem ficou com cara de surpresa — Como não soube disso antes?

— Bom, ele passa a maior parte de seu tempo livre em casa e, desde sexta-feira, quando você chegou, nós só saímos no sábado à noite.

— É. Faz sentido.

Ela nem esperou que falasse mais alguma coisa. Quando dei por mim já estava sendo arrastada até meu quarto.

— Por que estamos aqui? — Perguntei realmente sem saber o que estava havendo.

— Um segredo — enquanto ria de suas próprias palavras, ela caminhou até a parede oposta à porta do cômodo. — Está vendo essa janela? — Balancei a cabeça positivamente, ainda sem entender — É onde o Mick aparece duas vezes ao ano para nosso clubinho secreto.

 Sério? Você está brincando comigo, não é?

— Não é brincadeira. Vou explicar melhor... Parece ser coisa de criança, e, de certa forma, é mesmo. Tudo começou há mais ou menos sete anos atrás, quando Mick se mudou para nosso bairro. Tínhamos uns nove anos. Não demorou para nos tornarmos amigos. Ele era o novato, a novidade do colégio. Também não demorou para se enturmar e se tornar um dos mais populares, coisa que mudou um pouco quando surgiu o Bruno, e nos tornamos o trio inseparável. Por alguma razão, que até hoje não entendo muito bem, ele preferiu fazer parte de um trio ao invés de todos os grupos da escola que faziam questão de tê-lo por perto. Mas isso não vem ao caso. Em janeiro do ano seguinte, já éramos melhores amigos e íamos fazer o quinto ano juntos. Em um certo dia, em que brincávamos em frente à minha casa, não sei como, mas essa ideia surgiu...

Laços Divergentes (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora