Capítulo 2

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Capítulo 2

- Fernando, acorda! Ela está te vendo!

Debruçado sobre o caderno, quase babando, Fernando levanta a cabeça com olhos semicerrados, olha para os lados e vê seu amigo te cutucando.

- Dormindo de novo, doutor!

É comum no curso de Direito os professores chamarem os alunos de "doutor", talvez seja uma forma irônica ou quem sabe eles desejam ser chamados desta forma pelos discentes, vez que estão tão acostumados com este tratamento em sua vida profissional que ele poderia se prolongar para a sala de aula também. Aliás, diga-se de passagem, dificilmente um professor do curso de Direito é tão somente professor. Em sua grande maioria são advogados, juízes, promotores que fazem um "bico" ou massageiam o ego sendo professores universitários.

O que é engraçado deste título de "doutor" é que ele não segue uma norma rígida. Na academia, para ser chamado de doutor, é preciso ter feito doutorado, já o advogado o tem graças a um título honorífico adquirido no segundo reinado. Porém, é bem verdade que não é preciso ser advogado ou ter doutorado para ser doutor no Brasil, basta ter dinheiro ou uma posição social maior que a do interlocutor. Definitivamente, Fernando não gostava de ser chamado daquela forma e aceitou com desprezo a forma com que foi chamado.

- Desculpe, professora, tive que passar a noite em claro para estudar para a prova que tivemos hoje.

- Virando noite... Então é bom você recuperar o seu sono, pois é bom que você e toda a turma saibam que na quarta teremos a nossa prova.

- Daqui a dois dias!

Indignada, a turma protesta, mas nada que fizesse a irredutível professora modificar a data da prova. Para acabar de vez com a discussão ela pegou um livro de Teoria Geral do Processo e voltou a dar a aula.

- Cara, dois dias! Pedro, eu vou me dar mal nessa prova! Eu não estudei nada! - diz Fernando para o seu amigo.

- Você já pegou o livro na biblioteca?

- Não. E você?

- Eu já. E vou te dizer, tinham poucos. É melhor você correr para pegar logo o seu.

- Eu vou fazer isso é agora!

Fernando jogou o caderno na mochila, pegou sua caneta que estava no chão e colocou no bolso. Ainda sentado na cadeira, esperou a professora parar de olhar em sua direção para deixar a sala. Uma vez do lado de fora ele se encontrava no Pavilhão de Aulas Teóricas, mais conhecido como PAT. Passou por um corredor longo e viu diversas salas de aula. Cada uma era ocupada por um semestre distinto, quanto mais avançado era o semestre menos alunos se viam nas salas de aula. Em uma sala foi possível ver os alunos jogando dominó e falando alto, pois estavam sem professor para a disciplina. Na passagem ele até cumprimentou alguns conhecidos.

Ao atravessar algumas salas ele virou à esquerda e pegou outro corredor este, mais aberto, dava acesso aos MTs, MPs, o colegiado de Direito e a via principal de acesso da Universidade. Nas laterais ele podia ver, do lado esquerdo, o módulo 03 e, do lado direito, o módulo 05. A universidade era constituída de sete módulos, todos distribuídos de forma sequencial pelo campus.

Na metade do caminho para ganhar acesso à via principal da universidade Fernando parou com alguém chamando o seu nome. Era Pedro.

- Eu também vou para a biblioteca.

- E a aula?

- Estava um saco. Ganho mais estudando em casa.

Atravessaram o módulo quatro e ganharam acesso à via principal, por ela passam carros de professores, alunos, funcionários e o transporte urbano que tem a universidade como o seu final de linha. No caminho era possível ver a beleza noturna do campus. Vários postes de luz margeavam as vias de acesso, iluminando as incontáveis árvores que não só embelezavam, mas também serviam para aliviar o forte sol do sertão baiano que castigava o campus durante o dia. Muitas plantas e gramíneas era possível enxergar por toda área externa. Mais à direita eles tomaram o caminho da Biblioteca Central Julieta Carteado, à esquerda era possível ver o imponente e belo prédio da reitoria.

Sangue entre os dedosWhere stories live. Discover now