Incrível infância e suas cicatrizes

12 2 0
                                    

Bem, vou contar um pouco da minha "incrível" história, começando pela minha infância. Se você é órfão desde a sua infância então te parabenizo por ainda estar vivo, porque tem duas coisas, dentre várias outras, que podem te matar. Primeiro é a fome, a outra são seus "vizinhos". Estou aqui desde os meus 4 anos, os ricos chamam de primavera, então já deu para perceber que sou da nobreza né?

Sobrevivi nas ruas de uma cidade grande, bela e cheia de magia. Você deve achar isso incrível, poder ver um elfo todo dia, fadas, canções... Pois é, grande ilusão. Não é porque eu faço parte de um conto de fadas que não conheci o lado cruel desse mundo, mas estou vivo e sorrindo. Anos mais tarde entrei em algo que vocês conhecem como orfanato, legal até, eu diria, você já deve estar pensando, "sofreu bullying", "era abusado" e adivinha, sim você acer... errou de novo. Na verdade se ainda lembra do título saberá que não era bem assim, ninguém me novata, olha que almoçava bem no centro da sala. Eu ligava? Claro que não, nem percebia que estava só.

Todas as manhãs o som do sino da capela soava alto. Antes que esqueça de avisar, o orfanato ficava ao lado de uma capela.

  - Vamos, se não iremos nos atrasar.
  - Sim eu sei, so estou amarrando minhas sandálias.
  - Ei vocês dois depressa, se as irmãs nos verem aqui vamos ter problemas.

Em cada quarto do orfanato tinha duas beliches, eu ficava em cima, embaixo ficava um meio-elfo de cabelos cacheados e olhos azuis. Na outra beliche ficavam dois garotos que, durante dois anos eu não fazia ideia que eles dormiam no mesmo quarto que eu. Eles sempre saiam cedo e correndo, acho que faziam parte da galera da igreja. Eu sempre ficava dentro do quarto, aproveitava o detalhe de ser invisível ao máximo, daí quando a irmã abria a porta do quarto para ver se ainda havia alguém, eu passava rapidamente pelas costas dela sem que ela percebe-se.

Sempre traçava o mesmo percurso, banheiro, cozinha e floresta. Quando chegava ao banheiro fazia o que era necessário e ia furtivamente para a cozinha. Adorava brincar de ninja, cobria meu rosto e fingia ter uma espada. Eu enchia uma sacolinha com frutas e fugia para a floresta, que não era nada perto do orfanato. Tinha momentos que eu pensava que não sabia falar, até chegar na floresta.

No caminho, pulando de telhado em telhado via coisas engraçadas, vendedores sendo roubados por crianças, homens bêbados falando alto, e alguns cachorros com inveja de mim latiam e me seguiam. Claro que não ia perder tempo com eles, apenas latia de volta e continuava meu caminho. Chegando na floresta era bem legal e foi la onde aprendi alguns truques com meus amigos sprytes, mas tinha um em especial que eu adorava brincar, o Sprin. Ele tinha 30 cm, era bem branquinho e tinha olhos negros, seu rosto se assemelha-va a de um humano normal, porém ele era uma fada. Passávamos o dia brincando, por não ser humano e nem elfo eles não tinham medo de mim. Eu nunca os achava, apenas ficava vagando até ser encontrado por um guarda rondando pelas redondezas e pedia informações e permissão para prosseguir, e nesse dia encontrei o simpático guarda Kiih.

  - Ah, é você Haru.
  - Sim guarda Kiih.
  - Sprin veio agora a pouco me perguntar se você já havia chegado, se correr acho que conseguirá acompanha-lo.
  - Obrigado, bom dia.

Sim meu nome é Haru, e não, eu não sabia falar a língua das fadas, mas estava aprendendo. Sempre brincávamos perto do lago Yuroin, e não ouse esquecer o nome desse lago, sabe o por que?

  - Haru! -Sprin vem em minha direção super animado e ofegante-.
  - Finalmente te achei.
  - Pensei que não vinha hoje.
  - Nem pensar, so me atrasei dois minutos.
  - Vamos indo então?
  - O que chegar por último vai pescar!

E la vamos nós, correndo no meio da floresta, na verdade somente eu estava correndo, ele era uma fada, então obviamente estava correndo também... Ta bom, estava voando, era so pra ver se estava prestando atenção. Claramente perdi a corrida, um pássaro é mais rápido que um lobo sabe, ou é porque sou preguiçoso, eu sei lá. Tive que pescar enquanto ele ajeitava a fogueira, mas como ele era pequeno demais tive que ajudá-lo a pegar madeira, melhor do que pegar graveto em graveto, e quase todo dia isso se repetia.

a vida nas sombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora