Capítulo 3
Ainda no chão frio da biblioteca, Fernando abriu os olhos e viu tudo escuro. As luzes pareciam estar apagadas, mas em verdade elas estavam falhando, como se tivessem com mau contato. Outras lâmpadas fluorescentes tentavam insistentemente ficar acesas, porém o máximo que conseguiam era uma luz quase que inexistente. Ele se virou de lado e sentou.
- O que houve? Por que está tudo escuro... Não acredito que me trancaram aqui...
Ele se levantou bruscamente e saiu do setor de literatura. Aparentemente não tinha mais ninguém na biblioteca. Olhou ao redor e viu apenas as luzes de emergência acesas. Nunca tinha sido trancado na biblioteca, logo, não sabia se era normal aquilo. De repente ele se lembrou do corte e olhou para o dedo, no escuro só pode perceber que o sangue tinha secado. Pegou o celular para iluminar e viu que não tinha mais mancha escura alguma. Era um ferimento normal. Para a sua surpresa viu que já era uma hora da manhã.
Ainda usando o celular como lanterna ele voltou para o setor de literatura. Passou o celular pelo local onde estava deitado, olhou o chão, embaixo da prateleira, a própria prateleira e nada. O livro havia sumido. Com o campo de visão sensivelmente reduzido, vez que se limitava ao facho de luz do celular e algumas zonas clareadas pelas lâmpadas de emergência, o jovem tentou mais uma vez procurar o livro, porém sem sucesso.
Depois de gastar algum tempo tentando achar o livro ele se deu conta da esdrúxula situação em que estava. Ora, ele havia sido esquecido dentro da biblioteca e estava preocupado em achar um livro que nem era o livro que deveria encontrar.
- Bobagem, eu preciso é sair daqui!
Por sorte o celular dele era daqueles que vinha com uma lanterna na parte superior. Nesta hora lembrou-se de seus amigos o zombando por ter um celular antigo. Ele riu sozinho e agradeceu a Deus pelo celular ultrapassado que tinha. Devagar, ele saiu do setor de literatura. Tudo estava silencioso ao ponto dele ouvir o som do seu tênis batendo no chão da biblioteca. Vez e outra ele estacava e lançava o facho de luz da lanterna para as laterais. As sombras das estantes pareciam ser pessoas esgueirando por entre os livros. Sua respiração ficou pesada. Ao terminar de percorrer a fileira ele se virou para a esquerda e atravessou a porta que separava o acervo do resto da biblioteca. Ao chegar lá se sentiu petrificado.
O balcão de empréstimo dos livros estava revirado, os computadores de pesquisa estavam por toda a parte. Mesas de estudo que só era possível encontrar no mezanino estavam de cabeça para baixo no hall de entrada... Por instinto, o jovem levou a mão à frente do facho de luz e tapou a lanterna. Escuridão...
Ele se aproximou da parede à sua esquerda caminhou lentamente em direção à porta de entrada. Os vidros estavam quebrados e os detectores dos livros tinham sido arrancados. Quando ele chegou próximo aos computadores um som metálico ecoou pela biblioteca. Seu coração acelerou e ele puxou ar com a boca. Era como se alguém tivesse batido um objeto metálico num cano também de metal. O som vinha da sua direita. Parecia ser dos banheiros que vinham logo após o setor dos livros da área de saúde.
De repente outra batida ecoa pelo local. Foi o suficiente para ele acordar do transe e sair correndo da biblioteca. Uma vez do lado de fora a primeira coisa que fez foi desligar a lanterna do celular. Seja lá o que tivesse acontecendo, ele não queria que fosse identificado à distância. O jovem se afastou da porta da biblioteca e olhou ao redor. Tudo estava escuro. As luzes dos módulos estavam apagadas, apenas um poste e outro iluminavam de forma tímida o campus. Um vento frio e rasante assobiou por entre as árvores, fazendo-as farfalhar como num sinal de que algo ruim estava por vir.
Sem dilação, Fernando tomou um caminho à sua direita em direção à reitoria. Dois caminhos eram possíveis, um passava pela frente e outro por trás da reitoria. Ele optou passar pelo primeiro caminho. De punhos cerrados, ele atravessou um caminho de terra e pegou o caminho calçado que levava para o passeio de granito da reitoria. Ao chegar mais perto, percebeu que a frente do prédio, que era toda de vidro, também tinha cedido. Vários pedaços de vidro se espalhavam pelo local. Neste momento, ao olhar a profundidade obscura da reitoria, ele se arrependeu de ter tomado este caminho. Olhou para trás como quem sente a presença de alguém. Não viu nada. Sem esperar para ver o que seria, ele correu para se afastar o mais rápido possível de lá.
Ao fazer o contorno pela direita, ele viu a luz da garagem dos ônibus acessa e ouviu ao longe um barulho de TV ligada. De algum modo aquela cena lhe trouxe certa tranqüilidade. Aquela era a cena que via todas as noites ao voltar para casa. Tomou uma reta e dela viu o portão lateral da universidade fechado. Sabia que teria que pular o muro. Nada demais para o que já tinha passado. Quando chegou perto do portão lembrou que poderia pedir ao vigia da guarita para abrir o portão, o que evitaria ter que se passar por um ladrão. Ainda mais numa hora daquelas. No máximo, o vigia poderia achar que ele era um daqueles estudantes que ficam se drogando pelo campus.
Ele bateu na porta da guarita e esta se abriu só com o leve toque da mão.
- Olá! Alguém?
Ninguém respondeu. Ele entrou. No interior da guarita tinha uma mesa com alguns papeis espalhados, um rádio de pilha ligado e uma garrafa de café. No chão estava o vigia desacordado. Ele parecia estar ferido no braço.
- Você está be...
Antes que pudesse terminar a frase o vigia agarrou o seu braço e ameaçou morder, mas só não conseguiu porque ao tentar morder o seu pé ficou preso na mesa. Fernando tropeçou e caiu perto da porta.
- O que é isso!? Você está louco!?
Sem esperar resposta ou qualquer explicação para o ocorrido Fernando sai da guarita e corre para o portão lateral. Ele bota o pé no trinco da fechadura e tenta subir, mas escorrega com a afobação. Seu dedo ferido dói. De repente surge o vigia bem na sua frente...
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Sangue entre os dedos
HorrorOlá, Bem-vindos! O livro está concluído e eu queria agradecer a todos que votaram, comentaram e de algum modo ajudaram na lapidação desta obra. Vou deixar aqui alguns capítulos para degustação. Caso goste você pode adquiri-lo na Amazon ou no s...